segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

RETRATO DE UM CERTO ORIENTE

Antonio Carlos Egypto

 

RETRATO DE UM CERTO ORIENTE.  Brasil, 2024.  Direção: Marcelo Gomes.  Elenco: Wafa’a Celine Halawi, Charbel Kamel, Zaharia Kaakovr.  93 min.

 


“Retrato de Um Certo Oriente” é um filme do diretor Marcelo Gomes, que já nos deu o ótimo “Cinema, Aspirinas e Urubus”, em 2006.  Desta vez, ele realiza uma adaptação cinematográfica do romance de Milton Hatoum “Relato de um Certo Oriente”.  Em comum, nos dois filmes, as diferenças culturais que se destacam quando se está longe da própria terra, sem perspectivas de retorno a curto prazo.  Então, será preciso mesclar realidades, como o estilo de vida amazônico, emoldurado e de certo modo comandado pela grande floresta, e as tradições árabes.

 

Um casal de irmãos libaneses deixa seu país, fugindo da guerra, em 1949, em direção ao distante e desconhecido Brasil.  Na saga dessa viagem, além do mistério e do medo, há o movimento de apaixonar-se, o ciúme, as diferenças religiosas, católicos versus muçulmano, a perspectiva de morte, mas também a de uma nova vida.

 

Os personagens centrais, os irmãos Emilie e Emir, assim como o comerciante muçulmano Omar, objeto do amor de Emilie, são vividos por atores e atriz libaneses, o que acrescenta autenticidade à trama narrada.

 

A fotografia em preto e branco remete ao passado, às memórias, à aura misteriosa, e também às diferenças de luz entre a floresta amazônica e o Oriente Médio, segundo o diretor.

 


As sequências, em que em enquadramentos belíssimos se usa o recurso de desfocar elementos da trama ou da paisagem, contribuem para nos levar a um outro contexto de experiência, mistura de realidade e sonho, vivência, desejo e fantasia.  O que nos aproxima dos personagens que buscamos conhecer, porque distintos do nosso cotidiano.  E assim superar preconceitos.

 

Segundo novamente palavras do diretor Marcelo Gomes: “Acredito que a única maneira de desconstruir preconceitos é ver o mundo através dos olhos dos outros.  Eu ousaria dizer que este é, talvez, o único antídoto para combater o fanatismo”.   E o cinema, um meio, um recurso, para nos levar a essa compreensão.

 

“Retrato de um Certo Oriente” é um filme de imagens belas, de sensibilidade aguçada, de oportunidade de curtir a passagem do tempo sem aflição, de grandes sentimentos que se expressam com vigor, mas com ternura.  É de um humanismo evidente, que merece ser acolhido.  Está fazendo falta.





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