Dentre os chamados novos diretores – cineastas
a serem descobertos – aqueles que realizaram seu primeiro ou segundo
longa-metragem, encontram-se filmes muito bons. 
Já comentei aqui na matéria Dicas
da Mostra 43, o filme alemão “Mente Perversa”, o sérvio “Cicatrizes”, o
iraniano “Teerã, Cidade do Amor” e o chinês “Viver Para Cantar”, que comprovam
isso.  Vamos ver alguns outros que
merecem atenção, entre os novos diretores da 43ª. Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo.
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| PAPICHA | 
PAPICHA. 
França/Argélia, 2019.  Direção e
roteiro: Mounia Medour.  Com Lina
Khoudri, Shirine Boutella, Amira Hilda Douaouda.  106 min.
Na Argélia, nos anos 1990, em guerra civil,
jovens universitárias vivem suas vidas com alegria, liberdade e vestindo-se
acompanhando a moda.  Deparam-se com um
clima opressor, que vem das regras islâmicas de vestimenta e conduta.  Cartazes pelas ruas, censura, atos
terroristas não chegam a intimidá-las suficientemente.  Resistir, no entanto, é muito difícil e
perigoso.  A ponto de que um simples
desfile de modas, das criações de uma delas, dentro do campus universitário,
torna-se uma tarefa quase impossível. 
Acaba virando uma peça de resistência ao regime.  A diretora argelina Mounia Medour faz um
filme dramaticamente forte, que é uma espécie de grito contra o
autoritarismo.  Denuncia, de forma clara,
o difícil papel que resta à mulher toda coberta, controlada e dependente dos
homens, sem espaço para existir com plenitude. 
O filme, após as exibições na Mostra 43, entra logo em cartaz no
circuito comercial.
LA MALA NOCHE. 
Equador, 2019.  Direção e roteiro:
Gabriela Calvache.  Com Nöelle Schönwald,
Cristian Mercado, Jaime Tamariz.  95 min.
“La Mala Noche” é o filme que o Equador
indicou para concorrer ao Oscar de filme internacional.  E o segundo-longa da diretora Gabriela
Calvache é realmente um belo trabalho. 
Coloca em cena a personagem  Dana,
que sobrevive graças à prostituição, mas é explorada ao nível da escravidão
pelo chefe do tráfico de pessoas.  Para
conseguir seguir vivendo, ela acaba tornando-se dependente de remédios,
drogas.  E se endivida.  Apesar da beleza e boa aparência, ela vive no
inferno e tem que arriscar tudo para tentar sair dessa situação.  A denúncia que o filme apresenta envolve todo
um sistema que faz das mulheres, desde pequenas, objetos de exploração e
escravidão, em que o crime organizado dá as cartas por meio das armas e sem
piedade.
KOKO-DI KOKO-DA.  Suécia, 2019. 
Direção e roteiro: Johannes Nyholm. 
Com Ylva Gallon, Leif
Edlund Johansson, Peter Belli, Katharina Jacobson.  86 min.
“Koko-Di Koko-Da” é um filme estranho, já a
partir do próprio título, que remete a uma sonoridade, apenas.  Sua narrativa também mistura cenas animadas
desenhadas e até movimento de sombras. 
Na sua essência, ele vai variando acontecimentos, desde um ponto de
partida que sempre se repete, mas a evolução nunca é a mesma.  E diz respeito ao medo de ser atacado,
humilhado, destruído.  O amparo realista
é acampar num trecho de floresta, à noite. 
Os perigos e os medos, portanto, estão justificados.  Os agressores, porém, apesar de violentos,
vêm dos contos de fada, da própria imaginação, quem sabe.  O perigo pode estar em toda parte, o medo vem
da sua cabeça.  Uma narrativa extravagante,
explorando um clima de terror, que é também bastante atraente.  É possível que alguns amem o filme, outros o
rejeitem, odeiem.  Para mim, tem muitos
méritos.
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| KOKO-DI KOKO-DA | 
“O DESEJO DE ANA” (El Deseo de Ana).  México,
2019.  Direção: Emilio Santoyo.  Com Laura Agorreca, David Calderón, Ian
Monterrubio.  79 min.
O desejo de Ana é aquele que não pode
acontecer, mas existe.  Para conhecê-lo,
será preciso acompanhar passo a passo o ritmo lento e misterioso do filme,
composto de frases sempre curtas, lacônicas, que dão elementos, mas não compõem
a história.  O diretor mexicano Emilio
Santoyo consegue criar o clima, as atuações minimalistas ajudam, mas os
diálogos poderiam ser mais elaborados e  conduzir
a trama em vez de travá-la, como acontece. 
De qualquer modo, é interessante acompanhar a relação, entrar no
clima.  
VIVIR ILESOS. 
Peru, 2019.  Direção e roteiro:
Manuel Siles.  Com Magali Solier, Renato
Gianoli, Oscar Ludeña, Oswaldo Salas.  79
min.
É possível cometer crimes recorrentes, que
envolvem  grandes mansões, sequestros,
manipulação de muito dinheiro, com elegância, e permanecer impunes?  Talvez
precisando apenas recomeçar em outro ponto, de outro modo?  Sempre construindo a situação perfeita, em
que não haja provas para sustentar uma denúncia e contando com a colaboração
das vítimas, já que elas também têm suas vantagens.  Contando, ainda, com a deterioração dos
conceitos e valores, o que permite ressignificar os fatos do ponto de vista
moral.  Uma boa trama, que consegue
envolver o espectador e tem elementos inusitados.  No background,
a perversa distribuição da riqueza e as mazelas sociais comuns à América
Latina.


AAh tenho ido muito aos filmes ( cerca de três por tarde) e sempre são muito bons!!! Só a.um desses citados , eu assisti: Vir ilesos e gostei bastte!!!! Vou ver se surgem aqui, ainda, alguns desses que parece, pela crítica, ser muito bons!!
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