Antonio Carlos Egypto
O
QUARTO AO LADO (The Room Next Door). Espanha,
Estados Unidos, 2024. Direção: Pedro
Almodóvar. Elenco: Tilda Swinton,
Julianne Moore, John Turturro, Alessandro Nivola. 107 min.
“O
Quarto ao Lado” é o primeiro longa-metragem de Pedro Almodóvar falado em
inglês. A ação se passa em Nova York,
com duas atrizes extraordinárias na língua inglesa: a britânica Tilda Swinton e
a norte-americana Julianne Moore. No
cartaz do filme a gente encontra a informação de que ele é escrito e dirigido
por Almodóvar. No entanto, ele é baseado
na obra literária de Sigrid Nunez.
Trata-se, portanto, de um roteiro adaptado. É que sabemos que o cineasta espanhol
retrabalha o texto original e o torna almodovariano, como já fez outras vezes.
O que
vemos em “O Quarto ao Lado” é uma reflexão sobre os caminhos da vida e da
morte. Um trabalho feito com
profundidade, delicadeza, afeto, e, por que não esperança? O tema é nada menos do que a eutanásia, que
pode ser entendida como um direito humano fundamental, mas geralmente é tratada
como crime. E o suicídio costuma ser
visto de modo intolerável pelas religiões.
Isso aparece claramente no filme, mas não é o ponto principal.
A
questão central é o que se passa entre duas mulheres jornalistas, muito amigas
e que se conhecem muito bem: Martha (Tilda Swinton) e Ingrid (Julianne
Moore). Distanciaram-se por um tempo, em
função das circunstâncias de seus trabalhos, mas no reencontro a química e a
cumplicidade entre elas se reestabelece quase que instantaneamente.
Só que
Martha, agora, sofre com uma doença incurável que lhe traz dores terríveis e
que motivou sua difícil decisão de querer partir. Mas ela precisa de ajuda, tentou junto a
outras amigas que rejeitaram o pedido e não considera sequer solicitar isso à
sua filha, de quem se mantém distante.
Ingrid, no entanto, a entende, a aceita, tem empatia profunda com
ela. Nem por isso a decisão é
fácil. Aliás, todo o processo é muito
difícil, embora tudo seja mostrado com beleza, com sutileza, sem excessos ou
arroubos. Na medida certa dos
sentimentos que são expressos com precisão em cada gesto, tom de voz, postura
ou silêncio. Vivemos com elas, como
espectadores, todas as nuances dessa história, com extrema sensibilidade. Reconhecemos ali pessoas verdadeiras se
relacionando.
O
ambiente é mais do que bonito, é requintado.
A morte pode se dar com humanidade e com conforto. É uma aspiração legítima. Possível em alguns casos. Sempre pressupõe condição econômica para isso,
o que não invalida a aspiração.
Acompanhamos
com interesse “O Quarto ao Lado” do começo ao fim, já que o filme exala
humanidade, enfatiza a cumplicidade e a amizade, sem nunca esquecer os
conflitos, os medos, as indecisões, as dificuldades todas que envolvem o viver,
o morrer e a perda.
A
música de Alberto Iglesias, colaborador habitual de Almodóvar, dá ênfase às
emoções que estão subjacentes à atuação das atrizes.
Almodóvar
declarou que teve muita sorte ao poder contar com as duas grandes atrizes, que
deram um show no filme. Sorte é fruto de
trabalho, empenho, busca criteriosa de soluções, abertura para o que vem. Nesse caso, pode-se dizer que Pedro Almodóvar
costuma ter muita sorte nos seus filmes.
Que começam pelas ideias em profusão que saem do seu imaginário de
autor.
“O
Quarto ao Lado” foi aplaudido no Festival de Veneza 2024 por 17 minutos e
venceu o Leão de Ouro, o prêmio maior do Festival.
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