quarta-feira, 16 de outubro de 2019

WASP NETWORK_MOSTRA 43

Antonio Carlos Egypto



Rodrigo Teixeira, Leonardo Sbaraglia, Edgar Ramírez, Olivier Assayas



WASP NETWORK.  França/Brasil, 2019.  Direção e roteiro: Olivier Assayas.  Com Edgar Ramírez, Penélope Cruz, Wagner Moura, Gael García Bernal, Ana de Armas, Leonardo Sbaraglia.  125 min.


Cuba, que sempre sofreu um embargo econômico brutal dos Estados Unidos, desde que fez sua revolução, sobreviveu no tempo com a ajuda do bloco soviético.  Com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, apostava-se que o regime de Fidel Castro não sobreviveria.  Isso animou os cubanos anticastristas de Miami, nos anos 1990, a redobrar suas ações, apoiados pelo governo norte-americano.  Realizaram atos terroristas para minar o turismo e produzir um colapso na economia cubana, ao lado de novas tentativas de assassinar Fidel (o que já era rotina), entre outras coisas.  Muita espionagem, ações ousadas e, de outro lado, a contraespionagem e o enfrentamento por parte de Havana.

A guerra fria esquentava no confronto Miami versus Havana.  Os fatos que marcaram esse período estão mostrados no filme “Wasp Network”, produção de Rodrigo Teixeira, dirigida por Olivier Assayas, adaptação do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais.


Olivier Assayas


Não é apenas um filme de ação e política, no entanto, o que se vê.  É um conceito humanista de cinema, que dá complexidade aos personagens, fala da relação dos ativistas, de um lado e de outro, com suas mulheres e crianças, das preocupações que, pela esquerda ou pela direita, atingem todos.  Mostra personagens fortes, de carne e osso e humanidade.  Não é um jogo de vilões e mocinhos, mas de opções, perspectivas de vida e de política, jogos estratégicos, traições ou luta suicida por uma causa, ainda que nem sempre clara.  O que faz, por exemplo, com que um piloto abandone sem aviso mulher e filha em Cuba para atuar em Miami?  Que custo pessoal isso tem?  Para o próprio e para a família?

“Wasp Network” é um filme complexo, como a situação que aborda, mas que se acompanha muito bem, com um roteiro bem ordenado, uma edição eficiente, boas cenas de ação e um time de atores e atrizes de alto desempenho.

Edgar Ramírez, o ator venezuelano que protagoniza os grandes momentos da trama, joga com perfeição nas mudanças que atingem seu personagem.  Gael García Bernal, Wagner Moura e Leonardo Sbaraglia têm atuações preciosas, sutis, ás vezes ambíguas ou irônicas, mas não perdem as nuances dos seus papéis.  Penélope Cruz usa seu talento e beleza para compor uma mulher intensa, corajosa e cheia de emoções, que dá tom ao filme.  Aliás, o elenco feminino tem bastante relevo, já que o mundo doméstico, familiar, pesa quase tanto quanto a dinâmica política da espionagem e contraespionagem.  E interfere nela de várias formas.




O filme deve ser lançado oportunamente nos cinemas, mas não se chamará como agora “Wasp Network”.  Possivelmente, “Rede Cuba” ou “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, seguindo o bom título do livro de Fernando Morais, algo do gênero.

“Wasp Network” foi o filme de abertura da 43ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.  Contou com a presença do diretor Olivier Assayas, dos atores Edgar Ramírez e Leonardo Sbaraglia, além do produtor Rodrigo Teixeira, na coletiva de imprensa e na cerimônia de abertura.

A retrospectiva do diretor Assayas na Mostra exibirá mais 14 títulos de sua filmografia e merece toda a atenção pela alta qualidade artística do seu trabalho.




Nenhum comentário:

Postar um comentário