sexta-feira, 4 de setembro de 2015

DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA


Antonio Carlos Egypto




DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA (Journal de Une Femme de Chambre).  França, 2015.  Direção: Benoît Jacquot.  Com Léa Seydoux, Vincent Lindon, Clotilde Mollet, Hervé Pierre.  96 min.


“Diário de Uma Camareira” é um filme de Benoît Jacquot, com base em livro de Octave Mirbeau, publicado em 1900.  É uma boa história, um tanto datada, mas sempre interessante de se ver.  E o diretor é corajoso, a mesma trama já foi filmada por Jean-Renoir e Luís Buñuel.  Na versão de Buñuel, de 1964, o papel principal coube simplesmente a Jeanne Moureau.  Comparações complicadas de se fazer.  Fica sempre a questão: precisava refazer o que já foi bem feito? 

Na versão atual, de 2015, o papel de Célestine, a camareira, coube a Léa Seydoux, que põe sua beleza e seu estilo blasé a serviço de um personagem ambíguo: de um lado, subserviente, demonstrando aceitar a condição de empregada doméstica que se permite deixar escravizar.  De outro, com uma revolta latente e a busca pelo momento de virar o jogo.  No filme, falas sussurradas (a la Collor, xingando Janot no Congresso Nacional, num dia desses) tentam explicitar esses sentimentos e essa ambiguidade.  Não gostei do recurso, desnecessário. Isso tem de vir dos gestos, olhares, postura.  E a atriz consegue transmitir isso bem.




A trama se concentra no trabalho de Célestine, que vem de Paris para a família Lanlaire, na região de Provence.  A camareira, além de bonita e vistosa, se veste muito bem com as roupas da época (fim do século XIX, início do XX). 

Maltratada pela patroa, assediada pelo patrão, tentando se entender com os outros empregados da casa, ela vai sondando o ambiente, em busca de alcançar seus objetivos.  Encontrará em Joseph (Vincent Lindon), o jardineiro e faz-tudo, empregado de absoluta confiança da casa, um parceiro potencial.  O problema é que ele manifesta um antissemitismo radical: tudo o que há de mal é atribuído aos judeus, a origem do que virá algumas décadas depois a produzir o Holocausto.  Célestine não vê diferença entre as patroas judias e as demais, mas nem por isso desiste dessa parceria.




O enredo vai tomando rumos que surpreendem e conseguem envolver o espectador. Em que pese o diversionismo da direção, que, abruptamente, intercala cenas de flash back que, na verdade, não precisariam existir. As experiências passadas da camareira, apesar de fortes, não alavancam a narrativa, na verdade a dispersam. Caberiam em poucos diálogos, alguns até já estão no filme.  E outros poderiam ser acrescidos.  Bastaria isso.

A questão da confiança na relação patrão-empregados e os conflitos de classe inevitáveis estão bem expostos no filme, o elenco é de primeira, trata-se de uma boa produção, mas não basta, faltam brilho e inventividade.  A nova versão de “Diário de Uma Camareira” é apenas mediana.



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