Antonio Carlos Egypto
GRAND
TOUR. Portugal, Itália, França,
2024. Diretor e corroteirista: Miguel
Gomes. Elenco: Crista Alfaiate, Gonçalo
Waddington, Cláudio da Silva, Lang-Khê Tran.
129 min.
“Grand
Tour” é um filme que impressiona por qualquer ângulo que o observarmos. É uma grande aventura que nos leva ao mundo
do Oriente, no pós-guerra, 1918. Parte
de Rangum, na Birmânia, onde supostamente Edward e Molly vão se casar, após
sete anos de noivado sem se encontrarem.
Edward, que é funcionário do Império Britânico, que nem se lembra dela
com clareza, foge do compromisso e passa a viajar sem rumo, ao sabor das
circunstâncias. Mas interage em cada
cidade que passa com os elementos culturais locais. E olha que ele vai
percorrer, além de Rangum, Bangcock, Saigon, no Vietnã, e chegará ao Japão e à
China.
Toda
essa carreira oriental dá margem para que o filme faça magníficas tomadas de cena, enquadramentos sofisticados,
e capte a realidade local em alguns elementos definidores ou de ocasião. A fotografia, em esplêndido preto e branco,
alternando com cores, é deslumbrante. A
música, tanto a oriental quanto a ocidental, com valsas de Strauss, My Way, La
Mer e outras, preenche a tela, nos deliciando.
É puro prazer acompanhar o desenrolar do filme, que quase não tem
história.
Para
voltar a ela, enquanto Edward se perde pelo mundo oriental e foge do casamento,
Molly, partindo de Londres e logo de Rangum, o persegue o tempo todo, o que
caracteriza toda uma segunda parte da saga, em que não se sabe bem o que
esperar dos eventos que vão surgindo. O
fato é que, à procura de resgatar o noivo, ela encontra outro homem, que a pede
em casamento. Os percalços da viagem,
tanto dela quanto dele, tornam impraticável um encontro entre ela e
Edward. Por exemplo, ambos adoecem e
flertam com a morte, em momentos distintos.
A cada
passo, descobrimos novos elementos que vão fazendo sentido e, ao mesmo tempo,
nos surpreendendo. É uma narrativa para
lá de envolvente, que nos acolhe. Tanto
quanto Edward se insere com facilidade em diferentes contextos. E Molly, com seu jeito decidido e engraçado,
também é muito bem recebida e manda e desmanda por aí. É a colonização se
expressando? Os conflitos existem, mas
são administráveis. Ou melhor, nem
sempre.
O
filme é lindo, uma viagem maravilhosa, só que é preciso deixar fluir, sem se
preocupar com a história, com o que vai dar.
Tudo vai aparecer a seu tempo. E
o que interessa é o caminho, o que se desvenda pelo caminhar. Dispostos a tudo, como os personagens.
O
filme do diretor português Miguel Gomes é uma pérola cinematográfica. Eu só o assisti no último dia oficial da
Mostra, em sessão noturna. Ou seja, bem
ao final. E foi aí que eu descobri o
melhor filme dessa 48ª. Mostra, na minha opinião. Eu já conhecia e admirava esse diretor, mas
aqui ele se superou. Contou com uma
produção internacional de peso, também.
“Grand Tour” não aparece entre os vencedores, mas espero que apareça, e
logo, nos nossos cinemas (tem distribuição Mubi). Não é a toda hora que se pode apreciar um
filme assim.
@mostrasp #mostrasp
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