quarta-feira, 21 de agosto de 2024

MOTEL DESTINO

Antonio Carlos Egypto

 


MOTEL DESTINO.  Brasil, 2024.  Direção: Karim Aïnouz.  Elenco: Iago Xavier, Nataly Rocha, Fábio Assunção.  115 min.

 

O diretor Karim Aïnouz, brasileiro, cearense, é um dos nossos mais importantes cineastas, com reconhecimento internacional e uma obra sólida e farta.  Basta citar alguns de seus filmes para evidenciar isso: “Madame Satã”, 2000; “Praia do Futuro, 2016; “A Vida Invisível”, 2019; “Marinheiro das Montanhas”, 2023.  Outro de seus filmes é “O Céu de Suely”, de 2006, realizado inteiramente no Ceará.  Pois, após 16 anos de carreira internacional, Karim volta a filmar no seu Ceará natal “Motel Destino”.  E se diz feliz com isso.

 

Segundo suas palavras: “Depois de tantos anos longe do Brasil, ainda mais tempo longe do Ceará, colocar esse filme no mundo é, para mim, uma felicidade imensa.  Os últimos anos foram muito difíceis, em que sobrevivemos a uma pandemia e a um governo fascita.  ‘Motel Destino’ é uma ode ao desejo como motor da vida”.  Colocar o filme no mundo, como ele diz, não é exagero.  O filme concorreu em Cannes e conta com coprodução da Alemanha, da França e do Reino Unido.

 


O curioso é que a volta à terra natal, embora explore também a beleza praiana e os espaços abertos, concentra-se num espaço fechado: o do motel de beira de estrada do litoral cearense.  Aqui se desenvolvem os jogos perigosos de desejo, poder e violência, que incluem o casal de proprietários/administradores do local.  Ele, Elias (Fábio Assunção), ela, Dyana (Nataly Rocha).  Nesse universo fechado eles vivem um casamento tóxico, em que Dyana está presa numa situação abusiva.


Tudo começa a mudar quando um jovem da periferia, perseguido pela polícia, aparece e se esconde, trabalhando por lá.  Heraldo (Iago Xavier), como uma espécie de sedutor/desagregador, similar ao de “Teorema”, de Pier Paolo Pasolini.  E toda uma trama policial e de suspense se estabelece.  O filme é, na realidade, um thriller erótico. Se as cenas eróticas se sobressaem, o confinamento no motel nos remete ao lockdown dos tempos recentes da pandemia de Covid19. 

 


A concentração das ações no espaço fechado do motel potencializa o drama e as reações dos personagens da trama.  É um filme que tem ritmo, ação, e que flui muito bem nesse contexto claustrofóbico e de prazer.  O que é um grande mérito do diretor e também do elenco.  A concentração do espaço parece tê-los ajudado a se aprofundar em seus personagens e no convívio entre eles. 

 

Destaque para o jovem cearense Iago Xavier, que atua como veterano, com muita força em cena.  Do mesmo modo, a atriz, cearense também, Nataly Rocha tem grande presença e força dramática na narrativa.  Quem aparentemente encontraria mais dificuldade nessa história cearense seria Fábio Assunção, ator muito conhecido no Sudeste. Ele se complicou mesmo com algumas expressões do linguajar local, segundo seu próprio depoimento, mas está perfeitamente integrado em seu papel e no relacionamento com seus parceiros de cena, também com ótima atuação.

 

As vantagens de uma filmagem restrita a um local assim determinado são a otimização do tempo, a redução do custo e a abertura de muitas possibilidades de situações.  Um filme coral num motel pode ser uma boa ideia ou, possivelmente, uma ampliação ou continuidade dessa história.  Não estou propondo nenhum Motel Destino 2, até porque não sou entusiasta dessas ondas comerciais de continuação.  Mas nas mãos de Karim Aïnouz, quem sabe, pudesse sair muita coisa boa. Estou-me referindo a isso porque o próprio diretor expressou a satisfação que sentiu e a vontade de, talvez, fazer mais, já que encontrou um caminho muito favorável.  Veremos, então.

 

 

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