Antonio Carlos Egypto
A
ÚLTIMA SESSÃO (Chhello Show). Índia, 2021.
Direção e roteiro: Pan Nalin.
Elenco: Bhavin Rabari, Bhavesh Shrimali, Richa Meena, Dipen Raval. 110 min.
Quem
ama o cinema não deve perder o filme indiano que está em cartaz (em São Paulo,
no Cinesesc), “A Última Sessão”.
No
interior da Índia, num local em que o trem faz apenas uma parada, o que permite
aos moradores a venda de chá e/ou biscoitos, Samay, um menino de 9 anos,
casualmente descobre o cinema na única vez em que seus pais vão à cidade mais
próxima ver um filme religioso. Fora
disso, ver filmes é um pecado a ser evitado.
Mas
como eu sei muito bem, por experiência própria, uma sessão de cinema nos
conquista desde a primeira vez. Aquilo é
mágico, especialmente num tempo e num local onde a exposição à imagem não era
uma coisa habitual. Hoje já se nasce
mergulhado nas imagens, mas nem por isso o cinema deixa de encantar.
O fato
é que Samay, ao ver aquela luz projetada, que era capaz de contar histórias,
decide que quer aprender a fazer filmes, sem ter nem ideia de como essa mágica
acontece. Mas disposto a tudo, para
conseguir seu intento. Como diz o pôster do filme: Quando você não tem nada,
nada pode pará-lo.
A
partir daí, “A Última Sessão” vai mostrando todo o processo do fazer
cinematográfico, por meio das descobertas do menino, que conta com a ajuda de
uma turminha de amigos.
Samay
se vale da culinária espetacular da Índia, que sua mãe domina, para ver os
filmes da cabine do projetista, no pequeno cinema da cidade próxima, aprontando
tudo para estar lá, escapando do controle familiar. Assim, descobre aos poucos como histórias
viram luz, luz vira filmes, filmes viram sonhos.
É
fascinante acompanhar passo a passo uma espécie de reconstrução da criação
cinematográfica, a partir das experiências criativas de Samay. Além disso, há o
culto à própria sala de cinema, que receberá o carinho de seus adoradores
mirins.
No
entanto, o cinema em película já vivia seu declínio. Enquanto o menino e sua turma amavam o
celuloide, guardado como verdadeiro tesouro, o cinema digital chegava, abalando
toda a estrutura conhecida, destruindo as latas, os rolos dos filmes e o próprio
projetor. “A Última Sessão” registra
poeticamente essa terrível mudança (na visão de Samay, claro), que transforma
fitas em adereços ornamentais femininos.
O mundo do cinema se transforma aos olhos atentos do menino e aos nossos
olhos, como espectadores. A magia
permanece e permanecerá.
O
filme, que representou a Índia na disputa pelo Oscar de filme internacional,
pode ser considerado, pelo menos em parte, autobiográfico. O diretor e roteirista Pan Nalin se tornou
cineasta de forma autodidata e já tem uma vasta obra e prêmios que dão o
reconhecimento devido a seu trabalho. O
seu filme mais famoso é “Samsara”, de 2001.
Aqui, a história que ele conta é a do próprio cinema, reafirmando a
ideia de que o futuro pertence aos contadores de histórias, seja qual for a
forma de contá-las por imagens.
Você me fez lembrar de um filme americano. Inclusive li o.livro correspondente, de mesmo nome. Sua explanação me deu vontade de ver o filme atual, talvez tenham algo em comum. Obrigada.
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