sábado, 19 de outubro de 2019

NOVOS DIRETORES NA MOSTRA 43

Antonio Carlos Egypto


Dentre os chamados novos diretores – cineastas a serem descobertos – aqueles que realizaram seu primeiro ou segundo longa-metragem, encontram-se filmes muito bons.  Já comentei aqui na matéria Dicas da Mostra 43, o filme alemão “Mente Perversa”, o sérvio “Cicatrizes”, o iraniano “Teerã, Cidade do Amor” e o chinês “Viver Para Cantar”, que comprovam isso.  Vamos ver alguns outros que merecem atenção, entre os novos diretores da 43ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.


PAPICHA

PAPICHA.  França/Argélia, 2019.  Direção e roteiro: Mounia Medour.  Com Lina Khoudri, Shirine Boutella, Amira Hilda Douaouda.  106 min.
Na Argélia, nos anos 1990, em guerra civil, jovens universitárias vivem suas vidas com alegria, liberdade e vestindo-se acompanhando a moda.  Deparam-se com um clima opressor, que vem das regras islâmicas de vestimenta e conduta.  Cartazes pelas ruas, censura, atos terroristas não chegam a intimidá-las suficientemente.  Resistir, no entanto, é muito difícil e perigoso.  A ponto de que um simples desfile de modas, das criações de uma delas, dentro do campus universitário, torna-se uma tarefa quase impossível.  Acaba virando uma peça de resistência ao regime.  A diretora argelina Mounia Medour faz um filme dramaticamente forte, que é uma espécie de grito contra o autoritarismo.  Denuncia, de forma clara, o difícil papel que resta à mulher toda coberta, controlada e dependente dos homens, sem espaço para existir com plenitude.  O filme, após as exibições na Mostra 43, entra logo em cartaz no circuito comercial.

LA MALA NOCHE.  Equador, 2019.  Direção e roteiro: Gabriela Calvache.  Com Nöelle Schönwald, Cristian Mercado, Jaime Tamariz.  95 min.
“La Mala Noche” é o filme que o Equador indicou para concorrer ao Oscar de filme internacional.  E o segundo-longa da diretora Gabriela Calvache é realmente um belo trabalho.  Coloca em cena a personagem  Dana, que sobrevive graças à prostituição, mas é explorada ao nível da escravidão pelo chefe do tráfico de pessoas.  Para conseguir seguir vivendo, ela acaba tornando-se dependente de remédios, drogas.  E se endivida.  Apesar da beleza e boa aparência, ela vive no inferno e tem que arriscar tudo para tentar sair dessa situação.  A denúncia que o filme apresenta envolve todo um sistema que faz das mulheres, desde pequenas, objetos de exploração e escravidão, em que o crime organizado dá as cartas por meio das armas e sem piedade.

KOKO-DI KOKO-DA.  Suécia, 2019.  Direção e roteiro: Johannes Nyholm.  Com Ylva Gallon, Leif Edlund Johansson, Peter Belli, Katharina Jacobson.  86 min.
“Koko-Di Koko-Da” é um filme estranho, já a partir do próprio título, que remete a uma sonoridade, apenas.  Sua narrativa também mistura cenas animadas desenhadas e até movimento de sombras.  Na sua essência, ele vai variando acontecimentos, desde um ponto de partida que sempre se repete, mas a evolução nunca é a mesma.  E diz respeito ao medo de ser atacado, humilhado, destruído.  O amparo realista é acampar num trecho de floresta, à noite.  Os perigos e os medos, portanto, estão justificados.  Os agressores, porém, apesar de violentos, vêm dos contos de fada, da própria imaginação, quem sabe.  O perigo pode estar em toda parte, o medo vem da sua cabeça.  Uma narrativa extravagante, explorando um clima de terror, que é também bastante atraente.  É possível que alguns amem o filme, outros o rejeitem, odeiem.  Para mim, tem muitos méritos.

KOKO-DI KOKO-DA


“O DESEJO DE ANA” (El Deseo de Ana).  México, 2019.  Direção: Emilio Santoyo.  Com Laura Agorreca, David Calderón, Ian Monterrubio.  79 min.
O desejo de Ana é aquele que não pode acontecer, mas existe.  Para conhecê-lo, será preciso acompanhar passo a passo o ritmo lento e misterioso do filme, composto de frases sempre curtas, lacônicas, que dão elementos, mas não compõem a história.  O diretor mexicano Emilio Santoyo consegue criar o clima, as atuações minimalistas ajudam, mas os diálogos poderiam ser mais elaborados e  conduzir a trama em vez de travá-la, como acontece.  De qualquer modo, é interessante acompanhar a relação, entrar no clima. 

VIVIR ILESOS.  Peru, 2019.  Direção e roteiro: Manuel Siles.  Com Magali Solier, Renato Gianoli, Oscar Ludeña, Oswaldo Salas.  79 min.
É possível cometer crimes recorrentes, que envolvem  grandes mansões, sequestros, manipulação de muito dinheiro, com elegância, e permanecer impunes?  Talvez precisando apenas recomeçar em outro ponto, de outro modo?  Sempre construindo a situação perfeita, em que não haja provas para sustentar uma denúncia e contando com a colaboração das vítimas, já que elas também têm suas vantagens.  Contando, ainda, com a deterioração dos conceitos e valores, o que permite ressignificar os fatos do ponto de vista moral.  Uma boa trama, que consegue envolver o espectador e tem elementos inusitados.  No background, a perversa distribuição da riqueza e as mazelas sociais comuns à América Latina.


  



Um comentário:

  1. AAh tenho ido muito aos filmes ( cerca de três por tarde) e sempre são muito bons!!! Só a.um desses citados , eu assisti: Vir ilesos e gostei bastte!!!! Vou ver se surgem aqui, ainda, alguns desses que parece, pela crítica, ser muito bons!!

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