Antonio Carlos Egypto
AZOR (Azor), Suíça, Argentina, 2021.
Direção e roteiro: Andreas Fontana.
Elenco: Fabrízio Rongione, Elli Medeiros, Pablo Torres Nilson, Alexandre
Trocki, Stéphanie Cléau. 100 min.
“Azor” é um filme estranho de se
ver. Porque nada do que acontece fica
claro em momento nenhum. Exceto no
final, talvez. Porém, como se passa em
algum momento dos anos 1980 da ditadura militar argentina, sabemos o que se
passava por lá: perseguições, prisões, tortura, desaparecimentos, sequestro de
crianças e muito mais. Vai daí que se
alguém desapareceu misteriosamente, ou alguém foi preso ou há uma blitz
policial na rua, tudo isso tem um sentido.
Aparentemente, não para o mundo dos endinheirados que passam de festa em
festa, passeios, corridas na Hípica, jantares, encontros em que se fala de
amenidades, superficialidades.
Isso é o filme. De forma lenta, vamos vendo a vida dessa
turma, para quem nada estaria acontecendo, aparentemente. De qualquer modo, nada estaria acontecendo com eles. Será?
Bem, um banqueiro suíço, Yvan De Wiel
(Fabrízio Rongione), vai à Argentina substituir seu sócio, René Keys, que sumiu
sem deixar rastro e de quem se fala de forma cifrada ou dissimulada. O que se passou?
Aqui e ali, as conversas fazem
referência a algo do mundo lá de fora, de forma muito indireta ou apenas
sugerida. E a carnificina corria solta,
disso sabemos os espectadores. Bem, mas pouco a pouco vai se tornando clara a
ligação umbilical entre o regime militar e os bancos suíços. A ditadura é um negócio, um bom negócio, para
o grupo dominante na Argentina e pelo mundo, onde os suíços têm grande
relevância financeira.
Quando o dinheiro manda, melhor
praticar o azor, ou seja, o nosso famoso Cale-se!
ou Preste atenção no que diz. Curiosamente, quando nada está sendo
dito. Mas, de repente, algo pode sair do
script.
É bem interessante a tática narrativa
do diretor suíço, estreante em longas, Andreas Fontana (também roteirista com
Mariano Llinás). A realidade só se
mostra de relance, num descuido, numa palavra indevida, num lapso. De certo modo, o medo e o suspense se
agudizam. É um mérito, inegável. Mas não torna a fluência do filme melhor ou
mais eficiente.
O andar lento, misterioso e distante
do que de fato acontece, incomoda, nos deixa aflitos. Quem acompanhou os fatos da época sabe o que
está por trás. Quem não souber da
história recente argentina, pelo mundo, vai boiar. Mas um tanto de tédio vai atingir tanto uns
quanto outros. Ou será que era eu que
estava cansado, ou impaciente, quando vi o filme?
Egypto, eu não sei o que aconteceu com vc...rsrsrs...mas em mim vc despertou o desejo de ver o filme. Seus comentários despertam a nossa curiosidade.
ResponderExcluirE você não foi a primeira pessoa a me dizer isso. Então ótimo. Vai conferir e me conta o que achou.
ExcluirCaro Egypto
ResponderExcluirSuas revelações fílmicas são sempre importantes. Esta,especialmente,me estimula assistir e me suscita reflexões e temores sobre o momento que ora vivemos. Obrigado !
A temática do filme é importante, sem dúvida.E a forma como foi concebido tem sua originalidade.Ainda assim, não é um filme que envolva ou entusiasme.É um tanto cifrado e arrastado.Mas vá ver, com atenção.
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