Antonio Carlos
Egypto
A
separação de casais com filhos não precisa ser complicada ou traumática, como a
que acontece no filme francês CUSTÓDIA,
de Xavier Legrand, um dos destaques da 41ª. Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo. Muitas vezes, o convívio das
crianças com as casas e, eventualmente, famílias de pais e mães separados, pode
até enriquecer ou diversificar as experiências delas, se tudo se faz de forma
pacífica e civilizada. Pode até persistir um vínculo afetivo bom entre os
cônjuges que decidiram, cada um, levar a sua vida em outros termos.
Mas
quando a separação é litigiosa, resulta em brigas, violência e disputa judicial
da guarda e do direito de conviver com os filhos, quem acaba suportando a maior
e mais pesada carga são justamente as crianças. Para mostrar isso com clareza e
intensidade dramática, CUSTÓDIA
coloca em foco o menino que vai a contragosto conviver com o pai, volta para a
casa da mãe, fica no meio do conflito, passando recados de um a outro, que não
querem se ver. E por aí vai.
A
narrativa é firme, bem construída, o desempenho do garoto é espetacular, nos
faz viver o que ele estaria experimentando.
A questão de gênero é bem mostrada.
A
solução dramática final parece inevitável, embora esteja aqui carregada nas
tintas. Mas a sequência é muito boa,
extremamente tensa, com um clímax emocionante.
O diretor demonstra um talento incrível já no seu primeiro
longa-metragem.
CUSTÓDIA |
Fui
ver GRÃO, o filme turco dirigido por
Semilh Kaplanoglu, porque sou fã da sua trilogia “Ovo”, “Leite”, “Mel”. O último recebeu o título de “Um Doce Olhar”,
no Brasil. É de uma beleza ímpar, um
drama intimamente ligado à natureza, que é mostrada num colorido
brilhante. Pois bem, GRÃO é outra coisa. O outro lado dessa história. É uma ficção científica, em preto e branco,
que se passa no mundo da Terra Morta, após atravessar-se um muro tecnológico
que a separa da Natureza Livre. Um caos
genético está em andamento, a destruição, avançada, e os caminhos ainda
possíveis muito complicados de se trilhar.
Ou seja, o cineasta que celebra a natureza e a vida simples, nos outros
filmes, se desespera pelo que o ser humano faz com ela e com a manipulação
genética, em particular. Diferente do
que se poderia esperar dele, à primeira vista, mas muito bom também.
SEM DATA, SEM ASSINATURA é um filme do Irã, que coloca um
dilema moral que se diversifica, se transforma em outro. E provoca o tempo todo o espectador,
levantando a dúvida daquilo que seria mais relevante num caso que envolve um
acidente de um carro com uma moto, um médico e sua mulher, também médica,
patologistas forenses, a venda e consumo de carne velha e a morte de uma
criança. A sustentação da história só
ocorre porque informações que poderiam ser perfeitamente compartilhadas não o
são. O que parece revelar a dificuldade
de estabelecer relações de confiança, mesmo entre pessoas tão próximas, como
marido e mulher, tanto na classe alta quanto nos extratos populares. Uma questão iraniana, dos seres humanos, ou
apenas um mote para o roteiro poder funcionar?
Um bom trabalho do diretor Vahid Jalivand, em seu primeiro longa.
UMA QUESTÃO PESSOAL |
UMA QUESTÃO PESSOAL, dos irmãos Paolo e VittorioTaviani,
da Itália, é um filme simples e bonito.
Passa-se no Piemonte, em 1943, envolvendo dois participantes da
Resistência Italiana, na Segunda Guerra Mundial. Eles se alistam e lutam contra os fascistas,
mas têm em comum, além disso, o desejo por uma mulher, Fúlvia. Estamos no clima de guerra, mas o filme não
destaca o lado político dela. Milton, em
meio à guerra, procura por seu amigo e rival, Giorgio, que caiu nas mãos dos
fascistas, mas suas razões são de ordem pessoal, como diz o título do filme. É um trabalho para se curtir com calma,
apreciando a beleza do lugar, a filmagem elegante, o desempenho do elenco. Tem a chancela desses fabulosos irmãos
cineastas, que sempre trabalharam juntos e assim continuam, Paolo, com 86 anos,
e Vittorio, com 88.
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