Antonio Carlos
Egypto
CARTAS PARA UM LADRÃO DE LIVROS. Brasil, 2017.
Direção: Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros. Documentário.
96 min.
O cidadão Laéssio Rodrigues de Oliveira,
considerado o principal ladrão de obras raras no Brasil, é o foco do
documentário “Cartas Para um Ladrão de Livros”, de Caio Cavechini e Carlos
Juliano Barros.
Os feitos desse ladrão, que começou roubando
revistas antigas com Carmen Miranda na capa e objetos relacionados à antiga
cantora, a quem ele adorava, chegaram a atingir dimensões impressionantes. Ele praticou furtos em bibliotecas públicas
de, pelo menos, cinco estados brasileiros, incluindo fotos da corte brasileira,
mapas antigos feitos a mão, gravuras de artistas europeus icônicos, como
Rugendas, e todo tipo de livro valioso e raro, ou de partes extraídas deles.
Antes de mais nada, isso revela que o então
estudante de biblioteconomia Laéssio era um cara bem informado, culto, que
sabia o valor das coisas e também encontrou um meio de vendê-las a pessoas
muito ricas que topavam pagar fortunas por esses roubos. Certamente, sabendo que seriam produto de
roubo tais preciosidades.
Como sempre acontece no nosso país, o ladrão
está preso e já havia cumprido dez anos de detenção, anteriormente. Os muito ricos são desconhecidos e usam de
seus poderes para permanecerem à sombra, sem qualquer consequência. Alguns, que teriam sido citados em
depoimentos, utilizaram seus meios de pressão para que permanecessem
desconhecidos e não pudessem ser investigados.
Muito menos, punidos.
Para além da audácia do ladrão sofisticado e
de seu público comprador, há a questão da preservação da memória e do
patrimônio nacional. É inacreditável a
facilidade com que ele atuou nas bibliotecas e museus, sem que ninguém se desse
conta do que estava acontecendo, sem registros filmados, sem controle de acervo
periódico. Só quando, finalmente, ele
foi indiciado e condenado é que alguns logradouros culturais se deram conta do
desaparecimento das obras, ou de parte delas.
Inacreditável!
O filme foca nos depoimentos de Laéssio, de
quem com ele conviveu ou dele foi furtado, além dos agentes públicos e
policiais que o investigaram. Destaca,
também, a correspondência do ladrão com os diretores do filme, nos períodos em
que ele esteve preso. E, ainda, as
cartas que ele trocou com um rapaz, seu amante, que acabou sendo também
envolvido na questão dos roubos.
“Cartas Para um Ladrão de Livros” ajuda-nos a
refletir sobre diversas questões ligadas à nossa educação e cultura, nossos
valores e flagrantes desigualdades, a partir da figura retratada no
documentário. Entre as pérolas de
Laéssio, está algo assim: Não sei o que é melhor, estar livre pobre ou estar
preso rico.
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