sexta-feira, 24 de outubro de 2025

DESTAQUES DA MOSTRA 49

Antonio Carlos Egypto



Jovens Mães


 
JOVENS MÃES, de Luc e Jean-Pierre Dardenne, aborda cinco adolescentes num abrigo para mães que acabaram de ter seus bebês.  Ou seja, a gravidez que foi a termo, a despeito dos muitos problemas vividos até que essa decisão se estabelecesse.  E se a gravidez na adolescência já é um enorme problema para a maior parte das que engravidam, o início da vida como mãe é algo bem complexo e dramático.  O cinema humanista dos irmãos Dardenne mostra sua força, ao tratar desse tema com realismo e evidenciando as emoções envolvidas em cada uma das personagens retratadas e as relações que estabelecem, tanto na sociedade, com as pessoas, como entre elas.  Mostra também a diversidade das situações.  Coloca questões familiares, de gênero, de saúde pública, de programas sociais governamentais e da sociedade civil, que tem muita importância nessa questão.  Bélgica/França, 105 min.  Tem previsão de chegar aos cinemas no início de janeiro de 2026.

 

PAI MÃE IRMÃ IRMÃO, produção Estados Unidos/Irlanda/França, dirigido pelo veterano e brilhante cineasta Jim Jarmusch, levou com muitos méritos o Leão de Ouro em Veneza.  O filme trata de relacionamento familiar, pais e filhos e irmãos, por meio de três histórias, uma nos Estados Unidos, outra, na Irlanda, em Dublin, e outra em Paris, na França.  Em comum, o clima estranho e irônico que Jarmusch imprime às situações.  Aqui, as coisas não fluem, o formalismo impede a espontaneidade, a sem-graceza toma conta dos relacionamentos familiares.  Tudo soa estranho, algo inesperado, falso, de aparências.  Muito curioso.  Mostra o diretor em plena forma, fiel a seu estilo.  Apoiado por um elenco espetacular: Tom Waits, Adam River, Charlote Rampling, Cate Blanchet, Mayin Bialik e outros.  Comédia muito inteligente e crítica.  110 min.


A História do Som

A HISTÓRIA DO SOM, produção Estados Unidos/Reino Unido/Itália, dirigido por Oliver Hermanus, nascido na África do Sul.  Em Boston, em 1917, Lionel e Davi, estudantes de música, se conhecem e, apaixonando-se pelas folksongs, percorrem os Estados Unidos registrando canções para serem reproduzidos no gramofone.  Essa longa viagem os aproxima muito e daí surge uma paixão também entre eles, para além da música.  Eles se separam ao final da viagem, tomando rumos distintos, mas o vínculo que construíram jamais morrerá.  O que construíram juntos pela história da música, também não.  Bela e cuidadosa produção, com boa música e uma dupla de protagonistas ótima: Paul Mescal e Josh O’Connor.  127 min.

 

MIRRORS No. 3, da Alemanha, dirigido por Christian Petzold, já bem conhecido dos cinéfilos por aqui, é um trabalho muito interessante.  Mostra uma estudante berlinense que sofre um acidente de carro com o namorado, no campo, e sobrevive milagrosamente.  Se ela já não estava bem, agora, então, está muito abalada, ainda que fisicamente praticamente ilesa.  As circunstâncias a levam a Betty, que a acolhe próxima ao local do acidente, onde mora, a mantém por lá e se afeiçoa por ela.  Marido e filho distantes se aproximam para um convívio em que os traumas de uma perda deixaram marcas e uma separação entre eles quase intransponível.  Do convívio entre desgraças, no entanto, algo de novo resultará, transformando todos e cada um, do jeito que for possível.  No final das contas, um filme muito realista, mas esperançoso também.  86 min.

 

URKIN, do Reino Unido, dirigido por Harris Dickinson, nos mostra o personagem Mike (Frank Dillane) como morador de rua, conseguindo um albergue por um tempo, na prisão, em alguns trabalhos na limpeza urbana ou na cozinha de um restaurante.  Ou, ainda, roubando de alguém que pretendia ajudá-lo.  O que fica evidente no filme é que o que vivemos depende de nossas escolhas e da resiliência necessária para viabilizá-las.  Claro que a ausência de recursos materiais ou educacionais influi muito, mas não é determinante para o insucesso.  No caso de Mike, ele é jovem, branco, sem nenhuma deficiência aparente e vive num país que lhe provê alguma ajuda na sobrevivência, seja pelo Estado, seja por entidades beneméritas.  Mas ele não consegue sair da situação em que está porque não sabe como agir, atua com destempero, sem pensar, sem planejar nada para sua vida (exceto sonhos vagos).  Assim, não consegue tirar proveito de nada e ainda estraga o que lhe concederam.  Se algo se apresenta, é preciso lutar por conquistar, senão nada muda. Ou melhor, piora.  O filme é bem construído, tem elementos visuais ricos, uma boa narrativa, que não conta uma história, mas explora bem um personagem.  Da competição Novos Diretores.  99 min.

 

Feliz Aniversário

FELIZ ANIVERSÁRIO, do Egito, dirigido por Sarah Goher, tem uma pegada social relevante.  Retrata uma menina na faixa de 8 ou 9 anos, Toha, que trabalha como empregada doméstica e batalha para que sua amiga Nelly, a filha da patroa, possa realizar sua festa de aniversário.  E ela própria possa, também, soprar a vela do bolo e realizar um desejo.  Nesse processo, o filme mostra, com toda a clareza, que uma coisa é ser filha da patroa e outra, ser filha da empregada.  A rejeição é patente na pobreza e de um consumismo tolo, na riqueza.  O trabalho infantil é tolerado e explorado, apesar da evidente ilegalidade.  O filme é muito eficiente em focar toda a sua trama na figura da menina pobre e na sua luta para estar na festa de aniversário, para a qual não foi convidada.  A menina protagonista, Doha Ramadã, é muito boa, muito expressiva.  91 min. Competição Novos Diretores.

 

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