Antonio Carlos
Egypto
LADY BIRD: A HORA DE VOAR (Lady Bird). Estados Unidos, 2017. Direção e roteiro: Greta Gerwig. Com
Saioirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letfs, Lucas Hedges, Timothée
Chalamet. 94 min.
O começo do filme “Lady Bird: A Hora de Voar”,
de Greta Gerwig, me incomodou bastante.
Num ritmo muito rápido, cheio de cortes e verborrágico à beça, parecia
uma correria sem propósito de um filme que não tem muito a dizer. Mas, felizmente, ele se acalmou e essa
sensação não permaneceu.
“Lady Bird” é um filme que retrata essa
realidade complicada da adolescência, em que nada parece dar certo, tudo
incomoda, soa insatisfatório, “o mundo não gosta de mim”, essas coisas
todas. É assim que se sente a
protagonista Christine (Saioirse Ronan), para começar, rejeitando o próprio
nome e criando uma identidade mais atraente, com o apelido de Lady Bird.
Ela é da cidade de Sacramento, na
Califórnia. Pela descrição dela, um
péssimo lugar para se viver. Não tem
nada que interesse a ela nem gente capaz de entendê-la ou valorizá-la. O que, aliás, seria difícil, já que ela mesma
não se valoriza.
Daí vêm os problemas com os pais, as
dificuldades econômicas da família, que ela só percebe pelo que causam a ela,
não aos genitores. A mãe, Marion (a
ótima Laurie Metcalf), é cobradora, controladora, mas amorosa, a seu
jeito. Como qualquer mãe, lidando com as
dificuldades da realidade objetiva e do espírito derrotista de sua filha
adolescente. Já o pai, Larry (Tracy
Lefts), tenta ser bom o tempo todo, em que pesem as adversidades. É acolhedor, compreensivo, mas incapaz de
preencher as necessidades afetivas da menina.
O problema dela, naturalmente, é com a mãe. Uma duelando com a outra, em alguns aspectos,
frustrando-se mutuamente.
Enquanto isso, Christine enfrenta o desafio de
entrar numa boa faculdade, com seu histórico escolar medíocre e a pouca crença
que ela acha que todos têm nela. Às
vezes, comprovada por palavras, frases inoportunas, que os adultos realmente
expressam. A experiência de estudar numa
escola católica até o final do ensino médio é algo que ela já não consegue
tolerar mais, embora a escola até tenha estimulado a expressão de alguns dotes
artísticos por parte dela.
Last
but not least, é claro, vêm os meninos. Os namoros, a perspectiva da primeira transa,
a expectativa de experiência especial, que passa longe da cabeça dos
rapazes. A descoberta de que o desejo
tem vários caminhos, e por aí vai.
“Lady Bird” vai, com todos esses componentes,
traçando o processo de amadurecimento feminino, mostrado do ponto de vista da
protagonista, a partir de um relato que tem muitos elementos autobiográficos da
diretora e roteirista, Greta Gerwig, que também é atriz conhecida e
produtora. É isso, principalmente, o que
faz com que o filme passe ao espectador uma sensação de autenticidade, que vai
além dos clichês e dos elementos previsíveis que constituem a adolescência no
gênero feminino.
“Lady Bird” está indicada a 5 Oscar: melhor
filme, diretora, roteiro original, atriz e atriz coadjuvante.
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