domingo, 12 de agosto de 2018

CINEMA ITALIANO ATUAL


Antonio Carlos Egypto




O cinema italiano tem de enfrentar, queira ou não, o fantasma de um passado tão glorioso que jamais conseguirá igualar.  Mas, a julgar por alguns filmes exibidos na mostra 8½. Festa do Cinema Italiano, que entrarão em cartaz nos cinemas brevemente, o nível da produção atual é bem bom.  São realizações de muito bom nível, com alta qualidade de produção, cineastas competentes, elencos em que abundam talentos e histórias que exploram o mistério e o ambíguo em diferentes gêneros cinematográficos.

UMA QUESTÃO PESSOAL (Una questione privata), dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, de 2017, é um filme simples e bonito.  Passa-se no Piemonte, em 1943, envolvendo dois participantes da Resistência Italiana, na Segunda Guerra Mundial.  Eles se alistam e lutam contra os fascistas, mas têm em comum, além disso, o desejo por uma mulher, Fúlvia.  Estamos no clima de guerra, porém, o filme não destaca o lado político dela.  Milton, em meio à guerra, procura por seu amigo e rival, Giorgio, que caiu nas mãos dos fascistas, mas suas razões são de ordem pessoal, como diz o título do filme. É um trabalho para se curtir com calma, apreciando a beleza do lugar, a filmagem elegante, o desempenho do elenco. Tem a chancela desses fabulosos irmãos cineastas, que sempre trabalharam juntos e assim continuaram, Paolo, com 86 anos, e Vittorio, falecido em abril de 2018, aos 88 anos. Com Luca Marinelli, Valentina Bellè, Lorenzo Richelmy. 84 minutos.

FORTUNATA (Fortunata), de Sergio Castellitto, de 2017, é um filme intenso, que foca na vida atormentada da personagem central, Fortunata, cabeleireira a domicílio, em busca de conquistar sua independência, abrindo seu próprio salão.  Nisso está muito antenada com os tempos atuais do capitalismo, que enxerga no empreendedorismo a solução para os seus males: as perdas de direitos trabalhistas, de emprego e de renda.  A luta da personagem passa tanto pelas dificuldades concretas do dia-a-dia, que incluem uma filha de 8 anos e um casamento fracassado, numa vida difícil, bastante representativa do nosso tempo, quanto por questões existenciais. Um processo psicoterápico que entra na trama acentua ainda mais o drama. Jasmine Trinca, que vive Fortunata, venceu o prêmio de melhor atriz em Cannes.  Com Jasmine Trinca, Stefano Accorsi, Alessandro Borghi, Edoardo Pesce. 103 min.




A GAROTA NA NÉVOA (La Ragazza Nella Nebbia), de Donato Carrisi, de 2016, é um suspense policial muito bem realizado, em locações belíssimas e com um grande e competente elenco.  O diretor é o próprio escritor do romance policial que deu origem ao filme, o que garante um roteiro intrigante e que prende o espectador do início ao fim. Explorando o mistério do desaparecimento de uma adolescente, recatada e religiosa, em um povoado do norte da Itália, o filme caminha no sentido de produzir um culpado, a partir dos métodos incriminatórios nada convencionais do investigador policial.  Ele está mais interessado em atender à mídia e em se projetar do que investigar, de fato.  Em seu passado, já incriminou um inocente, sem ter qualquer remorso na consciência.  A névoa pontua e acentua o clima de mistério, num filme pictoricamente muito atraente.  Com Toni Servillo, Jean Reno, Alessio Boni, Galatea Ranzi.  127 min.

POBRES, MAS RICOS (Poveri ma Ricchi), de Fausto Brizzi, de 2016, é uma comédia rasgada, de fato muito engraçada.  Explora um tema banal, o de uma família humilde, de um pequeno povoado, da região de Lazio, que ganha na loteria e se torna bilionária da noite para o dia.  Para escapar do possível assédio local vai viver em Milão uma vida de luxo, tentando ficar incógnita em relação à sua comunidade.  E, como seria de se esperar, não têm ideia de como se comportar enquanto ricos.  Ou melhor, a ideia que têm está ultrapassada.  Os ricos atuais são diferentes dos do passado, mudaram seus comportamentos.  O que torna tudo ainda mais difícil.  Comédia que explora os costumes e comportamentos típicos do povo, com diálogos espirituosos e escorada num ótimo elenco de atores cômicos.  Sem apelações nem grossura. Brinca com os clichês de um jeito inteligente, evitando o desrespeito e o preconceito.  Humor de qualidade que faz jus à grande tradição da comédia italiana.  Sucesso de público, que já gerou uma continuação na Itália: Poveri Ma Ricchissimi.  Com Christian De Sica, Enrico Brignano, Lucia Ocone.  90 min.





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