quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

COMENTÁRIOS BREVES SOBRE FILMES EM CARTAZ

Antonio Carlos Egypto

 
LION


LION – UMA JORNADA PARA CASA, dirigido por Garth Davis, é um filme que tem uma causa: a das crianças abandonadas.  Parte da história real do indiano Saroo Bierley, que escreveu o romance autobiográfico A Long Way Home sobre suas lembranças da infância na Índia, da perda nas ruas de Calcutá , da sua adoção por um casal de australianos e da sua vida no novo país.  O retorno à sua aldeia natal na Índia se fará aos 25 anos de idade, a partir do aplicativo Google Earth, capaz de achar uma casa perdida nos confins da Índia.  Como se vê, o filme também serve a interesses de propaganda. É daqueles filmes para emocionar, com a participação do ator mirim indiano Sunny Pawar, muito bom, e um elenco que tem Dev Patel (aquele de “Quem Quer Ser um Milionário?”), Nicole Kidman, Rooney Mara e David Wenham. Cinco indicações ao Oscar 2017. 119 min.


JACKIE


JACKIE, o filme estadunidense do já conceituado diretor chileno Pablo Larraín, é uma cinebiografia de Jacqueline Kennedy.  Mostra sua vida na Casa Branca, no período em que ocorrem o assassinato do presidente John Kennedy e suas exéquias.  Não aborda sua vida anterior, nem posterior, ao lado do milionário grego Onassis.  E o interesse do filme não se prende apenas ao fato histórico, já sobejamente conhecido, nem mesmo a quem era a famosa primeira-dama e suas reações.  Pelo menos não só a isso.  Na verdade, o que Larraín quer discutir é a construção da narrativa.  As versões em jogo, a luta de Jackie para marcar, difundir e valorizar a trajetória do presidente e seu legado, em meio a outros interesses e versões que pretendiam minimizar o episódio e suas consequências.  Ela lutou pela sua verdade, sabendo ser tão manipuladora quanto todas as outras, junto à mídia da época e em busca dos símbolos que um sepultamento marcante pode engendrar na mente das pessoas e na história.  Esse é o grande mérito do filme, em tempos de pós-verdade, em que os fatos nem contam mais, um tiro certeiro.  Natalie Portman vive uma Jackie a um tempo contida nos gestos, expressões e falas, mas forte e decidida, no figurino que marcou época.  O elenco tem ainda Peter Sarsgaard, Greta Gerwig, Billy Crudup e John Hurt. Três indicações ao Oscar 2017.  Duração: 100 min.


MARGUERITE & JULIEN


MARGUERITE & JULIEN: UM AMOR PROIBIDO procura tratar do incesto como um tema universal, essencial, que independe de contexto.  A sua interdição abrange, de fato, todas as culturas, tempo e lugares.  Mas as reações, as punições e os sentimentos variam, evidentemente.  O filme começa afirmando que Marguerite e Julien viveram há muito tempo atrás, sem precisar em que época.  Mas o que se vê, o castelo, a ambientação rural, a locomoção por cavalos, as roupas, etc., remontam, digamos, ao século XIX.  No final, surge a informação de que o casal morreu em 1603.  Um jogo de pebolim, uma máquina fotográfica Rolleiflex e até mesmo um helicóptero que aparecem procuram embaralhar tudo.  Mas não existe essência sem contexto e a brincadeira não faz sentido, no dramalhão em que se converterá a história.  A narrativa se perde na forma, embora o filme seja visualmente bonito, inclusive com algumas soluções visuais atraentes e até um certo maneirismo, dispensável.  A diretora, Valérie Donzelli, exagerou na dose.  O trabalho do casal de protagonistas Anais Demoustier, como Marguerite, e Jérémie Elkaïm, como Julien, não chega a salvar o filme, porque a moldura que os envolve é inconsistente, mesmo sendo uma livre adaptação de um fato que sucedeu.  Belo, sim, mas carente de veracidade.  105 min.


ATÉ O ÚLTIMO HOMEM


ATÉ O ÚLTIMO HOMEM, de Mel Gibson, com Andrew Garfield, Vince Vaughn, Teresa Palmer, Sam Worthington e Hugo Weaving, é um filme de guerra paradoxal.  Conta a história verdadeira de Desmond Doss, um médico jovem que se alista voluntariamente, por patriotismo, para servir na Segunda Guerra Mundial.  Porém, como objetor consciente, se recusa a pegar em armas e matar alguém, mesmo em meio às batalhas em que participa, cuidando dos que se ferem.  Além disso, é vegetariano.  Sobreviveu e acabou condecorado com a Medalha de Honra, por ter salvado muita gente.  O filme tem aquele estilo religioso e moralista que conhecemos de Mel Gibson.  É longo e violento, com requintes sangrentos.  Mostra os japoneses indestrutíveis, perigosos e sem rosto.  Ou seja, sem humanidade.  E, como observou o crítico Celso Sabadin, não tem negros lutando na guerra.  Pode?  No entanto, “Até o Último Homem” tem seus méritos: você entra na batalha, vive a guerra por dentro, como se fosse um soldado ali metido.  As cenas de guerra são espetaculares e mostradas sob diferentes formas.  A filmagem é requintada e realista.  Para quem curte filmes de guerra, um prato cheio. Seis indicações ao Oscar 2017. Duração: 138 min.



A GAROTA DESCONHECIDA


A GAROTA DESCONHECIDA, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, mais uma vez põe em evidência um dilema moral. Desta vez o de uma jovem médica que não atende a campainha após o expediente e fica sabendo que a pessoa que procurou o consultório morreu. A partir daí o filme vai pouco a pouco moldando as ações movidas pela culpa. É um belo trabalho, mas tem problemas com a verossimilhança e com a solução do caso, que acontece em desacordo com o clima do filme.  Durante os 106 minutos da projeção, não pude evitar de pensar que os badalados irmãos belgas Dardenne já estiveram em melhor forma.  Com Adéle Haenel, Jérémie Renier, Fabrizio Rongione.



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