Tatiana Babadobulos
7 Caixas (7 Cajas). Paraguai, 2012. Direção: Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori. Roteiro: Tito Chamorro e Juan Carlos Maneglia. Com: Celso Franco, Víctor Sosa, Lali Gonzalez. 100 minutos
O sonho de Vítor (Celso Franco) é aparecer na
televisão, tal como ele costuma ver nas telas dos aparelhos espalhados em uma
grande feira na cidade onde vive, Assunção, no Paraguai. Conversando com a
irmã, descobre que o celular é capaz de filmar. Quando se dá conta, o tal
celular, vendido por 700 guaranis, vira seu objeto de desejo, quase uma
obsessão. Mas, para conseguir a peça, é preciso trabalhar e ganhar dinheiro.
Seu trabalho, aliás, é carregar os pacotes das pessoas que compram na tal
feira.
Assim começa o thriller paraguaio “7 Caixas” (“7
Cajas”), em cartaz atualmente em São Paulo. E são justamente sete caixas (daí o
nome do filme) que o garoto terá de guardar “como se fosse sua própria vida” e
entregá-las no momento certo e no local combinado. Se fizer tudo certinho,
Vítor vai ganhar cem dólares, dinheiro prometido pela pessoa que fez a
encomenda. Mas para garantir que as caixas chegarão ao destino, cada um fica
com metade de uma nota de cem dólares: no dia combinado, elas poderão ser
unidas.
Os diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori
fazem analogias o tempo inteiro com o cinemão americano. É verdade que o seu
país não tem tradição cinematográfica, o que o leva “imitar” as referências.
Mas os realizadores vão além. Pra começar, rasgam a nota de cem dólares e fazem
questão de mostrar isso em close ao espectador. Antes disso, mostra quanto vale
o dinheiro, se convertido para a moeda local: compara o valor do celular e de
remédios, com o valor de cem dólares, e coloca seu protagonista para correr.
Ao invés de a correria ser feita em carrões, ela é
realizada com carrinhos de mão, mostrando a pobreza paraguaia. Mesmo sem
necessidade, lá pelas tantas, cada personagem tem o seu. E vamos para a
correria com a câmera na mão, com closes e referências a filmes americanos, mas
sem deixar completamente de lado o clássico “Cidade de Deus”, de Fernando
Meirelles, já que se passa em um conjunto habitacional carioca.
O filme brasileiro fala de pobreza e do tráfico de
drogas; já o paraguaio trata principalmente da violência e da pobreza,
mostrando, por exemplo, a dificuldade que se tem para comprar remédio para o
filho doente ou de pagar o parto do outro que vai nascer.
Se “Cidade de Deus” era contemporâneo ao seu
lançamento, embora conte com diversos flashbacks, “7 Caixas” não tem muita
clara a época em que o filme se passa. Uma das referências que serve como base
para essa confusão é o modelo dos celulares que aparecem como objeto de desejo.
“7 Caixas” não para. Traz uma reviravolta atrás da
outra (outro cacoete de filmes americanos), mas consegue manter o espectador
vidrado em saber, primeiro, o conteúdo da caixa, e depois em como o garoto vai
se livrar da perseguição e, claro, conseguir a metade da nota que lhe foi
prometida no começo do filme. Uma das metas já é clara, Vítor aparece na
televisão, tal como ele fazia questão de se ver.
“7 Caixas” não tem nada de falsificado: é legítimo e
autêntico. O longa-metragem surpreende e é um bom começo para conhecer, quem
sabe, os próximos filmes paraguaios que chegarão aos cinemas brasileiros.
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