sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O LOBO DE WALL STREET

                          
                  
Antonio Carlos Egypto



O LOBO DE WALL STREET (The Wolf of Wall Street)Estados Unidos, 2013.  Direção: Martin Scorsese.  Com Leonard DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Matthew McConaughey.  179 min.



O mundo financeiro, com o sobe e desce das bolsas de valores e os investimentos de alto risco, onde se pode ganhar e perder muito dinheiro, é um ambiente que atrai jogadores, vendedores histéricos, manipuladores, vigaristas.  E também profissionais sérios e equilibrados.  Provavelmente, em menor escala, não sei.

A julgar pelo novo filme de Martin Scorsese, “O Lobo de Wall Street”, esse mundo já está muito corrompido e o capitalismo perdeu qualquer compostura, qualquer limite.  Só mesmo mergulhando no mundo das drogas, cada vez mais possantes, alimentado por festas, prostitutas, bacanais, tudo, tudo em excesso.



Na verdade, está contando a história de Jordan Belfort (Leonardo diCaprio), a partir de um livro de memórias do próprio.  Portanto, estamos falando de uma figura arrojada, enlouquecida, despudorada, que, explorando a boa-fé das pessoas ou o seu desejo de levar vantagem em tudo, se tornou milionário.  Comandou sua própria corretora, empregou e tornou ricos muitos amigos, colaboradores e empregados.  Um sucesso a qualquer custo, a qualquer preço, sem considerações de ordem ética.



O modo como Scorsese conduz a narrativa, no entanto, nos remete à noção de que as coisas funcionam assim mesmo por lá.  Senão, não seriam tão fáceis as conquistas de Jordan e ele não construiria um séquito de seguidores de tal ordem e entusiasmo.  Ele era persuasivo, o tipo que motiva, transborda de tão excessivo que é.  Mas não lhe faltaram admiradores ou seguidores.  Às pencas.



Scorsese retrata com maestria essa trajetória, sem pudor, e constrói cenas e sequências visualmente atraentes e entusiasmantes.  Tal como seu personagem, o diretor não se limitou, no caso, às conveniências de mercado.  Encheu o filme de dinheiro (físico, mesmo), drogas de todos os tipos, formatos e cores, com destaque para as carreiras de cocaína, excessos sexuais, nudez, exibicionismo, orgias em pleno escritório.  Loucura por toda parte.  O filme se agita para revelar em que terreno estamos pisando e que mundo é esse.  Consegue o seu intento muito bem.

Para isso, conta com uma exuberante e impressionante atuação de Leonardo DiCaprio, cuja entrega ao papel é notável.  Está perfeito, encarnando o desmedido personagem Jordan.  Ele leva o filme, sustenta a proposta ousada do diretor, sem medo de se expor.  Um ator maduro.



Destaque também para Jonah Hill, no papel de Donnie, sócio e melhor amigo do protagonista.  Da atuação dele resultam alguns dos melhores momentos satíricos do filme.  O conjunto do elenco entrou todo no espírito do excesso que marca a narrativa.  Fica tudo muito intenso, engraçado e crítico.  É um filme para curtir, mas também para refletir.  Martin Scorsese faz grandes produções, mas não está para brincadeira.  Tem muito a dizer.  No caso de “O Lobo de Wall Street”, provocar.  Revelou-se um grande provocador, injetando vitalidade no cinema de Hollywood, que, apesar de todas as brigas, explosões, guerras, destruições, super-heróis, anda muito morno, sem ideias.

Claro que toda essa maluquice, retratada por Jordan Belfort em suas memórias, contadas em off como complemento das cenas, não teria como ficar nisso.  Chega uma hora em que o próprio excesso pede sua contenção.  Aí aparecem a lei e a punição.  Só assim pudemos conhecer o relato do protagonista, senão, ele já teria sucumbido pessoalmente e, provavelmente, não teria alguém para contar essa história.  Pelo menos, não com a riqueza de detalhes com que ela é contada.




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