quinta-feira, 4 de julho de 2019

A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS

Antonio Carlos Egypto






A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS (Ahlat Agaci).  Turquia, 2018.  Direção: Nuri Bilge Ceylan.  Com Aydin Dogu Demirkol, Murat Cemcir, Bennu Yildirimlar, Hazar Ergüçiü.  188 min.


“A Árvore dos Frutos Selvagens” é o novo trabalho do diretor turco Nuri Bilge Ceylan, que prima por imagens de grande elaboração e beleza nos seus filmes.  Enriquece o seu apuro visual com locações na Anatólia, a região turca de sua origem, que tem paisagens exuberantes.  É, portanto, com grande prazer que vemos a natureza magnificamente enquadrada, as expressões humanas se revelando, em meio a um ambiente amplo, mostrado por planos gerais e panorâmicas, mas também por detalhes significativos do contexto cultural abordado.

Não fica por aí.  Ceylan discute o mundo contemporâneo e a conquista da identidade, a partir do personagem Sinan, um jovem que deixou sua aldeia para estudar em Istambul e encontrar sua paixão por literatura e o desejo de se realizar como escritor.  Mas o que significa literatura, a quem ela interessa, que papel exerce hoje num mercado tão distante de suas pretensões?  E como ele se vê, no contexto rural de sua origem?  Sua ex-namorada, seu pai endividado, os limites da vida na aldeia, que papel tem tudo isso nessa jornada em busca de autoconhecimento e de realização pessoal?




Como o islamismo é visto e compreendido pelos jovens?  Que polêmicas envolvem a aceitação e a interpretação do Corão no contexto atual?  Muitas reflexões filosóficas e debates sobre a contemporaneidade, a vida e os projetos dos jovens, e também dos adultos, fazem parte dos diálogos do filme.  Como se vê, é um produto artístico muito encorpado e consistente, em todos os seus aspectos.  Nuri Bilge Ceylan é, mesmo, um dos maiores cineastas do cinema atual.  Faz filmes de longa duração, como este, que tem 188 minutos, mas que envolve e encanta durante todo esse tempo.

Os filmes de Ceylan subvertem a narrativa clássica e exigem do espectador tempo para fruir os eventos e descobrir o que está submerso na ação.  Em contra partida, oferecem uma beleza visual permanente, de embasbacar os olhos.  É cinema de altíssimo padrão, já várias vezes reconhecido pelo Festival de Cannes, que em 2008 lhe conferiu o prêmio de melhor diretor por “Três Macacos”, o Grande Prêmio do Júri, em 2011, por “Era Uma Vez na Anatólia”, e a Palma de Ouro e prêmio da crítica do Festival de Cannes, em 2014, por “Sono de Inverno”.

“A Árvore dos Frutos Selvagens” foi exibido na 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que, em várias oportunidades, também premiou o cineasta.  Ao levantar os destaques daquele evento, apontei o filme como o melhor entre os exibidos que pude ver.  Tem um requinte e uma qualidade técnica admiráveis.



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