sexta-feira, 1 de novembro de 2024

GRAND TOUR NA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 


GRAND TOUR.  Portugal, Itália, França, 2024.  Diretor e corroteirista: Miguel Gomes.  Elenco: Crista Alfaiate, Gonçalo Waddington, Cláudio da Silva, Lang-Khê Tran.  129 min.

 

“Grand Tour” é um filme que impressiona por qualquer ângulo que o observarmos.  É uma grande aventura que nos leva ao mundo do Oriente, no pós-guerra, 1918.  Parte de Rangum, na Birmânia, onde supostamente Edward e Molly vão se casar, após sete anos de noivado sem se encontrarem.  Edward, que é funcionário do Império Britânico, que nem se lembra dela com clareza, foge do compromisso e passa a viajar sem rumo, ao sabor das circunstâncias.  Mas interage em cada cidade que passa com os elementos culturais locais. E olha que ele vai percorrer, além de Rangum, Bangcock, Saigon, no Vietnã, e chegará ao Japão e à China.

 

Toda essa carreira oriental dá margem para que o filme faça magníficas  tomadas de cena, enquadramentos sofisticados, e capte a realidade local em alguns elementos definidores ou de ocasião.  A fotografia, em esplêndido preto e branco, alternando com cores, é deslumbrante.  A música, tanto a oriental quanto a ocidental, com valsas de Strauss, My Way, La Mer e outras, preenche a tela, nos deliciando.  É puro prazer acompanhar o desenrolar do filme, que quase não tem história.

 

Para voltar a ela, enquanto Edward se perde pelo mundo oriental e foge do casamento, Molly, partindo de Londres e logo de Rangum, o persegue o tempo todo, o que caracteriza toda uma segunda parte da saga, em que não se sabe bem o que esperar dos eventos que vão surgindo.  O fato é que, à procura de resgatar o noivo, ela encontra outro homem, que a pede em casamento.  Os percalços da viagem, tanto dela quanto dele, tornam impraticável um encontro entre ela e Edward.  Por exemplo, ambos adoecem e flertam com a morte, em momentos distintos.

 


A cada passo, descobrimos novos elementos que vão fazendo sentido e, ao mesmo tempo, nos surpreendendo.  É uma narrativa para lá de envolvente, que nos acolhe.  Tanto quanto Edward se insere com facilidade em diferentes contextos.  E Molly, com seu jeito decidido e engraçado, também é muito bem recebida e manda e desmanda por aí. É a colonização se expressando?  Os conflitos existem, mas são administráveis.  Ou melhor, nem sempre. 

 

O filme é lindo, uma viagem maravilhosa, só que é preciso deixar fluir, sem se preocupar com a história, com o que vai dar.  Tudo vai aparecer a seu tempo.  E o que interessa é o caminho, o que se desvenda pelo caminhar.  Dispostos a tudo, como os personagens.

 

O filme do diretor português Miguel Gomes é uma pérola cinematográfica.  Eu só o assisti no último dia oficial da Mostra, em sessão noturna.  Ou seja, bem ao final.  E foi aí que eu descobri o melhor filme dessa 48ª. Mostra, na minha opinião.  Eu já conhecia e admirava esse diretor, mas aqui ele se superou.  Contou com uma produção internacional de peso, também.  “Grand Tour” não aparece entre os vencedores, mas espero que apareça, e logo, nos nossos cinemas (tem distribuição Mubi).  Não é a toda hora que se pode apreciar um filme assim.

 

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