sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Som ao Redor




Tatiana Babadobulos
 
O Som ao Redor. Brasil, 2012. Direção e roteiro: Kleber Mendonça Filho. Com: Irma Brown, Sebastião Formiga, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, Irandhir Santos, WJ Solha, Lula Terra. 131 minutos




Cachorro latindo, sirene, crianças brincando no quintal. Além dos problemas do cotidiano de um bairro em Recife, como a segurança, é o som que tem maior destaque no primeiro longa-metragem de ficção de Kleber Mendonça Filho.

Depois de ganhar diversos prêmios no Brasil e no exterior, e de ser lembrado pelo crítico A.O. Scott, do jornal norte-americano “The New York Times” em sua tradicional lista dos dez melhores filmes do ano, “O Som ao Redor” estreia nesta sexta-feira, 4, nos cinemas.

Em sua cidade Natal, Kleber Mendonça Filho faz uma crônica mostrando os problemas e as soluções possíveis para cada caso. Como diz a fita, os ruídos mostram quem somos.

Em uma pacata rua no centro de Recife, o rádio do carro de uma moça é furtado, enquanto ela está, pela primeira vez, com um rapaz que conheceu na noite anterior.

O ladrão tem tanto cuidado, que não chega a quebrar o vidro; ele é cuidadosamente retirado, intacto. Mas do lado de dentro, o rádio e os CDs de músicas não ficaram para contar a história.



O problema pode começar a ter solução quando a milícia, representada por Clodoaldo (Irandhir Santos, de “Tropa de Elite 2”), se mete a fazer a ronda na vizinhaça e a cobrar por ela, é claro. Uma quantia pequena de cada morador, mas oferece a garantia de que a paz voltará a reinar – além de fazer um acerto.

O som vem com tudo, porém, quando perturba a paz de Bia (Maeve Jinkings), mãe de duas crianças que tem crises de dor de cabeça por conta do latido do cachorro do vizinho que não cessa. Para aliviar a tensão, usa algumas artimanhas que começa com a compra de galões d’água...

A narrativa escrita e dirigida por Mendonça foca em diversos personagens, mas não se aprofunda em nenhum. O espectador não conhece, por exemplo, a história de Sofia (Irma Brown), a menina que tem o rádio do carro roubado. A plateia não sabe, por exemplo, se é para torcer para ela ficar com o rapaz com quem dormiu na primeira noite, ou se é melhor ela ir embora de vez.

Sobre este rapaz, João (Gustavo Jahn), que é corretor e sobrinho de Francisco (WJ Solha, de “Era Uma Vez Eu, Verônica”), homem que mais casas possui na mesma rua, também pouco se sabe. A milícia, ao contrário, o conhecimento é aprofundado, já que o mistério é revelado no final.



Apesar dos poucos problemas, o longa tem sensibilidade de discutir, durante 131 minutos, violência e barulho urbano de uma capital brasileira em uma trama agradável e rara de se ver no cinema nacional. Discute também o poder e o que o dinheiro pode comprar para garantir que a sua vontade seja ouvida – e aceita. Provoca no espectador uma reflexão: até que ponto cada um pode chegar para justificar os seus atos, como o furto de um rádio ou o calmante para um cachorro, além da corrupção.

Além de ter sido citado pelo jornal nova-iorquino, “O Som ao Redor” foi premiado nos festivais do Rio, de Gramado e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, além de festivais internacionais, como o de Copenhague e o de Roterdã, no qual foi apresentado no início de 2012.

Ex-crítico e ex-programador de cinema, o cineasta já fez vários curtas-metragens (“Enjaulado”, “A Menina do Algodão”, “Vinil Verde”, “Eletrodoméstica”, “Noite de Sexta Manhã de Sábado”, “Recife Frio”) e um documentário de longa-metragem (“Crítico”) antes de se aventurar no longa de ficção – costumeiramente o maior desejo de qualquer realizador.

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