quarta-feira, 17 de junho de 2015

MINHA QUERIDA DAMA


Antonio Carlos Egypto



MINHA QUERIDA DAMA (My Old Lady).  Estados Unidos/Reino Unido, 2014.  Direção e roteiro: Israel Horowitz.  Com Kevin Kline, Maggie Smith, Kristin Scott-Thomas.  106 min.


“Minha Querida Dama” marca a estreia na direção cinematográfica do escritor Israel Horowitz.  Ele também fez o roteiro, adaptou para o cinema, a sua própria peça teatral: My Old Lady.

É uma daquelas peças que vão abrindo, camada a camada, os interditos, os segredos, as mágoas, as frustrações, as expectativas e dificuldades de relacionamento que acometem a vida familiar, desde sempre.  Revelações mudam a dimensão das coisas e dos fatos conhecidos, abrindo novas possibilidades.  É um texto intrigante, capaz de envolver o espectador na narrativa.




Embora fundamentalmente entrem em cena apenas três personagens num mesmo ambiente, um apartamento muito grande, o filme escapa da armadilha de virar teatro filmado.  O diretor e dramaturgo Israel Horowitz fez uma adaptação dinâmica, colocando alguns personagens secundários para contracenar com dois dos protagonistas pelas ruas e ambientes parisienses, acrescentando dados novos ao cerne da história e arejando a cena.  O resultado é bastante convincente.

Um dos protagonistas da trama é Mathias, um homem atormentado, triste, insatisfeito com a vida, umbilicalmente ligado à sua infância e às carências que identifica nela e nas relações conflituosas com o pai, a quem ele muito rejeita, e com a mãe, que sucumbiu diante do que não podia suportar.  O ator norte-americano Kevin Kline encara o desafio desse personagem com inegável competência.




Outra protagonista é Chloé,  uma mulher ainda jovem e muito ativa, mas que não se encontrou muito bem na vida, tanto profissional quanto afetiva, e, na realidade, gira ao redor de sua mãe, com quem sempre morou, num imenso apartamento em Paris.  A atriz inglesa Kristin Scott-Thomas é muito eficiente ao revelar, no seu desempenho, o que há por trás dessa mulher e as mudanças que se efetivarão.





A terceira protagonista é a velha senhora Mathilde, de 92 anos, vivida pela grande atriz inglesa Maggie Smith, num show de interpretação.  Ela é brilhante nos detalhes, nas sutilezas do que sente e faz a sua personagem e em como ela lida com o que desconhece da história.  Ela não sai de casa, pouco consegue se movimentar, mas é a figura mais forte e marcante da trama.  É em torno dela que tudo acontece.





Com um belo texto, bem trabalhado em termos cinematográficos por seu autor e atuações desse porte, o filme deslancha.  Tem muito espaço para reflexão e bom ritmo.  Envolve, surpreende, emociona.  Vale a pena ver.




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