
Renata de Almeida e Jafar Panahi
Jafar Panahi, o mais importante e premiado diretor de cinema do Irã na
atualidade, além de um grande artista, é um batalhador incansável, pela cultura
e pela liberdade. Foi agraciado na
Mostra 49 com o prêmio Humanidade e
aqui compareceu para receber a honraria e exibir FOI APENAS UM ACIDENTE,
o filme que levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2025. Recebê-lo aqui foi uma vitória da Mostra, que
há muitos anos tenta trazê-lo, inclusive lhe concedeu o prêmio Leon Cakoff em 2018.
A Mostra exibe seus filmes desde “O Balão Branco”, de 1995, passando por “O
Espelho”, de 1997, “O Círculo”, de 2000, “Ouro Carmim”, de 2003, “Fora do
Jogo”, de 2006, “Isto Não é Um Filme”, de 2011, “Cortinas Fechadas”, de 2013,
“Táxi Teerã”, de 2015, “3 Faces”, de 2018, até “Sem Ursos”, de 2022. Uma filmografia impecável, realizada por um
cineasta que foi muito perseguido e censurado no seu país, que impede que seus
filmes sejam lá exibidos e não permitia que ele viajasse ao exterior para
receber os prêmios que conquista nos festivais mais importantes do mundo. Impediu-o até de fazer filmes no Irã. Ele foi preso e condenado a 8 anos de cadeia
e foi libertado em 2023, após uma greve de fome. Pela primeira vez pôde vir ao Brasil, a São
Paulo, atendendo ao convite da Mostra.
O seu filme FOI APENAS UM ACIDENTE (Yek Tasadef Sadeh) é uma produção cinematográfica como sempre
modesta em recursos, mas absolutamente notável como criação. É um suspense permanente, que nunca se
resolve por completo, deixando o público na expectativa o tempo todo. A situação não pode ser revelada sem
prejudicar o aproveitamento do filme pelo público. O que dá para dizer é que ele mexe numa
ferida importante das sociedades que enveredam pelo caminho do autoritarismo,
ao abordar um caso de alguém sobre quem existe dúvida em relação à sua
identidade, mas não em relação aos atos abomináveis que cometeu. E então coloca-se um dilema moral, que se
desdobra em diferentes aspectos e exige decisões a cada passo, com
consequências importantes. Não dá para
perder uma cena sequer, tudo ali é essencial, ao longo de seus 102 minutos de
projeção. O elenco composto por Vadih
Mobasseri, Maryam Afshari, Ebrahim Azizi, Hadis Pakbaten, Majid Panahi, é muito
bom. Garante a tensão ao longo de toda a
narrativa, que passa da tranquilidade à exasperação e revela as mudanças de
humor que ocorrem ao longo da história, em que cabem ternura, solidariedade e
até doçura num tema tão desafiador. É
uma obra de mestre. Deve ser lançada nos
cinemas, oportunamente, pela Imovision.
@mostrasp
#49mostra


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