sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

DESENROLA

                    Antonio Carlos Egypto



DESENROLA. Brasil, 2010. Direção: Rosane Svartman. Com Olívia Torres, Kayky Brito, Lucas Salles, Daniel Passi, Juliana Paiva. Participações especiais de Pedro Bial, Juliana Paes, Cláudia Ohana. 88 min.

A primeira vez, ou a virgindade das meninas na adolescência, sempre foi um tema palpitante e polêmico. Antigamente, porque era uma obrigação social e religiosa preservá-la até o casamento. E que dificuldade! Cabia à mulher não só controlar-se como controlar os rapazes. Esses, ávidos por sexo, buscando as brechas para conseguir o seu intento ou se valendo das prostitutas, que acabavam sendo as que garantiam a virgindade das moças. Isso ainda existe, mas hoje é posição minoritária. Mesmo porque a Aids, a partir dos anos 1980, mudou esse quadro.

De qualquer modo, as adolescentes imaginam, fantasiam, fazem planos para esse momento especial. Há muitas expectativas na cabeça delas. Como, onde, com quem será? E será que engravida? Tem de usar camisinha? E muitas questões mais.

“Desenrola” é uma comédia romântica, adolescente, centrada nesse tema e nos assuntos a ele relacionados, como o relacionamento com os meninos, a competição entre as amigas e a participação dos adultos na história.

Tudo começa quando Priscila (Olívia Torres), de 16 anos, tem a primeira experiência de ficar sozinha em casa, por vinte dias, em função de uma viagem da mãe. Será o período em que tudo acontecerá e a vida dela mudará. Pelo menos, no terreno amoroso e sexual. Mas a verdade é que, para os adolescentes, isso muda quase todo o resto.

Priscila buscará em Rafa (Kayky Brito) seu objeto de desejo, enquanto Boca (Lucas Salles) a deseja. Tize (Juliana Paiva), irmã de Rafa, funciona como facilitadora ou dificultadora da relação Priscila-Rafa e será, de um lado, rival, de outro, amiga e confidente. Caco (Daniel Passi) é o amigo algo misterioso, que está sempre com Priscila e não a vê como possível namorada.

A participação da música e do esporte nesse jogo de atração e desejo está lá. Assim como a preocupação com corpos sarados perpassa as artimanhas das conquistas. E a inevitável mentira dos meninos quanto ao sexo, como era de se esperar nos dias de hoje, acaba na Internet.

Outras coisas ficaram de fora, porque o filme está focado na sexualidade dos adolescentes. Mas a sensação que fica é justamente a de que falta algo. É uma geração saudável, que não se liga em droga, não abusa da bebida alcoólica, não é sacana, nem maldosa. Pelo menos, não além de certos limites toleráveis nessa faixa de idade.

Não que fosse necessário fazer uma trama pesada ou pessimista, a respeito dos jovens. Mas sabemos que as questões podem ser maiores ou mais complexas do que as que aqui são mostradas. O foco da trama talvez tenha se fechado mais do que deveria. Acabou dando uma sensação de artificialidade ao universo adolescente de uma certa classe média que tem na escola particular e na praia os seus principais pontos de encontro.

É um filme que possibilita a discussão com os adolescentes sobre a tal “primeira vez” e as diferenças entre os gêneros, o que já é interessante. É uma fita simpática e sem maiores pretensões. Ao tratar do momento enrolado da sexualidade adolescente com cuidado, acaba justificando o título um tanto estranho que escolheu para abordar o tema da virgindade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário