sábado, 25 de dezembro de 2021

UNDINE

Antonio Carlos Egypto

 

 



UNDINE (Undine), Alemanha, 2020.  Direção e roteiro: Christian Petzold.  Elenco: Paula Beer, Franz Rogowski, Maryam Zaree, Jacob Matschenz.  90 min.

 

Undine é uma mulher que trabalha como historiadora, na cidade de Berlim.  Faz encontros e palestras sobre o desenvolvimento urbano da cidade ao longo da história e nos tempos mais recentes com a integração, pós queda do muro, da Berlim Ocidental e Oriental.  Por meio de maquetes, ela explica aos estudiosos e visitantes de várias partes do mundo todo o processo, com didatismo de professora.

 

Ocorre que Undine é também um ser da água e isso fica muito claro no seu relacionamento com um escafandrista com quem ela tem uma relação amorosa muito forte.  Que flerta com a morte.  Obviamente, na água. Tanto ela quanto ele passam por situações-limite de sobrevivência.  Os sonhos exercem papel decisivo nessa questão.  Um boneco escafandrista representa visualmente esse mundo aquático que envolve a personagem central do filme.  Assim como um aquário que se rompe, por exemplo.

 

Ela, como um ser aquático, também tem consequências quando em sua vida na terra se envolve com um homem que não é da água.  E aí a morte tem um peso decisivo.  Ela terá que matar o homem, se ele a trair.

 

Tudo isso remete ao mito de Ondine ou Ondina, mas numa das narrativas que encontrei é ela que morre por ter sido traída.  Neste caso, o filme faz uma correção feminista da história.  Porque, afinal, se ela é que tivesse de morrer, estaríamos culpabilizando a vítima, só por ser mulher.


 



Bem, mas o filme de Christian Petzold desenvolve essa história fantástica com belas sequências e sempre num registro sério.  Uma questão mitológica tratada como drama, que traz sentimentos à tona, sofrimentos palpáveis, traições, omissões que rompem vínculos, com o espectro da morte sempre presente.

 

O elenco dá conta dessa situação de forma admirável, nos colocando num contexto mágico, porém, eivado de realidade.  Destaque para a protagonista Paula Beer, premiada como melhor atriz no Festival de Berlim, assim como a produção, que recebeu lá o prêmio da crítica Fipresci de melhor filme.

 

O fantástico sempre exerceu uma grande atração no cinema.  Muitas vezes como brincadeira, humor ou musical.  Ou no registro de horror e de suspense, que tanto interessa às pessoas.  Na forma de romance e drama com que o fantástico é tratado em “Undine”, conseguimos nos envolver com personagens da água como se eles fizessem parte do nosso dia-a-dia.  Sem estranheza.  Coisas que fazem parte da imaginação, mas só o cinema é capaz de concretizar.

 

 

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