sábado, 9 de abril de 2022

O TERRITÓRIO e +

Antonio Carlos Egypto

 

 

O Território, filme de encerramento do festival É TUDO VERDADE 2022 é uma produção Brasil, Dinamarca, Estados Unidos, dirigido pelo norte-americano Alex Pritz.  Se passa em Rondônia, junto aos indígenas Uru-eu-wau-wau que, ao longo das décadas passadas, foram vendo o seu território minguar, até o momento atual, em que o espaço de floresta que ainda lhes cabe parece ser o mínimo para a própria sobrevivência.  No entanto, um grupo de agricultores, grileiros, se apodera de uma área protegida dessa floresta, sem encontrar fiscalização ou controle dos órgãos do governo federal responsáveis por isso.  Pior, no governo Bolsonaro eles se sentem vencedores, confiando na impunidade, mesmo sabendo que estão agindo abertamente contra a lei.  Confiam que a própria lei e sua prática estão sendo mudadas, para favorecê-los, protegê-los.  O documentário de Alex Pritz convive tanto com os indígenas quanto com os posseiros e fazendeiros.  Percebe o apego, respeito e proteção à floresta, que embalam a população originária indígena dessa região de Rondônia.  No convívio com os invasores, encontra uma relação violenta com a terra, além do negacionismo quanto à própria existência dos índios ali.  A violência se materializa de forma muito concreta na morte de um jovem líder indígena que ostentava o título de “protetor da floresta”.  Suprema ironia.  E quem teria de proteger a floresta não se empenha em investigar mais essa morte anunciada, pelo conflito de interesses aí envolvidos e pela diferença de poderes que os distingue.  Sem sentir que possam contar com o apoio oficial, os indígenas encontram apoio em militantes ambientais e vão descobrindo os seus próprios caminhos.  Com o auxílio de drones, celulares, filmagens, eles encontram meios de produzir provas, denunciar e se defender por conta própria, tentando expulsar os invasores, destruindo ou queimando cabanas que eles erguem em meio à terra indígena.  É dramático o que O TERRITÓRIO mostra.  Não que já não tenha sido relatado pelo jornalismo investigativo dos órgãos sérios da mídia, da imprensa, televisiva ou pela Internet.  Só que o convívio concreto, e de perto, com os dois grupos traz uma emoção que ultrapassa em muito o noticiário sobre o tema.  A imersão nessa realidade causa tanto desconforto que os números do desmatamento recorde da Amazônia dos últimos anos até perdem parte da sua força.  E, olha, que esses números são assustadores.  83 min.

 

Gostaria de mencionar também o filme brasileiro QUEM TEM MEDO?, dirigido por Ricardo Alves Júnior, Dellani Lima e Henrique Zanini.  Este é um documentário que comprova que a censura está de volta ao Brasil, no governo Bolsonaro.  Para isso traz à cena os artistas concretos que sofreram censura real da parte desse governo, além das tradicionais ameaças e provocações de seus apoiadores.  A Constituição cidadã de 1988 aboliu por completo qualquer forma de censura às artes e à liberdade de expressão no país.  No entanto, quem diz que defende essa mesma liberdade e a Constituição age de forma totalmente oposta a isso.  Instituindo a censura e o ódio, ao mesmo tempo em que combate, na forma de um moralismo hipócrita, a expressão cultural brasileira.  É importante mostrar quem são e o que fazem esses artistas que sofreram esse tipo de contestação e perseguições.80 min.




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário