sábado, 26 de março de 2011

FELIZ QUE MINHA MÃE ESTEJA VIVA

Antonio Carlos Egypto


FELIZ QUE MINHA MÃE ESTEJA VIVA (Je suis heureux que ma mère soit vivante). França, 2009. Direção: Claude e Nathan Miller. Com Vincent Rottiers, Sophie Cattani, Christine Citti e Yves Verhoeven. 90 min.

Thomas é um garoto adotado. O filme se centra nele e em seus comportamentos estranhos, inusitados. Passeando pelas diferentes etapas de sua vida, dos 7 aos 20 anos, indo e vindo no tempo, vamos conhecendo seu jeito arredio, desconfiado ou agressivo, de ser.


Seus pais adotivos são pouco mais do que um desastre, não devem ter tido acesso nem à psicologia de almanaque. O pai, principalmente, não tem o menor talento para o que se propõe. Sim, porque ele tem outro filho menor, ambos adotados, o que implica uma escolha. Por que terá adotado as crianças? O filme não dá qualquer explicação quanto a isso. Aliás, o filme não pretende dar explicação nenhuma. Mas a sua mise-en-scène e a montagem acabam, involuntariamente, chancelando uma ideia. Chegarei lá.

Bem, esse pai tão inábil acabará adoecendo muito antes de ficar velho, a ponto de não reconhecer a própria esposa e filhos, na etapa de Thomas jovem. A fita também não diz o que é essa doença e como se chegou a isso.

Thomas aos 20 anos (Vincent Rottiers) vai em busca de sua mãe biológica, Julie (Sophie Cattani), e o faz secretamente, estabelecendo com ela um relacionamento esquisito, que se parece a um namoro. Tanto que sua mãe adotiva imagina que se trate de uma namorada.

O que ele quer com Julie, que agora tem um filho pequeno e se separou do companheiro? O que vemos é ele se aproximar do menino como se fosse um pai e inventar histórias para ficar morando um tempo por lá. Até que, abruptamente... Não, eu não vou contar mais nada, para não estragar a surpresa de ninguém.

Se o nosso protagonista sempre mostra comportamentos estranhos, seus irmãos menores, tanto o de seus pais adotivos quanto o outro, filho de sua mãe, correspondem a padrões comportamentais absolutamente esperados e saudáveis. Fazem com ele um contraste evidente, em todas as cenas de que participam. É justo concluir, então, que o problema deve estar na questão da origem e da identidade.

A adoção é um problema potencial para quem não consegue se desligar das preocupações com a própria origem. Não resiste a pais despreparados ou disfuncionais, enquanto os demais se viram bem, mesmo nessas circunstâncias desfavoráveis. E a outra ideia do filme qual é? Os pais são os responsáveis e acabam tendo de reconhecer a culpa pelo que produziram.

É isso que os diretores do filme – pai e filho na vida real – queriam dizer? Não sei. A forma como filmam parece indicar que não. Mas é isso que acontece. Claro que cada espectador pode ver e concluir outras coisas, mas terá que passar por cima de cenas e falas marcantes demais para serem ignoradas. E, se ficarmos com essas teses, é inevitável concluir que a fita acaba sendo simplista e reducionista, apesar de sua modernidade narrativa.

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