terça-feira, 15 de setembro de 2015

FESTA DE DESPEDIDA


Antonio Carlos Egypto




FESTA DE DESPEDIDA (Mita Tova).  Israel, 2014.  Direção: Tal Granit e Shayron Maymon.  Com Ze’ev Revach, Levana Finkelstein, Aliza Rosen, Ilan Dar.  95 min.


O filme israelense (coprodução alemã) “Festa de Despedida” é mais um dos produtos que se ocupam da velhice como etapa de vida.  Oportuno isso, na medida em que a população mundial envelhece, especialmente onde há desenvolvimento econômico e os progressos da medicina estão disponíveis.  A redução das taxas de natalidade, típicas da modernidade, também contribui enormemente para isso.

Atualmente, personagens envelhecidos têm sido frequentes no cinema, dando oportunidade aos atores e atrizes que adentram a faixa dos 70 ou mesmo dos 80 anos de idade.  Outro ganho interessante para o público: poder rever grandes talentos em ação, que não deveriam mesmo estar fora das telas só porque agora têm a pele enrugada e perderam a beleza e o vigor da juventude.




Em “Festa de Despedida”, a maioria dos personagens já passou da barreira dos 80 anos.  Inevitável, portanto, que o tema da morte, agora já mais próximo, apareça.  Assim como as doenças mais sérias e incapacitadoras.  E, consequentemente, o genuíno desejo de morrer.  Para alguns, chegou a hora de parar de sofrer e o falecimento seria uma bênção.

Ocorre que as circunstâncias da morte e o momento em que ela se dá escapam ao nosso controle.  Ninguém quer morrer de forma dolorosa, prolongada, sofrida.  Então, se coloca a questão: as pessoas têm o direito de optar por uma morte rápida, confortável, sem dor, a partir do momento em que a vida não faça mais sentido para ela, em função das agruras terminais que lhe traz? 




Sim, o assunto do filme é a eutanásia, um tabu raras vezes tratado no cinema.  Aqui, um grupo de amigos anciãos de Tel-Aviv tentam se ajudar e acabam produzindo uma  máquina de auto-eutanásia, como solidariedade a um grande amigo que deseja partir.  Pela lei brasileira, ainda que o paciente terminal manifeste seu expresso desejo de morrer e acione a alavanca voluntariamente, isso é homicídio.

O que pode ser entendido como suicídio assistido também gera polêmica, sobretudo no terreno religioso.  Para os personagens de “Festa de Despedida”, é pura solidariedade.  O filme coloca humor em muitas das sequências que mostra.  Não é exatamente uma comédia, nem daria para ser com um tema dessa importância e gravidade, mas a dupla de cineastas soube tratar do assunto com leveza e até alegria.  Como dizia a velha canção de Billy Blanco (1924-2011), “o que dá pra rir dá pra chorar”.  Pois é!




Os questionamentos que o filme levanta são muito bons, as atitudes dos personagens, muito dignas e realistas, mesmo quando um pouco atrapalhadas e, portanto, engraçadas. A máquina que soluciona o problema do amigo comum gera expectativas em outros.  Ao que parece bom, e funciona, outros também querem poder ter acesso.  Justo, mas complicado.  O filme não se exime das grandes questões.  Por exemplo, faz sentido realizar um grande empenho em salvar uma vida, utilizando toda a rapidez e recursos médicos possíveis, sendo que a pessoa atendida só está esperando que chegue a sua hora para poder descansar e morrer em paz?  Enfim, um filme inteligente e corajoso.




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