sábado, 20 de outubro de 2012

TABU

                                      
Antonio Carlos Egypto

TABU.  Portugal, 2012.  Direção: Miguel Gomes.  Com Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira.  119 min.
“Tabu” é uma história contada em duas partes distintas.  Na primeira, vê-se o ocaso de uma senhora idosa, temperamental, que se comporta de modo estranho e faz referência a coisas incompreensíveis que remetem ao seu passado.  Convive com uma empregada caboverdiana, seca e lacônica, que ela crê que a persegue, e com uma vizinha dedicada a causas sociais.  Até que ficamos sabendo de um seu antigo amor, que será o narrador da segunda parte.  E aí o filme cresce, mostrando uma história de amor e traição, que nos leva à África e remete ao clássico do cinema mudo “Tabu”, de F. W. Murnau ,de 1930 .
A fotografia, em preto e branco, é esmerada e merece destaque.  Mas é o modo como Miguel Gomes conduz sua narrativa e inova ao filmar o que mais interessa no filme.  Há, por exemplo, cenas em que os personagens estão em ação e falando uns com os outros, mas os sons que ouvimos são apenas ruídos de casa ou uma pedra que cai na água.  Músicas modernas contrastam com o que se está vivendo em cena, encobrindo eventos da narrativa ou tornando-a francamente estranha e dissonante.  Mas o sentido não se perde, nem se confunde.  A lente da câmera recebe as gotas da chuva, o que transforma a imagem em algo irreal, que se dissolve em desejo ou sonho.


Um jacaré recém-nascido é um presente exótico dado à personagem Aurora (Murnau sendo lembrado outra vez) pelo marido.  Sua fuga e consequente procura nos revela a atração sexual e a traição.  Aliás, um jacaré sempre estará à espreita, com seus olhos arregalados.
Como se pode ver, é um filme especial.  Pode não agradar ao público em geral, mas deve interessar aos cinéfilos.  E a quem conseguir se despir de conceitos estabelecidos e se abrir à novidade.  Quem assistiu e gostou de “Aquele Querido Mês de Agosto”, o filme do diretor, de 2008, que foi um dos destaques da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo daquele ano, certamente vai curtir o novo filme de Miguel Gomes.  Quem não gostou, ou não gostou tanto, pode dar uma nova chance ao cineasta, agora.  Ele é daqueles talentos que o cinema mundial revela, de tempos em tempos, nos festivais, que tem tudo para permanecer.

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