segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

BULLYING


                   
Antonio Carlos Egypto


BULLYING (Bully).  Estados Unidos, 2011.  Direção: Lee Hirsch.  Documentário.  99 min.


A constatação de que crianças se suicidam em consequência do sofrimento causado por serem vítimas constantes de bullying em ambiente escolar, nos Estados Unidos, produziu um movimento da sociedade civil para lutar contra isso.  O movimento partiu de pais dessas crianças que, em diversos pontos do país, encontraram seus companheiros de indignação e luto.  A eles se juntaram pessoas que, por já terem vivido esse martírio, querem contribuir para a solução do problema.  A julgar pelo que mostra o documentário, as cidades pequenas são mais atingidas pela situação.

O trabalho de Hirsch foi o de documentar essa resistência civil, partindo de casos concretos.  Os pais de um garoto que se suicidou são líderes da organização e contam sua trágica história.  Outros estão descobrindo agora o problema com seus filhos.  É o caso de um garoto tímido, cujos pais tiveram, pela constatação da câmera do diretor, a confirmação de que seu filho apanhava todos os dias no ônibus escolar, sem que ninguém interviesse para impedir isso.  Há o caso de uma jovem lésbica fortemente discriminada e o de uma jovem negra, que tentou reagir às constantes agressões que sofria, puxando uma arma, e acabou na cadeia.




Enfim, com tais casos mostra-se a gravidade do tema e o que está acontecendo com muitas crianças, não só na América, mas em todo o mundo.  No caso dos Estados Unidos, fica também evidente, nas filmagens do diretor, o quanto as escolas ignoram, se omitem ou não sabem tratar do assunto.  E, com certeza, esse não é um fenômeno restrito àquele país.

O apoio declarado à organização da sociedade civil para enfrentar o bullying dá ao documentário um sentido militante.  Isso pode ser um problema, embora possa servir para sensibilizar os que desdenham a importância do assunto, mas não é o maior problema.  A questão é que é preciso entender melhor do que se trata e o que seria eficaz para atuar na prevenção do bullying. Se nem a escola, nem a polícia, nem os próprios pais sabem como abordar o assunto, é porque se trata de algo que está enraizado no tecido social e não será apenas com controle e punição que se alcançará êxito nessa empreitada.  Nem é sendo amigo ou ajudando pessoas individualmente que se conseguirá algo mais sólido.  Por parar por aí é que me parece que o filme fica superficial e ingênuo, em que pesem suas boas intenções.




Crianças ou adolescentes, por serem ainda imaturos, podem ser mais cruéis, proporcionalmente do que os adultos e não avaliarem os estragos que produzem na vida dos colegas e amigos.  Cabe aos educadores, tanto na escola quanto em casa e nas instituições, combater a intolerância, trabalhar a necessidade do convívio com a diversidade e, sobretudo, combater os preconceitos, em todos os âmbitos possíveis.  Isso se faz com informação, trazendo o conhecimento onde há ignorância, desrespeito ou atitudes inconsequentes.  Supõe também um trabalho continuado com base no debate e na reflexão.  Afinal, educar é isso.  E a ênfase para o enfrentamento do problema passa necessariamente pela educação.  Não só dos estudantes, mas também dos educadores, pais, profissionais de saúde, agentes comunitários e policiais. 

O direito à integridade física e mental é um direito humano de todas as pessoas e o bullying é apenas um dos aspectos dessa questão maior que se refere ao convívio pacífico entre seres humanos que se respeitam.  E que, naturalmente, tem de começar a ser trabalhado desde muito cedo, quando a criança começa a se socializar.  Do contrário, será preciso correr atrás do prejuízo, depois.





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