sábado, 8 de dezembro de 2012

E AGORA, AONDE VAMOS?


Antonio Carlos Egypto
E AGORA, AONDE VAMOS? (Et Maintenant On Va Où?). Líbano-França, 2011.  Direção: Nadine Labaki.  Com Nadine Labaki, Claude Baz Monssawbaa, Leyla Hakim, Yvonne Maalouf, Antoniette Noufaily, Julian Farhat.  100 min.


Em “E Agora, Aonde Vamos”?, a cineasta e atriz libanesa Nadine Labaki constrói uma fábula sobre o convívio pacífico entre religiões e celebra a diversidade não só de culto, mas também de hábitos e valores.

A ação se passa numa hipotética aldeia rural, onde cristãos e muçulmanos coabitam na base da amizade e respeito recíprocos, enquanto ao seu redor os conflitos religiosos produzem brigas, guerras e mortes.  Minas terrestres circundam o local.  Das mortes, a história da aldeia tem o registro das mulheres vestidas de negro e do cemitério, dividido em uma parte cristã e outra, muçulmana, separadas por um caminho de terra.

O convívio pacífico tem sido possível, entre outras coisas, porque a localidade não dispunha de sinal de TV, dependia da chegada eventual de jornais trazidos pelos que iam vender as mercadorias da terra na cidade.  E, assim, muitas notícias não chegavam ou chegavam incompletas, truncadas.  Mas novos tempos vão abrindo novas possibilidades à comunicação.



O que, na realidade, garante a paz na comunidade é a sapiência das mulheres, tanto de um lado como do outro.  Apesar de todos os percalços, elas sempre encontram uma saída para barrar a agressividade e o instinto belicoso que a qualquer momento pode brotar dos homens da aldeia.  Elas são tão sábias que são capazes de se colocar no lugar dos outros e entender as diferenças, inclusive simbólicas, que poderiam separá-los, para que isso não aconteça.

Essa fábula idealizada, recheada de bom humor, faz lembrar o trabalho anterior da cineasta: “Caramelo”, de 2007.  Mas aqui a seriedade do registro é maior.  A abrangência do tema, também. A idealização, por seu turno, é um caminho para apontar a estupidez dos conflitos em que sempre alguém está se vingando do que o outro lado faz e em que pessoas do povo se agridem, se atacam, destróem relacionamentos, em nome de diferenças genéricas de princípios e valores.  O humor da fita explora justamente esses disparates.  O ridículo revela aquilo que não pode continuar sendo como é.

A trama tem seus problemas.  O papel das mulheres estrangeiras, belas e sensuais, está mal amarrado à história e não convence.  E podemos levantar alguns outros questionamentos.  Por exemplo, quem não for cristão nem muçulmano como se inseriria nessa aldeia?  Há espaço para quem não crê?  No mundo ideal apresentado aqui, além de outras crenças, ateus e agnósticos teriam de ser lembrados e aceitos.  A divisão em apenas dois grupos facilita a transmissão da mensagem a que o filme se propõe, embora simplifique a questão.

“E agora, aonde vamos?” é um trabalho relevante e divertido, que também serve a quem busque simples entretenimento.  A vantagem é que essa é uma diversão que faz pensar.  É importante que o público torça pelos personagens femininos, por seu sucesso e pela paz.  É disso mesmo que estamos precisando nesse já tão conturbado século XXI.

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