terça-feira, 17 de março de 2015

MAPAS PARA AS ESTRELAS


Antonio Carlos Egypto




MAPAS PARA AS ESTRELAS (Maps To The Stars).  Canadá, 2014.  Direção: David Cronenberg.  Com Julianne Moore, Mia Wasikowska, John Cusack, Robert Pattinson.  111 min.



Do diretor canadense David Cronenberg pode-se esperar quase tudo, menos personagens e tramas convencionais.  Geralmente, são pessoas que sofrem na carne algum tipo de trauma, acidente, violência ou mutação.  Literalmente na carne, porque a dor está sempre no corpo e os personagens se movem muito em função disso.  Há sempre elementos inesperados ou misteriosos em jogo.




Em “A Mosca”, de 1986, ele explora a transformação de homem em mosca, realizada por uma máquina, revisitando com vigor uma história já filmada anteriormente.  Em “Mistérios e Paixões”, de 1991, fantásticos delírios perceptivos são induzidos pelo uso de certas drogas.  Em “Spider”, de 2002, é a doença mental, a esquizofrenia, que é mostrada nessa aranha humana que nada tem a ver com a figura do super-herói.  Nele, acompanhamos o profundo drama psicológico – e físico  -- do personagem. Em “Marcas da Violência”, de 2005, um homem marcado por um passado que envolveu luta corporal e morte está condenado a voltar à tragédia que deu origem a seu sofrimento.  São apenas alguns de seus filmes, todos muito bons, viscerais, provocadores.  Mas que exigem estômago forte para sua fruição.

Em “Mapas Para as Estrelas”, seu filme mais recente, agora em cartaz, elementos semelhantes aparecem em personagens algo bizarros e estranhos, num mundo que, por si só, já se destaca pela excentricidade: o do cinema de Hollywood.




Não há muita novidade na estrela decadente que se vê preterida no papel que tanto ansiava fazer e mesmo na sua satisfação diante do problema que acomete sua concorrente.  Ou no intragável ator mirim que alcançou fama e fortuna, mas também tem seus reveses.  Ou, ainda, no psicólogo das celebridades.  Coisas como essas estão lá, mas não constituem o cerne da história.  Há muitas coisas por trás disso, relações insuspeitas, mistérios e, para não perder o hábito, deformações físicas.  Mas ele se permite mexer no principal tabu que há: o do incesto.  E o faz com originalidade e de um ponto de vista não convencional. 

“Mapas Para as Estrelas” tem um elenco forte, que segura a barra do cinema de Cronenberg. Julianne Moore, recentemente oscarizada por “Para Sempre Alice”, está muito bem aqui, também. Mia Wasikowska, muito boa atriz, o ótimo John Cusack, Robert Pattinson e os outros dão conta dessa trama que requer muita intensidade dramática por parte de todos.




A gente sai do cinema tocado pela força da temática e pela força das imagens, um ponto alto do cineasta, que constrói algumas cenas belas, mas também desconcertantes.  Haverá quem rejeite, atribua todo esse estranho universo retratado no filme à loucura do diretor.  Bem, de gênio e de louco todo mundo tem um pouco, não é assim?



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