quarta-feira, 13 de agosto de 2025

CINEMA NACIONAL

Antonio Carlos Egypto 


Os Enforcados

Em OS ENFORCADOS, Brasil 2024, caracterizado como um thriller tragicômico, absolutamente tudo pode acontecer e as coisas mudam a todo instante.  O que parecia solução vira grande problema.  O que era parceria vira inimizade, o que era apoio vira traição e assim por diante.  Uma trama como essa torna o filme imprevisível.  Se você adora ser surpreendido ou surpreendida, vai gostar muito.  Mas até que isso começar a lhe cansar, não é não?  O ambiente onde se passam essas reviravoltas todas é o Rio de Janeiro dominado pelo jogo do bicho, pelas milícias, pelo tráfico de drogas.  O filme destila essa violência toda sem cerimônia.  Na verdade, a banaliza e o sangue corre solto.  Claro, há uma denúncia política, uma discussão sobre a corrupção e a criminalidade das elites econômicas do Brasil.  Mais um alerta, do ponto a que conseguimos chegar. Certo.  Porém, essa crítica se vale do mesmo recurso de exposição da violência que denuncia.  O trabalho do diretor Fernando Coimbra, de “O Lobo Atrás da Porta”, de 2014, seu longa de estreia muito valorizado pela crítica, reafirma sua busca pela criatividade e inovação.  O elenco é, outra vez, um grande destaque.  Os protagonistas Leandra Leal e Irandhir Santos são grandes atores e a participação de Irene Ravache e de Stepan Nercessian, com seus contornos humorísticos incluídos, valorizam o fluir da narrativa.  123 min.

 


NO CÉU DA PÁTRIA NESSE INSTANTE, documentário nacional, de Sandra Kogut, filmado em 2022 e 2023, acompanhou no Rio de Janeiro o processo eleitoral brasileiro, ao lado de militantes da campanha de Marcelo Freixo, do PT e de familiares e de grupos de bolsonaristas, de camisa amarela.  Além deles, mostra o trabalho da Justiça Eleitoral e dos envolvidos no processo, como mesários, presidentes de mesa, escrutinadores e os voluntários que atuam nas eleições.  Isso tudo, visto no micro, no dia a dia dessas pessoas, as virtudes da democracia parecem muito claras.  A divisão do país, também.  A polarização sempre existiu, mas nunca foi tão intensa.  E coexistem visões do país opostas e irreconciliáveis.  A vitória e a posse de Lula, seguidas das contestações que resultaram nos episódios violentos do 08 de janeiro de 2023, completando a tentativa de golpe de Estado perpetrada, também estão lá, mas sem a riqueza de detalhes da primeira parte.  De qualquer modo, é um mergulho na história bem recente do Brasil, que tem mesmo de ser lembrada e discutida.  Aliás, os reflexos disso tudo estão diariamente nos noticiários da atualidade.  Não é passado, é presente.  105 min.

 

Um Lobo Entre Os Cisnes 

UM LOBO ENTRE OS CISNES, Brasil, 2025, ainda está em cartaz nas sessões Vitrine que, em todas as salas de cinema, como sempre, têm preço reduzido: R$20,00 o ingresso, R$10,00 a meia.  Conta a trajetória do bailarino Thiago Soares, do hip-hop da periferia aos píncaros do Royal Ballet de Londres.  Os diretores Marcos Shechtman e Helena Varvaki enfatizam o processo de lapidação do jovem diamante, bem despreparado no sentido comportamental, de educação e trato para o alcance do estrelato.  Também não deixam de enfatizar sua heterossexualidade, em meio às expectativas e julgamentos sobre a masculinidade dos bailarinos.  No elenco, Matheus Abreu faz Thiago e o grande ator argentino Darío Grandinetti faz Dino Carrera, o seu mentor e disciplinador cubano.  112 min.

 


Vale lembrar também o documentário, de 2025, CAZUZA – BOAS NOVAS, dirigido por Nilo Romero, situado no período mais intenso, criativo e crítico, do grande cantor e compositor Cazuza, que foi um dos primeiros artistas a se revelar como portador do vírus da Aids, nos anos 1980.  Depoimentos de pessoas que conviveram muito de perto com ele, como Frejat, Léo Jaime, Ney Matogrosso, Gilberto Gil e sua mãe, Lucinha Araújo, ao lado de sua música forte e empolgante, resultam num belo trabalho cinematográfico, apesar de muitas das gravações de época serem de baixa resolução, feitas em VHS, por exemplo.  91 min. 





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