Antonio Carlos Egypto
BULLYING (Bully). Estados Unidos, 2011. Direção: Lee Hirsch. Documentário.
99 min.
A constatação de que crianças se
suicidam em consequência do sofrimento causado por serem vítimas constantes de bullying em ambiente escolar, nos Estados Unidos, produziu um movimento da
sociedade civil para lutar contra isso.
O movimento partiu de pais dessas crianças que, em diversos pontos do
país, encontraram seus companheiros de indignação e luto. A eles se juntaram pessoas que, por já terem
vivido esse martírio, querem contribuir para a solução do problema. A julgar pelo que mostra o documentário, as
cidades pequenas são mais atingidas pela situação.
O trabalho de Hirsch foi o de
documentar essa resistência civil, partindo de casos concretos. Os pais de um garoto que se suicidou são
líderes da organização e contam sua trágica história. Outros estão descobrindo agora o problema com
seus filhos. É o caso de um garoto
tímido, cujos pais tiveram, pela constatação da câmera do diretor, a
confirmação de que seu filho apanhava todos os dias no ônibus escolar, sem que
ninguém interviesse para impedir isso.
Há o caso de uma jovem lésbica fortemente discriminada e o de uma jovem
negra, que tentou reagir às constantes agressões que sofria, puxando uma arma,
e acabou na cadeia.
Enfim, com tais casos mostra-se a
gravidade do tema e o que está acontecendo com muitas crianças, não só na
América, mas em todo o mundo. No caso
dos Estados Unidos, fica também evidente, nas filmagens do diretor, o quanto as
escolas ignoram, se omitem ou não sabem tratar do assunto. E, com certeza, esse não é um fenômeno
restrito àquele país.
O apoio declarado à organização
da sociedade civil para enfrentar o bullying dá
ao documentário um sentido militante.
Isso pode ser um problema, embora possa servir para sensibilizar os que
desdenham a importância do assunto, mas não é o maior problema. A questão é que é preciso entender melhor do
que se trata e o que seria eficaz para atuar na prevenção do bullying. Se nem a escola, nem a polícia, nem os próprios pais sabem como
abordar o assunto, é porque se trata de algo que está enraizado no tecido
social e não será apenas com controle e punição que se alcançará êxito nessa empreitada. Nem é sendo amigo ou ajudando pessoas
individualmente que se conseguirá algo mais sólido. Por parar por aí é que me parece que o filme
fica superficial e ingênuo, em que pesem suas boas intenções.
Crianças ou adolescentes, por
serem ainda imaturos, podem ser mais cruéis, proporcionalmente do que os
adultos e não avaliarem os estragos que produzem na vida dos colegas e
amigos. Cabe aos educadores, tanto na
escola quanto em casa e nas instituições, combater a intolerância, trabalhar a
necessidade do convívio com a diversidade e, sobretudo, combater os
preconceitos, em todos os âmbitos possíveis.
Isso se faz com informação, trazendo o conhecimento onde há ignorância,
desrespeito ou atitudes inconsequentes.
Supõe também um trabalho continuado com base no debate e na
reflexão. Afinal, educar é isso. E a ênfase para o enfrentamento do problema
passa necessariamente pela educação. Não
só dos estudantes, mas também dos educadores, pais, profissionais de saúde,
agentes comunitários e policiais.
O direito à integridade física e
mental é um direito humano de todas as pessoas e o bullying é apenas um dos aspectos dessa questão maior que se refere ao convívio
pacífico entre seres humanos que se respeitam.
E que, naturalmente, tem de começar a ser trabalhado desde muito cedo,
quando a criança começa a se socializar.
Do contrário, será preciso correr atrás do prejuízo, depois.
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