sexta-feira, 30 de novembro de 2012

HOLY MOTORS


Antonio Carlos Egypto


HOLY MOTORS (Holy Motors)França, 2012.  Direção: Leos Carax.  Com Denis Lavant, Kilie Minogue, Eva Mendes, Michel Piccoli, Edith Scob.  115 min.


Um homem – o sr. Oscar (Denis Lavant) – é transportado pela noite de Paris numa limusine, tendo uma mulher como motorista e todos os recursos necessários para desempenhar o seu trabalho no interior do carro, tais como roupas, máscaras, perucas.  E se percebe, também, que ele tem uma programação a cumprir, que se espera que ele siga horários.  Não deve se atrasar para a tarefa seguinte.

E o que faz esse homem?  Viaja de uma vida a outra.  Tem um certo tempo, ora, para agir como industrial, ora, como um pai de família que vai buscar a sua filha numa festa, ora, como um assassino ou como um monstro que sai do esgoto, come flores e ataca as pessoas.  Esse último personagem é o mesmo do curta de Leos Carax, incluído no filme “Tokyo”, de 2009.

Viver muitas vidas simultaneamente, experimentando os sentimentos e os riscos inerentes a cada uma delas, pode ser algo muito estimulante.  Mas, enquanto um trabalho, está sujeito à rotina como toda e qualquer ocupação regular.  Falta até tempo para se alimentar.  Ou a variedade de experiências acaba por tirar-lhe o apetite.  A principal vantagem é que tudo pode ser reversível, até mesmo a morte.




Vemos também que a história de Oscar não é única.  Ao recolher, a limusine que o transportou estaciona ao lado de muitas outras e, quando não há mais humanos à vista, elas até trocam impressões, umas com as outras, sobre como foi a jornada que acabaram de viver.

O diretor Leos Carax gosta de trabalhar com personagens intrigantes, que surpreendem, que não se regem pelo realismo e, sim, pela alegoria.  Mas que provocam, fustigam, incomodam.  E deixam para o espectador concluir o que bem entender do que lhe foi mostrado.




Talvez justamente por estar distante dos parâmetros do cinema comercial, Carax filmou relativamente pouco, ao longo de sua carreira até aqui.  Mas é um diretor que tem talento para criar universos próprios, estranhos, algo incompreensíveis, por meio de seus personagens fora do comum e pelo clima noturno e soturno que geralmente os envolve. 

Seu principal trabalho anterior foi “Os Amantes de Point Neuf”, de 1991.  Lá, como aqui, é Paris à noite o cenário.  E é a cidade que, com sua beleza e suas luzes, acaba por fazer um contraponto ao espírito noir e à estética suja dos filmes do cineasta.  “Holy Motors” fez parte da seleção do Festival de Cannes 2012 e foi exibido no Festival do Rio 2012.


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