Antonio Carlos Egypto
Já está em andamento a 20ª. Mostra Mundo Árabe de
Cinema, com 12 filmes inéditos e 6 produções marcantes, exibidas ao longo
desses anos. A Mostra acontece até o dia
19 de agosto no Cinesesc São Paulo e de 16 de agosto a 07 de setembro de 2025,
no Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB, São Paulo. Entre os 22 países representados no evento
estão Palestina, Líbano, Egito, Sudão, Catar, Tunísia, Síria, Argélia e Arábia
Saudita. O filme que abriu a Mostra, no
dia 13 de agosto no Cinesesc, foi “Tudo o Que Resta de Você”, que comento a
seguir.
TUDO O
QUE RESTA DE VOCÊ (All That’s Left
of You).
Palestina, 2025. Direção: Cherien
Dabis. Elenco: Cherien Dabis, Saleh
Bakri, Mohammad Bakri. 145 min.
O filme da diretora e atriz Cherien Dabis nos
mostra, por meio da história de uma família, o que tem sido a vida dos
palestinos, desde 1948, quando se estabeleceu o Estado de Israel, até o ano de
2020, em que um adolescente morto é levado em caixão pelas ruas da Cisjordânia
em mais um protesto palestino contra a
opressão a que estão sujeitos. O
adolescente Noor, que morreu baleado na cabeça, teve morte cerebral e chegou a
ter os seus órgãos doados, o que é discutido no filme de mais de um ponto de
vista, é revisitado em sua história. Ela
tem origem na situação de seu avô, sendo obrigado a um deslocamento forçado de
sua cidade natal, Jaffa, onde constituía família, tinha uma boa casa e um
laranjal. Passa pela perda de bens, da
mobilidade, do ir e vir, das restrições impostas pelos toques de recolher
arbitrários, pela humilhação que um pai acaba sofrendo diante de seu filho
pequeno, que o tinha como um herói. Tudo
isso explicando e antevendo aquele final trágico. O filme “Tudo O Que Resta de Você” é bastante
eficiente ao revelar a vida e os sentimentos dos palestinos no contexto em que
vivem e que se estende no tempo, cada vez mais agravados, como se vê nas
notícias dos dias de hoje. Assim como
mostra hábitos, costumes, valores que os identificam. No entanto, sua narrativa, por se alongar
demais, acaba produzindo picos de genuínas emoções, mas também de discussões
dispensáveis e até momentos tediosos. O
filme não mantém o ritmo ao longo do tempo.
Mas é um libelo, uma manifestação legítima e importante da questão
palestina que, mais do que em qualquer outro momento talvez, está em total
evidência.
Está em cartaz mais um filme que se destacou na 48ª.
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A PRISIONEIRA DE BORDEAUX (La
Prisionnière de Bordeaux), França, 2024, dirigido por Patricia
Mazuy, tem Isabelle Huppert como protagonista.
E mais uma vez em grande atuação, compartilhada com Hafsia Herzi. A história gira em torno de Alma e Mina, que
têm os respectivos maridos na prisão, e aproximam-se a partir do encontro delas
em dia de visita à cadeia. Elas pertencem a mundos muito distintos, do ponto de
vista econômico. Alma, esposa de um
médico famoso, vivendo sozinha num casarão sofisticado. Mina mora num modesto
conjunto habitacional, muito longe da prisão.
É a partir daí que Alma generosamente recebe Mina e seus filhos para
morarem com ela, pelo menos até que seu marido seja solto. O relacionamento que resulta dessa amizade
improvável traz novos elementos para todos e consequências que resultarão
complicadas, de parte a parte, com implicações policiais. Ou quase.
A história está bem desenvolvida.
O filme conquista atenção, tem bom ritmo, personagens consistentes e
levanta questões interessantes do convívio entre classes sociais, envolvendo
preconceitos, falsas expectativas e idealizações. 108 min.
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