quinta-feira, 16 de outubro de 2025

SIRÂT e QUEEN KELLY

Antonio Carlos Egypto

 

 


SIRÂT.  Espanha.  Direção: Oliver Lake.  Elenco: Sergi López, Bruno Nuñez, Stefania Gadda, Joshua Liam Henderson, Jade Oukid. 120 min.

 

“Sirât”, o filme de abertura a 49ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é o representante da Espanha na disputa do Oscar de melhor filme internacional.  É um road movie todo passado nos desertos do Marrocos e tem coprodução francesa.  O diretor Oliver Lake nasceu na França, de uma família de imigrantes espanhóis.

 

“Sirât “ é um filme que comporta muitos adjetivos para defini-lo.  É impressionante, impactante, doloroso emocionalmente, vibrante, desafiador, notável.

 

É um filme que mexe com todo mundo, dá até para detestar, mas não dá para esquecer, nem ficar indiferente.  Reflete o mundo em que vivemos, o clima de guerra que o define, o temor até de uma Terceira Guerra Mundial.  O ambiente explosivo em que estamos todos envolvidos e também o desencanto e o desamparo.  E, mais do que tudo isso, o filme nos mostra que, definitivamente, não estamos no controle das coisas, nem das nossas próprias vidas, nem de nós mesmos.  O século XXI seria uma espécie de “xeque-mate” do que já sabemos desde Darwin, Freud e Marx.  Claro, não dá para ser otimista diante das circunstâncias.  Mas pessimismo inerte é derrota. É preciso agir, da forma que for possível.

 

Um pai e um filho ainda pequeno que circulam por festas rave no deserto marroquino, em busca da filha e irmã que não veem há dois meses, seguem um grupo de jovens errantes, espécie de hippies da atualidade.  Eles tentam viver e dançar ao som das batidas da música, que é puro ritmo, ao lado de centenas, milhares de integrantes dessas festas, que já estão sendo coibidas pela polícia e podem ser as últimas explosões de vida ainda permitidas.  Dançar, interagir, buscar uma saída lisérgica para suportar os fatos pode ser um caminho para eles.

 

Um caminho a que vai se somar a família que busca sua integrante que está distante.  Curtindo o mesmo vigor de música e dança no deserto, pelo que  se sabe dela.  Até onde se pode ir nesse ambiente árido e inóspito, por caminhos quase intransitáveis, num mundo nada protetor, em guerra e opressões diversas?

 

Uma reflexão para lá de relevante, sem dúvida.  O filme também flerta com uma ideia mística.  Se não temos o controle, estamos à mercê dos desígnios de Deus.  Pode ser visto assim, mas simplifica muito as coisas.  E tende a levar à acomodação.  E aí, será que tem saída?  Vamos ficar no clichê: a esperança é a última que morre?  De onde ela virá? Dos povos, espero.

 

 


Um destaque importante da Mostra 49, que inclui clássicos do cinema restaurados, é QUEEN KELLY, dirigido por Erich von Stroheim, em 1929, com Gloria Swanson como atriz principal e também produtora.  A nova cópia e montagem do filme, que permaneceu inacabado e já teve várias versões fragmentadas exibidas, procura incorporar textos e imagens (fotos, por exemplo) do roteiro original do diretor, que tinham sido censurados quando ele foi demitido.  Vale a pena ver essa nova versão restaurada, que acaba revelando, com a segunda parte, as razões de tanta polêmica e desconforto com esse clássico do cinema norte-americano e seu celebrado e destacado diretor austríaco Stroheim.  

                  

@mostrasp                #49mostra

 

 

 

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