quinta-feira, 9 de maio de 2024

EM CARTAZ NO CINEMA

                                

 Antonio Carlos Egypto

 



RIVAIS (Challengers).  Itália, Estados Unidos, 2024.  Direção: Luca Guadagnino.  Elenco: Zendaya, Mike Faist, Josh O’Connor.  131 min.

 

“Rivais” tem personagens que vivem no mundo do tênis, relacionam-se com o mundo do tênis, conversam sobre o tênis, que invade suas vidas amorosas, expectativas e, em última análise, determina a existência.  São três protagonistas: Tashi (Zendaya) e seus dois pretendentes, Patrick Sweig (Josh O’Connor) e Art Donaldson (Mike Faist).  Forma-se um triângulo em que todos se relacionam com todos e onde estão envolvidos amor e ódio, competição, disputa pelo poder e capacidade de manipulação de cada um sobre os outros.  Um embate representado pela disputa do tênis entre os dois rapazes, que dura anos, ensejará ao vencedor a conquista da mulher amada.  Flash backs sobre o que acontece ao longo dos anos em que os três se conhecem, desde a adolescência, e os dois homens, desde a infância, vão entrando na narrativa. As informações sobre o tempo, que são inseridas, mais atrapalham do que ajudam o que seria a compreensão linear das relações, que vão se alterando significativamente.  Não é uma partida de tênis, como se pode ver na TV, mas excertos que destacam esforços dos corpos, nos saques, nos impulsos, no suor, ao bater as bolinhas, no quebrar de raquetes.  E os sons correspondentes se impõem fortemente em cada sequência.  A música intensa e ritmada entra para marcar o nível de expectativa, do suspense, do que pode ou está para acontecer. O filme tem muita tensão e muito ritmo e vai construindo sua trama até desembocar num final moderno e surpreendente, que resolve a questão da competição e do desejo.  O roteiro vai dando elementos ao longo da trama do que se revelará ao final, mas o suspense continua fortemente no ar.  O diretor italiano Luca Guadagnino já nos deu pelo menos dois belos filmes: “Um Sonho de Amor”, em 2010, e “Me Chame Pelo Seu Nome”, em 2017.  Esses dois filmes têm críticas publicadas aqui no cinema com recheio, quando de seus lançamentos no cinema. 

 



LA CHIMERA. Itália, 2023.  Direção: Alice Rohrwacher.  Elenco: Josh O’Connor, Carol Duarte, Vincenzo Nemolato, Isabella Rosselini.  130 min.

 

O que são as quimeras?  Aquelas eternas buscas daquilo que nunca se consegue encontrar ou realizar.  Com base nisso é que a diretora Alice Rohrwacher armou uma narrativa curiosa, misteriosa e inteligente, cheia de elementos tão belos quanto provocativos.  As quimeras podem ser expectativas de encontrar objetos arqueológicos maravilhosos, cheios de significado religioso no passado, encontrando-os por mecanismos primitivos, como os que indicam onde pode haver água.  E se aí estiverem enterrados esses tesouros?  Se, indo atrás de quem efetivamente tem poder de encontrar essas coisas, pode vir dinheiro fácil e a riqueza, outra quimera.  Ou, ainda, esperando os que cavam e encontram tesouros para roubar-lhes e auferir grande lucro com turistas.  Mas a quimera também pode ser a busca da mulher perdida ou da pessoa que já se foi e não volta mais.  Ou que nem viva está.  Enfim, cada um tem sua quimera e vai seguir em sua busca, essa parece ser a sina de todos.  Um filme que nos leva por veredas estranhas, desconhecidas, mas estimulantes.  Em que não é preciso nem necessário entender tudo o que se passa ou o que pode significar.  Cinema é mistério, fantasia, beleza, provocação, reflexão e revelação.  “La Chimera” oferece tudo isso.  Destaques para a brasileira Carol Duarte e para o ator inglês Josh O’Connor, de “Rivais”, que é também protagonista de “La Chimera”.  Carreira em alta, em bom cinema.  Nada mal. 

 



HERE.  Bélgica, 2023. Direção: Bas Devos.  Elenco: Stefan Gota. Liyo Gong, Teodor Corban. 83 min.

“Here” é um filme belo, que explora os detalhes da natureza, em ritmo lento, de fruição, de contemplação.  É aí que ele chega, mas não é daí que ele parte.  Stefan, um imigrante romeno, trabalha em Bruxelas com construção civil e convive no complexo urbano, com seus ritmos e problemas.  Quando sai de férias, esvazia a geladeira, aproveita os produtos e faz sopa, para presentear as pessoas próximas e procura a natureza para relaxar.  Não só descobre a placidez da natureza, como mergulha no que ela tem de menor, mas atraente, ao conhecer uma jovem oriental que ele encontrará novamente, ao acaso, debruçada, observando musgos.  Descobre, então, que ela é brióloga, ou seja, estudiosa das briófitas, assunto de sua tese de doutorado.  A busca de beleza e de vida nas pequenas coisas parece ser o que o filme belga de Bas Devos quer nos mostrar.  Descobertas minúsculas podem ensejar importantes novidades.  Esse é o fio de um filme para apreciar sem pressa, enquanto o tempo passa, e, quem sabe, nos abre outras possibilidades que não estamos enxergando porque não nos debruçamos sobre elas.  Se você gosta de apreciar belas imagens, sobretudo da natureza, e se deleita com enquadramentos sofisticados, como quem vai apreciar um quadro, esse filme é para você.  Se essa não é bem a sua praia, por que não experimentar?  Nunca se sabe.



 

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