terça-feira, 1 de setembro de 2015

NUMA ESCOLA DE HAVANA


Antonio Carlos Egypto




NUMA ESCOLA DE HAVANA (Conducta).  Cuba, 2014.  Direção e roteiro: Ernesto Daranas.  Com Alina Rodríguez, Armando Valdéz Freire, Silvia Águila, Yuliet Cruz.   108 min.


O filme cubano “Numa Escola de Havana” vai sensibilizar e interessar a todos os que acreditam no processo educacional realizado com afeto, dedicação e respeito pelos alunos.  Quem crê na educação como fonte de crescimento e desenvolvimento humanos, não deixará de se comover com a complicada trajetória do garoto Chala (Armando Valdéz Freire) e sua professora, uma educadora de mão cheia, Carmela (Alina Rodríguez), que parece ser a única pessoa capaz de compreendê-lo.




Não é mesmo uma tarefa fácil acolher Chala.  Ele, aos 11 anos de idade, já é bem escolado nas malandragens da vida.  Treina cães de briga e pega pombos no ar, para conseguir alguns trocados para sobreviver.  Sua mãe, viciada em drogas, não é capaz de se sustentar, muito menos de cuidar do filho, de quem não sabe ao certo quem seja o pai.

Num quadro assim, se a escola se omitir, uma vida estará irremediavelmente comprometida, perdida para o crime e a violência, o que já se anuncia.  Mas a professora Carmela, já há cinquenta anos em atividade, tanto quanto os dirigentes cubanos, como ela cita no filme, conhece bem seu trabalho e sua responsabilidade social.  Não abre mão deles, nem de sua autoridade em sala de aula.  Mesmo quando o conflito se agrava e ela tem de enfrentar a supervisão, que exerce controle sobre a escola pública, com a recomendação de enviar Chala a uma escola de conduta, ou seja, uma espécie de internato correcional.  Ou quando uma bobagem, como um santinho colocado por uma aluna no quadro de avisos da classe, pode se tornar um problema para os conceitos de educação leiga cultivados pelo Estado cubano.




A educadora Carmela faz do respeito profundo pelo outro sua razão de vida, para além de qualquer burocracia ou regulamento que, por definição, invertem os valores das coisas e podem produzir muita injustiça e sofrimento às pessoas.  Quem trabalha em educação sabe que, muitas vezes, esses entraves podem ser fatais para o processo de educar.  E se não forem enfrentados, de tanto perder batalhas, perde-se a própria guerra.

“Numa Escola de Havana”, por meio da figura da personagem Carmela, celebra o processo educacional como meio de libertação.  A exemplo das pombas que anseiam por voar nas mãos do garoto Chala. A grande atriz Alina Rodríguez, que dá vida à educadora Carmela, faz um belo trabalho que, infelizmente, foi o seu derradeiro.  Ela faleceu em julho último.  Vale a pena vê-la na tela.



O garoto Armando Valdéz Freire, que faz Chala, é muito expressivo e convincente, num papel que, ao que parece, tem muito a ver com a sua própria história de vida.  E, naturalmente, com as questões sociais que, na pequena ilha de Cuba ou no nosso grande Brasil, parecem sempre se aproximar.

“Conducta”, o título original do filme, já foi exibido em muitos festivais pelo mundo e recebeu prêmios importantes, além de ser indicado para representar Cuba junto ao Oscar 2015 e ao prêmio Goya espanhol.  Ganhou o de melhor filme no festival de cinema de Havana 2014.




O filme está sendo apresentado como “Os Incompreendidos” cubano, com referência ao clássico da nouvelle vague de François Truffaut, de 1959, pela similaridade da história que é contada.  Há muitos pontos em comum, mas não dá para fazer uma comparação dessas.  Se for por aí, “Numa Escola de Havana” também dialoga com filmes brasileiros de peso, como “Central do Brasil”, de Walter Salles, de 1998, ou “Pixote”, de Héctor Babenco, de 1980.  Mas se o filme de Ernesto Daranas não chega a esses patamares de excelência, nem por isso deixa de ser um belo produto atual, que recicla o papel humanista e reparador da educação com talento e beleza.


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