Antonio Carlos Egypto

Jovens Mães
PAI MÃE IRMÃ IRMÃO, produção Estados
Unidos/Irlanda/França, dirigido pelo veterano e brilhante cineasta Jim
Jarmusch, levou com muitos méritos o Leão de Ouro em Veneza. O filme trata de relacionamento familiar,
pais e filhos e irmãos, por meio de três histórias, uma nos Estados Unidos,
outra, na Irlanda, em Dublin, e outra em Paris, na França. Em comum, o clima estranho e irônico que Jarmusch
imprime às situações. Aqui, as coisas
não fluem, o formalismo impede a espontaneidade, a sem-graceza toma conta dos
relacionamentos familiares. Tudo soa
estranho, algo inesperado, falso, de aparências. Muito curioso. Mostra o diretor em plena forma, fiel a seu
estilo. Apoiado por um elenco
espetacular: Tom Waits, Adam River, Charlote Rampling, Cate Blanchet, Mayin
Bialik e outros. Comédia muito
inteligente e crítica. 110 min.
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| A História do Som |
A HISTÓRIA DO SOM, produção Estados Unidos/Reino Unido/Itália, dirigido por Oliver Hermanus, nascido na África do Sul. Em Boston, em 1917, Lionel e Davi, estudantes de música, se conhecem e, apaixonando-se pelas folksongs, percorrem os Estados Unidos registrando canções para serem reproduzidos no gramofone. Essa longa viagem os aproxima muito e daí surge uma paixão também entre eles, para além da música. Eles se separam ao final da viagem, tomando rumos distintos, mas o vínculo que construíram jamais morrerá. O que construíram juntos pela história da música, também não. Bela e cuidadosa produção, com boa música e uma dupla de protagonistas ótima: Paul Mescal e Josh O’Connor. 127 min.
MIRRORS No. 3, da Alemanha, dirigido
por Christian Petzold, já bem conhecido dos cinéfilos por aqui, é um trabalho
muito interessante. Mostra uma estudante
berlinense que sofre um acidente de carro com o namorado, no campo, e sobrevive
milagrosamente. Se ela já não estava
bem, agora, então, está muito abalada, ainda que fisicamente praticamente
ilesa. As circunstâncias a levam a
Betty, que a acolhe próxima ao local do acidente, onde mora, a mantém por lá e
se afeiçoa por ela. Marido e filho
distantes se aproximam para um convívio em que os traumas de uma perda deixaram
marcas e uma separação entre eles quase intransponível. Do convívio entre desgraças, no entanto, algo
de novo resultará, transformando todos e cada um, do jeito que for
possível. No final das contas, um filme
muito realista, mas esperançoso também.
86 min.
URKIN, do Reino Unido,
dirigido por Harris Dickinson, nos mostra o personagem Mike (Frank Dillane)
como morador de rua, conseguindo um albergue por um tempo, na prisão, em alguns
trabalhos na limpeza urbana ou na cozinha de um restaurante. Ou, ainda, roubando de alguém que pretendia
ajudá-lo. O que fica evidente no filme é
que o que vivemos depende de nossas escolhas e da resiliência necessária para
viabilizá-las. Claro que a ausência de
recursos materiais ou educacionais influi muito, mas não é determinante para o
insucesso. No caso de Mike, ele é jovem,
branco, sem nenhuma deficiência aparente e vive num país que lhe provê alguma
ajuda na sobrevivência, seja pelo Estado, seja por entidades beneméritas. Mas ele não consegue sair da situação em que está
porque não sabe como agir, atua com destempero, sem pensar, sem planejar nada
para sua vida (exceto sonhos vagos).
Assim, não consegue tirar proveito de nada e ainda estraga o que lhe
concederam. Se algo se apresenta, é
preciso lutar por conquistar, senão nada muda. Ou melhor, piora. O filme é bem construído, tem elementos
visuais ricos, uma boa narrativa, que não conta uma história, mas explora bem
um personagem. Da competição Novos
Diretores. 99 min.
FELIZ ANIVERSÁRIO, do Egito, dirigido por
Sarah Goher, tem uma pegada social relevante.
Retrata uma menina na faixa de 8 ou 9 anos, Toha, que trabalha como
empregada doméstica e batalha para que sua amiga Nelly, a filha da patroa, possa
realizar sua festa de aniversário. E ela
própria possa, também, soprar a vela do bolo e realizar um desejo. Nesse processo, o filme mostra, com toda a
clareza, que uma coisa é ser filha da patroa e outra, ser filha da
empregada. A rejeição é patente na
pobreza e de um consumismo tolo, na riqueza.
O trabalho infantil é tolerado e explorado, apesar da evidente
ilegalidade. O filme é muito eficiente
em focar toda a sua trama na figura da menina pobre e na sua luta para estar na
festa de aniversário, para a qual não foi convidada. A menina protagonista, Doha Ramadã, é muito
boa, muito expressiva. 91 min.
Competição Novos Diretores.
@mostrasp
#49mostra


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