terça-feira, 31 de outubro de 2017

QUATRO DESTAQUES DA MOSTRA 41ª.

   
Antonio Carlos Egypto


A separação de casais com filhos não precisa ser complicada ou traumática, como a que acontece no filme francês CUSTÓDIA, de Xavier Legrand, um dos destaques da 41ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.  Muitas vezes, o convívio das crianças com as casas e, eventualmente, famílias de pais e mães separados, pode até enriquecer ou diversificar as experiências delas, se tudo se faz de forma pacífica e civilizada. Pode até persistir um vínculo afetivo bom entre os cônjuges que decidiram, cada um, levar a sua vida em outros termos.
Mas quando a separação é litigiosa, resulta em brigas, violência e disputa judicial da guarda e do direito de conviver com os filhos, quem acaba suportando a maior e mais pesada carga são justamente as crianças. Para mostrar isso com clareza e intensidade dramática, CUSTÓDIA coloca em foco o menino que vai a contragosto conviver com o pai, volta para a casa da mãe, fica no meio do conflito, passando recados de um a outro, que não querem se ver. E por aí vai. 
A narrativa é firme, bem construída, o desempenho do garoto é espetacular, nos faz viver o que ele estaria experimentando.  A questão de gênero é bem mostrada.
A solução dramática final parece inevitável, embora esteja aqui carregada nas tintas.  Mas a sequência é muito boa, extremamente tensa, com um clímax emocionante.  O diretor demonstra um talento incrível já no seu primeiro longa-metragem. 


CUSTÓDIA


Fui ver GRÃO, o filme turco dirigido por Semilh Kaplanoglu, porque sou fã da sua trilogia “Ovo”, “Leite”, “Mel”.  O último recebeu o título de “Um Doce Olhar”, no Brasil.  É de uma beleza ímpar, um drama intimamente ligado à natureza, que é mostrada num colorido brilhante.  Pois bem, GRÃO é outra coisa.  O outro lado dessa história.  É uma ficção científica, em preto e branco, que se passa no mundo da Terra Morta, após atravessar-se um muro tecnológico que a separa da Natureza Livre.  Um caos genético está em andamento, a destruição, avançada, e os caminhos ainda possíveis muito complicados de se trilhar.  Ou seja, o cineasta que celebra a natureza e a vida simples, nos outros filmes, se desespera pelo que o ser humano faz com ela e com a manipulação genética, em particular.  Diferente do que se poderia esperar dele, à primeira vista, mas muito bom também. 

SEM DATA, SEM ASSINATURA é um filme do Irã, que coloca um dilema moral que se diversifica, se transforma em outro.  E provoca o tempo todo o espectador, levantando a dúvida daquilo que seria mais relevante num caso que envolve um acidente de um carro com uma moto, um médico e sua mulher, também médica, patologistas forenses, a venda e consumo de carne velha e a morte de uma criança.  A sustentação da história só ocorre porque informações que poderiam ser perfeitamente compartilhadas não o são.  O que parece revelar a dificuldade de estabelecer relações de confiança, mesmo entre pessoas tão próximas, como marido e mulher, tanto na classe alta quanto nos extratos populares.  Uma questão iraniana, dos seres humanos, ou apenas um mote para o roteiro poder funcionar?  Um bom trabalho do diretor Vahid Jalivand, em seu primeiro longa.


UMA QUESTÃO PESSOAL



UMA QUESTÃO PESSOAL, dos irmãos Paolo e VittorioTaviani, da Itália, é um filme simples e bonito.  Passa-se no Piemonte, em 1943, envolvendo dois participantes da Resistência Italiana, na Segunda Guerra Mundial.  Eles se alistam e lutam contra os fascistas, mas têm em comum, além disso, o desejo por uma mulher, Fúlvia.  Estamos no clima de guerra, mas o filme não destaca o lado político dela.  Milton, em meio à guerra, procura por seu amigo e rival, Giorgio, que caiu nas mãos dos fascistas, mas suas razões são de ordem pessoal, como diz o título do filme.  É um trabalho para se curtir com calma, apreciando a beleza do lugar, a filmagem elegante, o desempenho do elenco.  Tem a chancela desses fabulosos irmãos cineastas, que sempre trabalharam juntos e assim continuam, Paolo, com 86 anos, e Vittorio, com 88.



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