Antonio Carlos
Egypto
TORQUATO NETO – TODAS AS HORAS DO FIM. Brasil, 2017.
Direção: Eduardo Ades e Marcus Fernando. Voz de Jesuíta Barbosa. Documentário.
88 min.
A escolha do personagem Torquato Neto para o
documentário de Eduardo Ades e Marcus Fernando não poderia ser mais feliz. O poeta, que viveu pouco, mas teve intensa e
profunda atuação cultural, estava mesmo precisando ser lembrado e resgatado em
sua obra, que envolvia música, como letrista, cinema, como criador e
intérprete, jornalismo, com seus textos e poemas, e a produção cultural, de
modo geral. Isso foi feito.
O filme resgata a poesia e a prosa de Torquato
Neto, na voz de Jesuíta Barbosa, e compreende a sua atuação por meio de muitos
depoimentos e trechos de filmes em que ele participou, com o personagem
Nosferato do Brasil, sendo dirigido por Ivan Cardoso, e muitos exemplares do
cinema marginal, com quem ele interagia, e do cinema novo.
Sua vida cultural envolveu trabalhos com Edu
Lobo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Jards Macalé, Wally Salomão, Hélio
Oiticica, e muitos outros que compunham com ele a geleia geral brasileira do período em que ele viveu, entre 1944 e
1972.
Esse piauiense tão talentoso, inovador e
provocador, suicidou-se aos 28 anos de idade e falar da sua vida é,
inevitavelmente, falar dessa escolha, que sempre o acompanhou como ideia e que
ele acabou por concretizar. Não há
respostas, há tentativas de aproximação e entendimento. O que importa hoje é a obra que ficou, que é
muito relevante e merece ser revisitada.
Não faltam elementos, informações, referências
visuais ao documentário “Torquato Neto – Todas as horas do fim”, mas ele seria
mais interessante se tivesse se preocupado um pouquinho mais em ser didático, o
que costuma ser mal visto pelos documentaristas atuais, mas que faz falta,
muitas vezes. E não é nenhum pecado
mortal, convenhamos.
As falas, os depoimentos, são ouvidos quase o
tempo todo, enquanto as imagens mostram filmes e fotos. Algumas vezes, aparece o nome da pessoa que
fala, outras, não. Quem não identificar
o tom de voz, fica sem saber quem está falando.
Caetano, Gil, Tom Zé, têm timbres bem conhecidos e divulgados, outros, nem
tanto. É possível dizer que o importante
é o que se diz, não quem disse. Mas, sem dúvida, o espectador quer saber e
tem esse direito.
Outro aspecto que me incomodou foi a ausência
de Edu Lobo, no filme. A música de
Torquato Neto que mais se ouve ainda hoje é “Pra Dizer Adeus”, parceria com
Edu, tocada duas vezes no filme. Porém,
a única referência a Edu Lobo na vida de Torquato é uma foto, junto com outras
pessoas, e o crédito na música citada, ao final. Enquanto isso, Caetano e Gil aparecem
prodigamente no filme. Nada contra. Mas há um descompasso que poderia ter sido
pelo menos compensado por alguma citação, se é que Edu não pôde ou não quis dar
depoimento para o filme. Ficou faltando
a sua presença, que certamente é menos provocadora, mas não menos importante.
O tropicalismo, movimento que Torquato Neto
ajudou a criar e militou culturalmente, tem grande destaque no documentário e
as imagens dele, no papel de vampiro, perpassam todo o filme. As palavras que ele manejava como poucos
inundam a tela. Um resgate bonito e
necessário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário