sábado, 14 de maio de 2011

QUE MAIS POSSO QUERER

Antonio Carlos Egypto

QUE MAIS POSSO QUERER (Cosa Voglio Di Più). Itália, 2010. Direção: Silvio Soldini. Com Alba Rohrwacher, Pierfrancesco Favino, Giuseppe Battiston, Teresa Saponangelo. 126 min.


Ana (Alba Rohrwacher) e Domenico (Pierfrancesco Favino) vão se apaixonar, desejar-se intensa e mutuamente e viver divididos e em conflito neste “Que Mais Posso Querer”, muito bem dirigido por Silvio Soldini.

Ela é casada, vive muito bem com Alessio (Giuseppe Battiston), seu marido bonachão e sempre animado, e estão planejando ter filhos. A combinação é de que ela pare de tomar pílula anticoncepcional, para que isso aconteça. Quanto à situação financeira, eles são de classe média, o dinheiro não está sobrando, mas o essencial está garantido pelo trabalho de ambos.

Ele também é casado, com dois filhos pequenos e alguma dificuldade financeira. Sua mulher Miriam (Teresa Saponangelo) está sempre assoberbada de trabalho em casa, especialmente com as crianças. Mas ele se mostra um pai amoroso e parece se dar bem com a mulher, em que pesem as demandas do dia-a-dia complicarem um pouco as coisas.

Como Domenico e Ana poderão viver essa nova paixão e, ao mesmo tempo, manter seus respectivos casamentos? Fazer dessa paixão só sexo, sem interferir com a vida conjugal, será muito difícil e complicado. Até onde será possível inventar mentiras que “colem” e por quanto tempo? Não é uma trama original, convenhamos. Essa história vive acontecendo com muita gente em todos os lugares.

O interessante do filme de Silvio Soldini é que ele enfatiza o conflito dos dois personagens principais, filmando de um modo muito concreto e realista o que se passa com eles. Juntos, vivendo seu romance, ou separados, tentando segurar suas vidas anteriores. Há inúmeras cenas que mostram essas dificuldades de forma bem realista. Por exemplo, onde concretizar o ato sexual ardentemente desejado, se não pode ser na casa de nenhum dos dois e o dinheiro para o motel é escasso, além de faltar tempo para isso, também? Como Ana tem a chave e acesso ao escritório onde trabalha, por que não ir lá, à noite? Seria perfeito, se não fosse uma colega de trabalho ter a mesma ideia, no mesmo dia e hora, em busca de calma e paz. Em outra cena, um lugar escurinho para uma “rapidinha” resolveria o problema de momento, se não aparecessem trabalhadores, justo na hora H.

Um desentendimento momentâneo entre os amantes, na rua, pode ser presenciado por quem não devia; um cheiro que denuncia; uma desculpa pouco convincente, tudo isso faz parte do jogo e é difícil de manejar. Quem sabe, gastando um pouco mais de dinheiro, fique tudo mais fácil? Afastar-se um pouco, viajar, ir a motéis, mesmo sabendo que esse dinheiro vai fazer falta. Como se vê, tudo muito concreto e realista.

Outro aspecto importante a ressaltar: a ausência de qualquer tipo de julgamento moral. Não há a ideia de “traição”, em que um é sacaneado pelo outro. Não há bons e maus, vencedores ou perdedores. Há o conflito, o dilema moral que se coloca aos personagens e a indefinição da atitude a tomar diante dos fatos. Sem qualquer verdade pré-estabelecida ou moralismo.

Outra virtude do filme é justamente o suspense que ele consegue gerar com esta forma de narrar o que sucede, com as dúvidas de como agir. Prende o interesse o tempo todo, apesar de aparentemente estar contando uma história banal. A questão é que ela nunca será simples ou banal para quem a vive. E o que fazer em cada momento se torna muito importante, tanto para os personagens quanto para cada um de nós, na plateia.

Ótimo trabalho do cineasta italiano, que já nos deu filmes como “Pão e Tulipas”, em 2002, e “Ágata e a Tempestade”, em 2004, que quem não viu pode conferir em DVD. E vale a pena fazer isso.

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