Antonio Carlos Egypto
OS
SONHOS DE PEPE (Los Sueños de Pepe). Uruguai, 2024. Direção: Pablo Trobo. Documentário.
86 min.
José
(Pepe) Mujica, ex-presidente do Uruguai, 89 anos, é uma liderança global das
mais importantes na atualidade. Suas
palavras calam fundo em todas as partes do mundo, já que são simples, profundas
e honestas. E tratam do que importa e do
que incomoda o mundo. É um estadista
global, mas não parece um político.
Descarta os símbolos do poder e suas representações.
O que
dizer de um presidente que, no exercício do cargo, se utiliza de um Fusca
antigo para se locomover até sua casa, uma chácara na zona rural, nos arredores
de Montevidéo?
Seu
périplo pelo mundo combate o modelo predatório de desenvolvimento capitalista à
base do consumo e da acumulação. Alerta
para os grandes problemas ambientais que podem inviabilizar um planeta melhor
para as gerações futuras.
Ex-guerrilheiro
Tupamaro, que ficou 12 anos na prisão, tornou-se um paladino da democracia e da
justiça social. Na presidência do Uruguai, de 2010 a 2015, o país avançou na
igualdade de gênero, na legislação sobre o aborto, no casamento entre pessoas
do mesmo sexo e na legalização da maconha, que visava a combater o narcotráfico
e dar segurança aos consumidores, mesmo reconhecendo o malefício desse consumo.
Seu
modo tranquilo e afetivo de se relacionar com as pessoas encanta por toda
parte. No caso do documentário “Os
Sonhos de Pepe”, de Pablo Trobo, que o acompanhou por muitas viagens,
destacou-se o Japão, entre tantos países visitados na Europa e nas Américas, e
um discurso importante na ONU.
Enfim,
o registro de um incansável comunicador, que fala sobre a felicidade humana e a
crença num mundo melhor de forma concreta, como a luta social que ele nunca
relegou. Sua mulher, que o acompanha nas
viagens e é senadora, quando perguntada sobre sua atuação, recorda a todos que
o que ela é e sempre foi é lutadora social, no Senado ou fora dele.
Pepe
Mujica, sua figura rara e norteadora para todos nós, está nesse documentário
com sua sabedoria e generosidade tão evidentes, estabelecendo um contraste com
tão poucas lideranças mundiais do seu porte nos dias atuais.
Um
comentário dele que me chamou a atenção.
Ao dizer que é preciso evitar a acumulação e ficar com o que é
essencial, ele se lembrou de sua experiência de guerrilheiro, aprendendo que
cada coisa que se leva na mochila a mais tira a mobilidade, impede de correr e
sobreviver. Ou, em frase mais elaborada,
“eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve, vivo com apenas o suficiente
para que as coisas não roubem minha liberdade”.
CANAL 100
A
Cinemateca Brasileira está em grande atividade em sua sede, no largo Senador
Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, São Paulo, sob a direção geral de Maria
Doura Mourão, direção técnica de Gabriela Queiroz e uma equipe muito
dedicada. Lança agora o “Projeto Canal
100”, de recuperação, catalogação e digitalização do acerto adquirido pela
Cinemateca em 2011. As crises por que
passou a instituição inviabilizaram o trabalho que agora é assumido,
contabilizando muitas perdas, mas com muito empenho em recuperar tudo o que for
possível, mesmo que em fragmentos. O
Canal 100 foi um cinejornal inovador, de Carlos Niemeyer, narrado por Cid
Moreira e Corrêa Araújo, que existiu de 1959 a 1986, exibido semanalmente no
circuito cinematográfico do país.
Renovou o tratamento dos fatos sociais, culturais e esportivos de sua
época, com destaque para o futebol, tratado como um grande épico do
cinema. “Que bonito é a torcida
delirando, vendo a rede balançar...”, cantava a música que marcava a cobertura
esportiva. Que bonito era ver como as
câmeras faziam do futebol uma das coisas mais empolgantes do mundo. O Canal 100 vai voltar a nos encantar, graças
a esse projeto da Cinemateca, digno de todos os aplausos e apoios.
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