Antonio Carlos Egypto
O BOTÃO DE PÉROLA ( El Botón de Nácar) Chile, 2014, Direção e roteiro: Patricio Guzmán, Documentário, 82 min.
A água vem do espaço, cria a vida, alimenta e serve
de rota para povos indígenas da Patagônia e navegadores estrangeiros, forma a
fronteira mais longa do Chile e é cemitério de “desaparecidos”
do regime de Pinochet. Os oceanos contêm
história e memória, podem também ter voz.
O botão de pérola encontrado no fundo do mar é uma dessas vozes
eloquentes.
O filme de Patricio Guzmán, um dos maiores
documentaristas da atualidade, é extraordinariamente bem construído, de uma
beleza plástica incontestável e não deixa um fio solto. Todos os elementos levantados são muito bem
amarrados e integrados num todo não só compreensível como inovador,
surpreendente, até.
No cinema contemporâneo, a gente admite micro
histórias, excertos, fios narrativos, ideias soltas ou sugeridas. É um caminho alternativo. Mas quando se vê um filme tão bem planejado e
realizado como O BOTÃO DE PÉROLA, fica evidente a superioridade de um produto
estruturalmente completo. Trata-se de um
documentário astronômico, etnológico, histórico, geográfico e político, que nos
dá uma dimensão ampla e abrangente do Chile, em múltiplos aspectos do país.
Apenas para lembrar, é de Patricio Guzmán a trilogia A
BATALHA DO CHILE, de 1975, 1977 e 1979, e o espetacular NOSTALGIA DA LUZ, de
2010 (Veja crítica de fevereiro de 2015, no cinema
com recheio). Com O BOTÃO DE PÉROLA,
ele reafirma sua capacidade de construir obras complexas, plasticamente
arrebatadoras, que são verdadeiras maravilhas do cinema documental.
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