Antonio Carlos Egypto
O SOM AO REDOR.
Brasil, 2012. Direção e roteiro:
Kléber Mendonça Filho. Com Irandhir
Santos, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, Irma Brown, Sebastião Formiga. 131 min.
“O Som ao Redor” se destaca na produção
cinematográfica atual por apresentar um produto diferenciado e criativo que,
mesmo preocupado com a qualidade artística do trabalho, não deixa de buscar
comunicar-se com o público, que não se pretende que seja restrito.
Trata com realismo, e produzindo reflexão, da
temática da segurança nas grandes cidades e que atinge as populações mais
pobres, mas também a classe média. No
caso, um quarteirão de uma zona residencial central de Recife. Ficamos conhecendo seus moradores, seus
hábitos, dificuldades e riscos. A
violência se apresenta sempre em potencial.
Põe em evidência o papel da segurança privada que, aparentemente por
pouco dinheiro, traz tranquilidade aos moradores do local.
Se há um roubo aqui ou ali, há também moradores
especiais, com quem não se pode mexer.
Mesmo que indícios claros de roubos levem aos tais moradores
poderosos. Os seguranças particulares,
no entanto, vão se inteirando de tudo a respeito de todos. Situações muito concretas são mostradas: um
cachorro que não para de latir e torna a vida de sua vizinha um inferno, por
exemplo, parece ser uma questão insolúvel.
Os elementos vão sendo introduzidos com muita perícia
e constróem uma história que intriga, traz suspense, surpresa, e impacta ao
final. Um roteiro muito competente e uma
filmagem capaz de gerar climas tão realistas quanto estranhos e misteriosos
prende o espectador à história que vai sendo armada. Os detalhes são tão importantes que acabam
por se descolar por vezes da trama, como que a gerar novas possibilidades.
Esse clima todo é garantido pelo que o título da
película indica: o som ao redor. Os sons
urbanos vão revelando fatos e sentimentos e acabam se tornando não só um
personagem, mas o mais importante deles.
É por meio dos sons que construímos os fatos, percebemos suas
implicações e consequências. O som
produz medo, suspense, expectativa.
“O Som ao Redor” é um filme que nos remete ao mundo
complexo e potencialmente hostil do ambiente urbano contemporâneo, onde o risco
se insinua em qualquer esquina ou espaço escuro das ruas, dos prédios, das
casas, do mar. Sem deixar de levar em
conta os conflitos de classe e a história passada, que acabarão por ser
determinantes para a trama.
O diretor pernambucano Kléber Mendonça Filho produz
uma obra impactante que nos envolve, não só pelas formas convencionais com que
o cinema gera medo, tensão, suspense, como porque nos faz olhar para dentro de
nós mesmos, esquadrinhando o meio urbano que nos circunda. Esse realismo, digamos, psicológico, é o que
assusta. Mas não é simples fruto da
imaginação. É sociológico, também. É real em suas diversas dimensões.
Grande filme, premiado em diversos festivais, que já
se apresenta como candidato aos melhores de 2013. A não perder.
É cinema de primeira. Abre um
caminho muito criativo a ser explorado pelo cinema brasileiro. Resulta num produto artístico muito bem
elaborado e que, ao mesmo tempo, se comunica com um público mais amplo, na
medida em que não é hermético, e conduz uma trama que pode interessar a qualquer
um que viva em ambiente urbano, pois facilmente se identificará com os
personagens ou a situação apresentados.
Como diz a sinopse divulgada do filme “O Som ao
Redor”, é “uma crônica brasileira e uma reflexão sobre história, violência – e
barulho”.
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