Antonio Carlos Egypto
O escritor Valter Hugo Mãe, também artista plástico e músico, foi um dos
principais destaques da Mostra 49. A
começar pelo belíssimo pôster que ele criou para a Mostra.
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| Valter Hugo Mãe |
Na programação cinematográfica, pude ver um belo documentário, de 81
minutos, concebido e dirigido por Miguel Gonçalves Mendes, que acompanhou
Valter durante cerca de 7 anos, em viagens pela Islândia, pelo Brasil, por
Portugal, pela Colômbia e até por Macau, China, DE LUGAR NENHUM. Esse documentário integra um projeto
ambicioso do cineasta, ‘O Sentido da Vida”, que incluiu “José e
Pilar” sobre Saramago.
Aqui, a questão da solidão, da alteridade como condição de vida, mas
também da liberdade, da perda e do pertencimento, dão uma dimensão da discussão
que se apresenta. A participação da
cartunista Laerte Coutinho, bem intensa no filme, faz um contraponto
fundamental para algumas dessas questões.
Valter Hugo Mãe, português, nascido em Angola, se mostra mesmo não só
como um homem que amplia a visão de seu tempo, mas como alguém que prescinde
dos limites geográficos da identidade. É
esse homem de lugar nenhum que vi no filme e pude acompanhar no seu encontro ao
vivo com o público, na Cinemateca, após a exibição do filme, ao lado do diretor
Miguel e da cartunista Laerte. Um papo delicioso, inteligente, informal,
profundo.
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Outro filme lançado na Mostra 49 foi O FILHO DE MIL HOMENS. É produção brasileira, dirigida, roteirizada
e, como ele mesmo diz, sonhada, de Daniel Rezende, a partir do romance homônimo
de Valter Hugo Mãe. Com uma linda
fotografia de Azul Serra e que contou com um elenco espetacular: Rodrigo
Santoro, Rebeca Janim, Johnny Massaro, Miguel Martines, Juliana Caldas, Grace
Passô, Tuna Dwek. Esse elenco foi de
uma competência incrível para viabilizar o clima diáfano e onírico da
narrativa. O que exigiu, por exemplo, de
Rodrigo Santoro largas cenas interagindo apenas com um boneco, com o mar, com
as pessoas, sem falar. Todos, dos
pequenos aos longos papéis, estão muito bem.
O “sotaque” de Grace Passô nem sempre é compreensível, mas como ele é a
razão de ser da personagem, tudo bem.
Em 128 minutos de filme, assistimos a uma bela poesia visual, marcada por
personagens intensos, diversos, surpreendentes e verdadeiros. Do homem solitário da caverna ao menino
abandonado, da anã que engravida ao filho trancado a chave no quarto, tudo ali
é um chamado à vida, ao afeto, ao reconhecimento do humano. A solidão como fio condutor, a tentativa de
compreender sem precisar nem falar. O
caminho da negação ao encontro. O filme
é um estímulo maravilhoso para quem se dispõe a ver, ouvir, perceber, com
tempo, aberto ao que existe no mundo, nas pessoas. É uma produção da Netflix, que deve ser
exibida nos cinemas após a Mostra.
@mostrasp
#49mostra




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