quinta-feira, 19 de maio de 2011

SANTA PACIÊNCIA

Antonio Carlos Egypto

SANTA PACIÊNCIA (The Infidel). Inglaterra, 2010. Direção: Josh Appignanesi. Com Omid Djalili, Richard Schiff, Archie Panjabi, Matt Lucas. 105 min.


Na Inglaterra, muçulmanos e judeus convivem em harmonia, no mesmo espaço, respeitando-se mutuamente. Porém, há rivalidades, incompreensões, alguma estranheza de parte a parte e até rusgas ou intolerância por uma bobagem. Como o lugar certo para estacionar o carro, por exemplo.

“Santa Paciência”, ou O Infiel, no original, é uma comédia que brinca com as diferenças, procurando enfatizar a necessidade de respeitá-las. É engraçada e inteligente.

Mahmud (Omid Djalili), o protagonista, em quem toda a trama está centrada, é muçulmano, embora não praticante. Constitui família e, na medida do possível, segue os preceitos islâmicos, assim como sua mulher e filho. Quando esse filho resolve se apaixonar por uma moça que é filha de um dirigente fundamentalista islâmico, isso já provoca um certo alvoroço e alguma dificuldade. Mas o pior virá depois, quando, circunstancialmente, Mahmud descobre ter sido adotado, já ter tido um outro nome antes e sua origem remontar a uma família tradicional judaica. Agora, sim, é o que o mundo desaba e suas crenças e preconceitos terão de cair por terra.

O desenvolvimento da comédia britânica fará com que ela ouse brincar com hábitos, expressões, jeitos de ser, comidas, roupas e rituais religiosos das duas partes, produzindo um humor de inspiração multiculturalista.

Se o diferente não é o outro, mas eu mesmo, onde está e o que é essa diferença? Aquilo que soava estranho se torna familiar, o interlocutor que era uma espécie de adversário tem de se tornar amigo e cúmplice. De outra parte, olhar criticamente para o seu próprio lado e identificar equívocos, exageros, restrições sem sentido, também ajudam a viver melhor, com mais liberdade e alegria. Ou seja, todo mundo tem a ganhar com isso e não deveria haver mais lugar para fundamentalismos radicais no mundo de hoje. Haja vista que o ciclo Bin Laden acabou e a Al-Qaeda já estava em declínio antes mesmo de seu líder máximo ser apanhado.


A comédia “Santa Paciência” aparece nos cinemas na hora certa. Já é tempo de conviver em paz com a diversidade étnica, cultural, religiosa, social, sexual. A primavera dos países árabes também caminha nessa direção, por mudanças na economia, por melhores condições de vida e por democracia. A decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro, no sentido da total equiparação de direitos dos casais homossexuais aos casais tradicionais heterossexuais, também é um avanço importante nesse mesmo sentido.

Uma comédia que ri dos preconceitos e estereótipos e os combate é sempre bem-vinda e pode ajudar as pessoas a avançar na compreensão da realidade, sem exigir maior esforço. Elas vão ao cinema para se divertir e ganham algo mais, que não são a pipoca e o refrigerante. Esses itens darão lucro para a sala de cinema e aborrecerão os cinéfilos mais atentos ao que o filme tem a dizer.

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