domingo, 2 de janeiro de 2022

O FESTIVAL DO AMOR

Antonio Carlos Egypto

 


 

O FESTIVAL DO AMOR (Rifkin’s Festival).  Estados Unidos/Espanha, 2020.  Direção e roteiro: Woody Allen.  Elenco:  Wallace Shawn, Gina Gershon, Louis Garrel, Elena Anaya, Christoph Waltz, Sergi López.  92 min.

 

 

Para abrir o ano cinematográfico de 2002, entra em cartaz nos cinemas “O Festival do Amor”, uma comédia romântica.  Mais uma?  Se isso não o entusiasma, lembre-se apenas de que o diretor e roteirista dessa comédia é Woody Allen.  E dele não se esperam coisas óbvias ou batidas.  Nem sempre são produtos geniais, ninguém é genial o tempo todo, mas não faltam inovação e inteligência no seu trabalho.

 

Em “O Festival do Amor”, a trama que envolve Mort Rifkin (Wallace Shawn), escritor, crítico e professor de cinema clássico, sua mulher Sue (Gina Gershon), jornalista e assessora de imprensa, o cineasta Philippe (Louis Garrel) e a médica dra. Rojas (Elena Anaya), tem os elementos habituais do gênero: ciúme, competição, decepções, brigas, traições.  Só que tudo isso transpirando cinema por todos os poros.

 

Para começar, porque toda a ação se passa durante o prestigioso Festival de San Sebastian, na Espanha.  Lá se apresentam, se projetam e se discutem os filmes.  Os egos se manifestam fortemente, as vaidades, a moda, a busca do sucesso tanto artístico quanto econômico.  Tudo isso está contemplado na narrativa.

 

Os fatos, que estão sendo vividos pelos personagens, na realidade, na imaginação ou no sonho, estão expressos em “recriações” de cenas famosas de filmes essenciais para a história do cinema.  Assim, Woody Allen insere “O Cidadão Kane”, de Orson Welles, o “8 ½”, de Fellini, “Jules e Jim”, de Truffaut, “Persona” e “O Sétimo Selo”, de Bergman, “O Anjo Exterminador”, de Buñuel, e “O Acossado”, de Godard.  Uma festa para os cinéfilos.  E ele, claro, constrói essas refacções em preto e branco, dentro de seu filme colorido.  Permito-me lembrar-lhes de que devemos em grande parte a Woody Allen o sucesso da empreitada de combater e abolir a infeliz ideia, que ganhava força, de colorizar os filmes clássicos.  Alguns foram feitos e o resultado é lamentável.  Mais um ponto a favor de Allen na história do cinema, além de seus filmes.

 


O “O Festival do Amor” é também uma bela homenagem à cidade de San Sebastian.  Woody Allen tem se dedicado a criar suas tramas em algumas das mais bonitas cidades do mundo.  E, segundo ele, San Sebastian é uma delas.  A julgar pela fotografia e pelos lugares destacados no filme, deve ser mesmo.  O filme estimula a conhecer San Sebastian e o seu importante festival.  Como é óbvio, “O Festival do Amor” estreou no Festival de San Sebastian.

 

O novo filme de Allen é, portanto, muito atraente para quem curte ou trabalha com cinema, para quem gosta de ver a beleza das cidades e para quem gosta de uma pegada romântica. 

 

O trabalho dos atores e atrizes do filme é de primeira.  Os protagonistas estão muito bem, esbanjando talento e envolvimento com a história.  Os coadjuvantes não ficam atrás, deixando sua marca, como a morte (Christoph Waltz) na encenação de “O Sétimo Selo”, por exemplo.  É um filme leve, simpático, bem construído. Mostra que Woody Allen continua sendo uma referência, em matéria de cinema.

  

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