Antonio Carlos Egypto
NÓS, ELES E EU (Ney:
Nosotros, Ellos y Yo). Argentina,
2015. Direção e roteiro de Nicolás
Avruj. Documentário. 85 min.
Nicolás Avruj é argentino de origem judaica. Sua família, de perfil progressista, preserva
tradições de ideais judaicos, como o sionismo, que fizeram parte de sua
educação. Aos 16 anos de idade, Nicolás
ganhou uma viagem para conhecer Israel e, anos mais tarde, quis aprofundar o
conhecimento daquela realidade, ficando mais tempo por lá e explorando o que
não tinha visto ou entendido.
A oportunidade surgiu em 2000, a propósito de visitar
um primo que estava vivendo temporariamente em Tel Aviv. Só que, enquanto ele voava para lá, o primo
voltava para a Argentina. De modo que o
plano não vingou.
Nicolás Avruj |
Nicolás não se deu por achado, ficou cerca de três
meses em viagem exploratória, arrumando jeitos de se hospedar, realizando
pequenos trabalhos para bancar a viagem e, empunhando permanentemente sua
câmera, foi conhecer tudo o que podia, tanto de Israel quanto da Palestina.
Para começar, não se apresentava como judeu, mas como
argentino, simplesmente. isso lhe
permitiu conviver com palestinos na Faixa de Gaza, inclusive aceitando
hospedagem na casa deles. Pôde conhecer as condições de vida, o cotidiano, os
sentimentos e os valores que os movem.
Entender o posicionamento da OLP (Organização para a Libertação da
Palestina), então regida por Yasser Arafat, e até filmar uma assembleia do
Hamas. E também constatou o medo, a
opressão, a revolta, o ódio, que estão presentes na vida daquele povo.
Por outro lado, conviveu com judeus ortodoxos, com os
de pensamento radical militarista, com os críticos da política do governo de
Israel daquele momento, com uma jovem que visita casas de palestinos, como ele
fez. Ou seja, de todos os matizes. Além dos pouco informados sobre a realidade
dos palestinos.
O que ele registrou ao longo desses meses é de uma
preciosidade incrível, é um relato veraz de um conflito que parece eterno e
insolúvel. As imagens passeiam por Tel
Aviv, Jerusalém e seus diversos lados e contextos, Cisjordânia e Gaza,
revelando a coragem e a audácia do cineasta argentino. Ele atravessou os muros da incompreensão e
pôs em xeque a relação entre o bem e o mal, com uma honestidade admirável.
De posse desse vasto material colhido, que chega a
registrar a Segunda Intifada, ele não pôde trabalhar com isso de imediato. Era forte e impactante demais. Só quinze anos depois foi possível editar
tudo isso, para produzir o documentário “Nós, Eles e Eu”, que acaba de ser
lançado nos cinemas. É um trabalho incrível,
que merece ser conhecido.
Quando alguém pergunta hoje ao cineasta de que lado
ele está, de Israel ou da Palestina, isso é o que mais o incomoda. As coisas não são assim e não é possível
responder essa perguntar, é sua convicção. Vendo o filme, percebe-se o impacto
que causou nele, e causa em nós, espectadores, tudo aquilo. Claro que só é possível desejar a paz, mas
como, diante de tudo o que ele nos mostra?
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