Antonio Carlos Egypto
SIRÂT. Espanha.
Direção: Oliver Lake. Elenco:
Sergi López, Bruno Nuñez, Stefania Gadda, Joshua Liam Henderson, Jade Oukid.
120 min.
“Sirât”,
o filme de abertura a 49ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é o
representante da Espanha na disputa do Oscar de melhor filme
internacional. É um road movie todo passado nos desertos do Marrocos e tem coprodução
francesa. O diretor Oliver Lake nasceu
na França, de uma família de imigrantes espanhóis.
“Sirât “ é um filme que comporta muitos adjetivos para
defini-lo. É impressionante, impactante,
doloroso emocionalmente, vibrante, desafiador, notável.
É um
filme que mexe com todo mundo, dá até para detestar, mas não dá para esquecer,
nem ficar indiferente. Reflete o mundo
em que vivemos, o clima de guerra que o define, o temor até de uma Terceira
Guerra Mundial. O ambiente explosivo em
que estamos todos envolvidos e também o desencanto e o desamparo. E, mais do que tudo isso, o filme nos mostra
que, definitivamente, não estamos no controle das coisas, nem das nossas
próprias vidas, nem de nós mesmos. O século
XXI seria uma espécie de “xeque-mate” do que já sabemos desde Darwin, Freud e
Marx. Claro, não dá para ser otimista
diante das circunstâncias. Mas
pessimismo inerte é derrota. É preciso agir, da forma que for possível.
Um pai e
um filho ainda pequeno que circulam por festas rave no deserto marroquino, em busca da filha e irmã que não veem
há dois meses, seguem um grupo de jovens errantes, espécie de hippies da atualidade. Eles tentam viver e dançar ao som das batidas
da música, que é puro ritmo, ao lado de centenas, milhares de integrantes
dessas festas, que já estão sendo coibidas pela polícia e podem ser as últimas explosões
de vida ainda permitidas. Dançar,
interagir, buscar uma saída lisérgica para suportar os fatos pode ser um
caminho para eles.
Um
caminho a que vai se somar a família que busca sua integrante que está
distante. Curtindo o mesmo vigor de
música e dança no deserto, pelo que se
sabe dela. Até onde se pode ir nesse
ambiente árido e inóspito, por caminhos quase intransitáveis, num mundo nada
protetor, em guerra e opressões diversas?
Uma
reflexão para lá de relevante, sem dúvida.
O filme também flerta com uma ideia mística. Se não temos o controle, estamos à mercê dos
desígnios de Deus. Pode ser visto assim,
mas simplifica muito as coisas. E tende
a levar à acomodação. E aí, será que tem
saída? Vamos ficar no clichê: a
esperança é a última que morre? De onde
ela virá? Dos povos, espero.
Um
destaque importante da Mostra 49, que inclui clássicos do cinema restaurados, é
QUEEN KELLY, dirigido por Erich von Stroheim, em 1929, com Gloria
Swanson como atriz principal e também produtora. A nova cópia e montagem do filme, que
permaneceu inacabado e já teve várias versões fragmentadas exibidas, procura
incorporar textos e imagens (fotos, por exemplo) do roteiro original do diretor,
que tinham sido censurados quando ele foi demitido. Vale a pena ver essa nova versão restaurada,
que acaba revelando, com a segunda parte, as razões de tanta polêmica e
desconforto com esse clássico do cinema norte-americano e seu celebrado e
destacado diretor austríaco Stroheim.
@mostrasp #49mostra
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