quinta-feira, 14 de junho de 2018

AS BOAS MANEIRAS

  Antonio Carlos Egypto




AS BOAS MANEIRAS.  Brasil, 2017.  Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra.  Com Isabél Zuaa, Marjorie Estiano, Cida Moreira, Miguel Lobo.  135 min.


“As Boas Maneiras”, direção conjunta de Juliana Rojas e Marco Dutra, repete a dupla que fez “Trabalhar Cansa”, em 2011, que comentamos aqui no Cinema com Recheio, na época do lançamento.  Assim como os trabalhos de Juliana em “Sinfonia da Necrópole”, em 2014 e de Marco  em “O Silêncio do Céu”, em 2015. 

Aqui se repete a tendência daquele primeiro trabalho deles, em que o realismo e as questões sociais são apresentados no desenvolvimento da história dos personagens.  Porém, estranhezas vão tomando corpo e acabam nos levando ao terreno do fantástico e do terror.  Lá como cá, o fantástico acaba dominando, é claro, mas não se perde nunca o pé da realidade brasileira e seus conflitos sociais permanentes.  Mostra que é possível fabular e mergulhar na fantasia e no horror sem perder a noção de quem se é ou de que lugar se ocupa na pirâmide social.




Duas mulheres representam esse universo social: a enfermeira Clara, que vive na periferia,  papel de Isabél Zuaa.  Por conflito com seus patrões, acaba sem ter onde morar, mas consegue um novo trabalho na casa de Ana (Marjorie Estiano).  Ana, de classe alta, está grávida, mas é uma mulher solitária.  Não convive com marido, pai, mãe, irmãos ou qualquer  outro parente, por alguma razão misteriosa.  Contrata Clara para cuidar dela, fazer-lhe companhia e vir a ser a babá do bebê que está para nascer.  Quem ela está gerando é a surpresa e a explicação para o drama de horror que se desenvolverá.  E tomará proporções gigantescas nas noites de lua cheia.

Não é só de drama realista e de fantástico e horror que se trata.  Há também humor, suspense e a questão da sexualidade feminina na trama.  “As Boas Maneiras” é um filme que transita pelos diversos gêneros e temas com desenvoltura.




Conta com uma equipe talentosa na sua produção.  Basta citar a montagem de Caetano Gotardo, o diretor do ótimo “O Que se Move”, de 2013, também já comentado por aqui.  E o diretor de fotografia, o português Rui Poças, que fez excelentes trabalhos em filmes como “Tabu”, de Miguel Gomes, em 2012, e “O Ornitólogo”, de João Pedro Rodrigues, em 2016.

O destaque interpretativo vai para Isabél Zuaa, atriz nascida em Lisboa, de mãe angolana e pai da Guiné Bissau, que já havia feito “Joaquim”, de Marcelo Gomes, lançado em 2017.  Mas todo o elenco está muito bem, também.

“As Boas Maneiras” foi premiado com o Leopardo de Prata no Festival de Locarno, no Festival do Rio 2017 e em vários outros, pelo mundo.  É o reconhecimento de um trabalho singular e criativo.



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