Antonio Carlos Egypto
HOLY MOTORS (Holy Motors). França, 2012. Direção: Leos Carax. Com Denis Lavant, Kilie Minogue, Eva Mendes, Michel Piccoli, Edith Scob. 115 min.
HOLY MOTORS (Holy Motors). França, 2012. Direção: Leos Carax. Com Denis Lavant, Kilie Minogue, Eva Mendes, Michel Piccoli, Edith Scob. 115 min.
Um homem – o sr. Oscar (Denis Lavant) – é
transportado pela noite de Paris numa limusine, tendo uma mulher como motorista
e todos os recursos necessários para desempenhar o seu trabalho no interior do
carro, tais como roupas, máscaras, perucas.
E se percebe, também, que ele tem uma programação a cumprir, que se
espera que ele siga horários. Não deve
se atrasar para a tarefa seguinte.
E o que faz esse homem? Viaja de uma vida a outra. Tem um certo tempo, ora, para agir como
industrial, ora, como um pai de família que vai buscar a sua filha numa festa,
ora, como um assassino ou como um monstro que sai do esgoto, come flores e
ataca as pessoas. Esse último personagem
é o mesmo do curta de Leos Carax, incluído no filme “Tokyo”, de 2009.
Viver muitas vidas simultaneamente, experimentando os
sentimentos e os riscos inerentes a cada uma delas, pode ser algo muito
estimulante. Mas, enquanto um trabalho,
está sujeito à rotina como toda e qualquer ocupação regular. Falta até tempo para se alimentar. Ou a variedade de experiências acaba por tirar-lhe
o apetite. A principal vantagem é que
tudo pode ser reversível, até mesmo a morte.
Vemos também que a história de Oscar não é
única. Ao recolher, a limusine que o
transportou estaciona ao lado de muitas outras e, quando não há mais humanos à
vista, elas até trocam impressões, umas com as outras, sobre como foi a jornada
que acabaram de viver.
O diretor Leos Carax gosta de trabalhar com
personagens intrigantes, que surpreendem, que não se regem pelo realismo e,
sim, pela alegoria. Mas que provocam,
fustigam, incomodam. E deixam para o
espectador concluir o que bem entender do que lhe foi mostrado.
Talvez justamente por estar distante dos parâmetros
do cinema comercial, Carax filmou relativamente pouco, ao longo de sua carreira
até aqui. Mas é um diretor que tem
talento para criar universos próprios, estranhos, algo incompreensíveis, por
meio de seus personagens fora do comum e pelo clima noturno e soturno que
geralmente os envolve.
Seu principal trabalho anterior foi “Os Amantes de
Point Neuf”, de 1991. Lá, como aqui, é
Paris à noite o cenário. E é a cidade
que, com sua beleza e suas luzes, acaba por fazer um contraponto ao espírito noir e à estética suja dos filmes do
cineasta. “Holy Motors” fez parte da
seleção do Festival de Cannes 2012 e foi exibido no Festival do Rio 2012.
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