quarta-feira, 29 de outubro de 2025

VALTER HUGO MÃE NA MOSTRA 49

 

                          Antonio Carlos Egypto

 


O escritor Valter Hugo Mãe, também artista plástico e músico, foi um dos principais destaques da Mostra 49.  A começar pelo belíssimo pôster que ele criou para a Mostra. 

 

Valter Hugo Mãe

Na programação cinematográfica, pude ver um belo documentário, de 81 minutos, concebido e dirigido por Miguel Gonçalves Mendes, que acompanhou Valter durante cerca de 7 anos, em viagens pela Islândia, pelo Brasil, por Portugal, pela Colômbia e até por Macau, China, DE LUGAR NENHUM.  Esse documentário integra um projeto ambicioso do cineasta, ‘O Sentido da Vida”, que incluiu “José e Pilar” sobre Saramago.

 

Aqui, a questão da solidão, da alteridade como condição de vida, mas também da liberdade, da perda e do pertencimento, dão uma dimensão da discussão que se apresenta.  A participação da cartunista Laerte Coutinho, bem intensa no filme, faz um contraponto fundamental para algumas dessas questões. 

 

Valter Hugo Mãe, português, nascido em Angola, se mostra mesmo não só como um homem que amplia a visão de seu tempo, mas como alguém que prescinde dos limites geográficos da identidade.  É esse homem de lugar nenhum que vi no filme e pude acompanhar no seu encontro ao vivo com o público, na Cinemateca, após a exibição do filme, ao lado do diretor Miguel e da cartunista Laerte. Um papo delicioso, inteligente, informal, profundo.

 


Outro filme lançado na Mostra 49 foi O FILHO DE MIL HOMENS.  É produção brasileira, dirigida, roteirizada e, como ele mesmo diz, sonhada, de Daniel Rezende, a partir do romance homônimo de Valter Hugo Mãe.  Com uma linda fotografia de Azul Serra e que contou com um elenco espetacular: Rodrigo Santoro, Rebeca Janim, Johnny Massaro, Miguel Martines, Juliana Caldas, Grace Passô, Tuna Dwek.  Esse elenco foi de uma competência incrível para viabilizar o clima diáfano e onírico da narrativa.  O que exigiu, por exemplo, de Rodrigo Santoro largas cenas interagindo apenas com um boneco, com o mar, com as pessoas, sem falar.  Todos, dos pequenos aos longos papéis, estão muito bem.  O “sotaque” de Grace Passô nem sempre é compreensível, mas como ele é a razão de ser da personagem, tudo bem.

 


Em 128 minutos de filme, assistimos a uma bela poesia visual, marcada por personagens intensos, diversos, surpreendentes e verdadeiros.  Do homem solitário da caverna ao menino abandonado, da anã que engravida ao filho trancado a chave no quarto, tudo ali é um chamado à vida, ao afeto, ao reconhecimento do humano.  A solidão como fio condutor, a tentativa de compreender sem precisar nem falar.  O caminho da negação ao encontro.  O filme é um estímulo maravilhoso para quem se dispõe a ver, ouvir, perceber, com tempo, aberto ao que existe no mundo, nas pessoas.  É uma produção da Netflix, que deve ser exibida nos cinemas após a Mostra.

 

@mostrasp

#49mostra




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