sexta-feira, 15 de agosto de 2025

DE ÁRABE A BORDEAUX

Antonio Carlos Egypto

 



Já está em andamento a 20ª. Mostra Mundo Árabe de Cinema, com 12 filmes inéditos e 6 produções marcantes, exibidas ao longo desses anos.  A Mostra acontece até o dia 19 de agosto no Cinesesc São Paulo e de 16 de agosto a 07 de setembro de 2025, no Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB, São Paulo.  Entre os 22 países representados no evento estão Palestina, Líbano, Egito, Sudão, Catar, Tunísia, Síria, Argélia e Arábia Saudita.  O filme que abriu a Mostra, no dia 13 de agosto no Cinesesc, foi “Tudo o Que Resta de Você”, que comento a seguir.

 



TUDO O QUE RESTA DE VOCÊ (All That’s Left of You).  Palestina, 2025.  Direção: Cherien Dabis.  Elenco: Cherien Dabis, Saleh Bakri, Mohammad Bakri.  145 min.

O filme da diretora e atriz Cherien Dabis nos mostra, por meio da história de uma família, o que tem sido a vida dos palestinos, desde 1948, quando se estabeleceu o Estado de Israel, até o ano de 2020, em que um adolescente morto é levado em caixão pelas ruas da Cisjordânia em mais um protesto   palestino contra a opressão a que estão sujeitos.  O adolescente Noor, que morreu baleado na cabeça, teve morte cerebral e chegou a ter os seus órgãos doados, o que é discutido no filme de mais de um ponto de vista, é revisitado em sua história.  Ela tem origem na situação de seu avô, sendo obrigado a um deslocamento forçado de sua cidade natal, Jaffa, onde constituía família, tinha uma boa casa e um laranjal.  Passa pela perda de bens, da mobilidade, do ir e vir, das restrições impostas pelos toques de recolher arbitrários, pela humilhação que um pai acaba sofrendo diante de seu filho pequeno, que o tinha como um herói.  Tudo isso explicando e antevendo aquele final trágico.  O filme “Tudo O Que Resta de Você” é bastante eficiente ao revelar a vida e os sentimentos dos palestinos no contexto em que vivem e que se estende no tempo, cada vez mais agravados, como se vê nas notícias dos dias de hoje.  Assim como mostra hábitos, costumes, valores que os identificam.  No entanto, sua narrativa, por se alongar demais, acaba produzindo picos de genuínas emoções, mas também de discussões dispensáveis e até momentos tediosos.  O filme não mantém o ritmo ao longo do tempo.  Mas é um libelo, uma manifestação legítima e importante da questão palestina que, mais do que em qualquer outro momento talvez, está em total evidência.


 



Está em cartaz mais um filme que se destacou na 48ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A PRISIONEIRA DE BORDEAUX (La Prisionnière de Bordeaux), França, 2024, dirigido por Patricia Mazuy, tem Isabelle Huppert como protagonista.  E mais uma vez em grande atuação, compartilhada com Hafsia Herzi.  A história gira em torno de Alma e Mina, que têm os respectivos maridos na prisão, e aproximam-se a partir do encontro delas em dia de visita à cadeia. Elas pertencem a mundos muito distintos, do ponto de vista econômico.  Alma, esposa de um médico famoso, vivendo sozinha num casarão sofisticado. Mina mora num modesto conjunto habitacional, muito longe da prisão.  É a partir daí que Alma generosamente recebe Mina e seus filhos para morarem com ela, pelo menos até que seu marido seja solto.  O relacionamento que resulta dessa amizade improvável traz novos elementos para todos e consequências que resultarão complicadas, de parte a parte, com implicações policiais.  Ou quase.  A história está bem desenvolvida.  O filme conquista atenção, tem bom ritmo, personagens consistentes e levanta questões interessantes do convívio entre classes sociais, envolvendo preconceitos, falsas expectativas e idealizações.  108 min.

 

 

 

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