O MISTÉRIO DO GATO CHINÊS |
O MISTÉRIO DO GATO CHINÊS (Kûkai). China, 2017.
Direção: Chen Kaige. Com Huang
Xuan, Shôta Sometani, Kitty Zang Yugi.
129 min.
O filme “O Mistério do Gato Chinês” é uma
produção chinesa de luxo, de alto padrão e beleza visual. Não só pelos palácios suntuosos, figurino
exuberante e exotismo histórico, mas pela profusão de sofisticados efeitos
especiais. É, por esse aspecto, um
espetáculo deslumbrante.
A trama, porém, é apresentada de um modo
complicado, confuso, de difícil entendimento.
Mostra um monge e um poeta que buscam pistas misteriosas, envolvendo uma
morte. Que remete a um gato preto
demoníaco a quem se atribuem crimes no período da China medieval, após a
reunificação do país, durante a dinastia Tang (618 a 906 d.C.). Coisa de mais de mil anos, portanto.
A verdade é que a história importa menos do
que a criação visual, no caso. No
entanto, quando a técnica fica muito evidente e é usada em demasia, como
acontece aqui, algo sai do tom.
O cineasta Chen Kaige, vencedor da Palma de
Ouro em Cannes, em 1993, por “Adeus, Minha Concubina”, parecia caminhar para uma carreira de sólido
sucesso, que acabou não acontecendo. Ele
não conseguiu repetir o feito de então, mesmo tendo realizado bons filmes. Faltou maior elaboração ou um roteiro mais
consistente e empolgante. Em “O Mistério
do Gato Chinês”, o espetáculo visual está garantido, mas passou um pouco do
ponto e deixou o espectador imerso no mistério.
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O MISTÉRIO DE HENRI PICK |
O MISTÉRIO DE HENRI PICK (Le Mystère Henri Pick).
França, 2019. Direção: Rémi
Bezançon. Com Fabrice Luchini, Camille
Cottin, Alice Isaaz, Bastien Bouillon, Hanna Schygulla. 100 min.
O filme “O Mistério de Henri Pick” começa com
um programa da TV, supostamente aberta, pela repercussão, em que se discutem
lançamentos literários, com debates e análises críticas das obras
comentadas. Algo que parece tão distante
do nosso dia-a-dia, que dá inveja. A
importância e a dimensão do livro na vida das pessoas na França parece
exponencialmente superior a qualquer coisa que observemos por aqui. Esse preâmbulo é importante para marcar a
diferença de contextos, porque a própria trama tende a ser estratosférica para
nós, se não atentarmos para essas diferenças.
Numa cidade do interior da França, uma
biblioteca bretã cria uma inacreditável sala de manuscritos rejeitados pelas
editoras para publicação. E é lá que uma
jovem profissional editora acaba por encontrar uma joia preciosa, que deve ter
passado despercebida pelos editores que a leram. Era um texto tão talentoso que, ao ser
publicado, se torna um imenso sucesso editorial.
O autor já morreu há dois anos e é
desconhecido. Ou melhor, descobre-se que
ele era um pizzaiolo que, ao que se sabe, jamais teria lido um livro. Quanto mais escrever um. Desse mistério é que se faz o filme.
Fabrice Luchini, grande ator, faz o papel de
crítico literário, Jean-Michel Rouche, da TV, que questiona e investiga os
fatos, ao lado da filha do autor Henri Pick, Joséphine, vivida por Camille
Cottin. Alice Isaaz faz a editora Daphné
Despero e Bastien Bouillon, o autor Frédéric Kostas. E nesse belo elenco ainda cabe uma ponta para
a grande Hanna Schygulla. O filme de
Rémi Bezançon é divertido e bom de se ver, apesar de se valer de reviravoltas
demais, até chegar ao desvendar do mistério.
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NO CORAÇÃO DO MUNDO |
NO CORAÇÃO DO MUNDO. Brasil, 2019.
Direção: Gabriel Martins e Maurílio Martins. Com Kelly Crifer, Leo Pyrata, Grace Passô,
Bárbara Colen, Robert Frank. 120 min.
Contagem, Minas Gerais, pode ser vista como o
coração do mundo, por algum dos personagens do filme de Gabriel e Maurílio
Martins. Na realidade, é um contexto de
periferia bastante sofrido, com poucas possibilidades de sobrevivência digna e
tranquila. Há o desemprego, hoje já uma
característica marcante do momento nacional atual, mas também os trabalhos
intermitentes, mal remunerados, que não abrem perspectivas para que algum tipo
de sonho pareça viável. E o filme pega
esse veio documental por meio de personagens colados a esse contexto social
empobrecido.
Na ausência de saídas, a transgressão se
oferece como caminho, para alcançar o impossível, nas circunstâncias
dadas. Mais do que transgressão, crime,
mesmo. E “No Coração do Mundo” muda o
registro para entrar num mundo hollywoodiano de filme policial, de suspense e
ação, fazendo assim uma combinação de realismo e espetáculo de gênero, que
surpreende, mas funciona. Não chega a ser
água e óleo, não, embora corra o risco de desagradar, pelo menos em parte,
tanto os que buscam a reflexão sobre a realidade social, quanto os que esperam
pelo entretenimento.
O desempenho do elenco é bastante
desigual. Traz Grace Massô, uma atriz de
forte presença, inflexão e dicção perfeitas, mas traz também, em papel central,
Leo Pyrata, que tem problemas de dicção que acabam comprometendo a compreensão
de parte de seus diálogos. Não é um
problema só dele, quando se combinam dicção imperfeita com linguagem regional e
gíria específica, fica complicado.
Várias sequências do filme exigem atenção redobrada do espectador para
ouvir e entender as falas. Talvez uma
legendagem possa ser recomendada em alguns locais de exibição, também no
Brasil.
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