RIVAIS
(Challengers). Itália, Estados Unidos, 2024. Direção: Luca Guadagnino. Elenco: Zendaya, Mike Faist, Josh
O’Connor. 131 min.
“Rivais”
tem personagens que vivem no mundo do tênis, relacionam-se com o mundo do
tênis, conversam sobre o tênis, que invade suas vidas amorosas, expectativas e,
em última análise, determina a existência.
São três protagonistas: Tashi (Zendaya) e seus dois pretendentes,
Patrick Sweig (Josh O’Connor) e Art Donaldson (Mike Faist). Forma-se um triângulo em que todos se
relacionam com todos e onde estão envolvidos amor e ódio, competição, disputa
pelo poder e capacidade de manipulação de cada um sobre os outros. Um embate representado pela disputa do tênis
entre os dois rapazes, que dura anos, ensejará ao vencedor a conquista da
mulher amada. Flash backs sobre o que acontece ao longo dos anos em que os três
se conhecem, desde a adolescência, e os dois homens, desde a infância, vão
entrando na narrativa. As informações sobre o tempo, que são inseridas, mais
atrapalham do que ajudam o que seria a compreensão linear das relações, que vão
se alterando significativamente. Não é
uma partida de tênis, como se pode ver na TV, mas excertos que destacam
esforços dos corpos, nos saques, nos impulsos, no suor, ao bater as bolinhas,
no quebrar de raquetes. E os sons correspondentes
se impõem fortemente em cada sequência.
A música intensa e ritmada entra para marcar o nível de expectativa, do
suspense, do que pode ou está para acontecer. O filme tem muita tensão e muito
ritmo e vai construindo sua trama até desembocar num final moderno e
surpreendente, que resolve a questão da competição e do desejo. O roteiro vai dando elementos ao longo da
trama do que se revelará ao final, mas o suspense continua fortemente no ar. O diretor italiano Luca Guadagnino já nos deu
pelo menos dois belos filmes: “Um Sonho de Amor”, em 2010, e “Me Chame Pelo Seu
Nome”, em 2017. Esses dois filmes têm
críticas publicadas aqui no cinema com
recheio, quando de seus lançamentos no cinema.
LA
CHIMERA. Itália, 2023. Direção: Alice
Rohrwacher. Elenco: Josh O’Connor, Carol
Duarte, Vincenzo Nemolato, Isabella Rosselini.
130 min.
O que
são as quimeras? Aquelas eternas buscas
daquilo que nunca se consegue encontrar ou realizar. Com base nisso é que a diretora Alice
Rohrwacher armou uma narrativa curiosa, misteriosa e inteligente, cheia de
elementos tão belos quanto provocativos.
As quimeras podem ser expectativas de encontrar objetos arqueológicos
maravilhosos, cheios de significado religioso no passado, encontrando-os por
mecanismos primitivos, como os que indicam onde pode haver água. E se aí estiverem enterrados esses
tesouros? Se, indo atrás de quem
efetivamente tem poder de encontrar essas coisas, pode vir dinheiro fácil e a
riqueza, outra quimera. Ou, ainda,
esperando os que cavam e encontram tesouros para roubar-lhes e auferir grande
lucro com turistas. Mas a quimera também
pode ser a busca da mulher perdida ou da pessoa que já se foi e não volta
mais. Ou que nem viva está. Enfim, cada um tem sua quimera e vai seguir
em sua busca, essa parece ser a sina de todos.
Um filme que nos leva por veredas estranhas, desconhecidas, mas
estimulantes. Em que não é preciso nem
necessário entender tudo o que se passa ou o que pode significar. Cinema é mistério, fantasia, beleza,
provocação, reflexão e revelação. “La
Chimera” oferece tudo isso. Destaques
para a brasileira Carol Duarte e para o ator inglês Josh O’Connor, de “Rivais”,
que é também protagonista de “La Chimera”.
Carreira em alta, em bom cinema.
Nada mal.
HERE. Bélgica, 2023. Direção: Bas Devos. Elenco: Stefan Gota. Liyo Gong, Teodor
Corban. 83 min.
“Here”
é um filme belo, que explora os detalhes da natureza, em ritmo lento, de
fruição, de contemplação. É aí que ele
chega, mas não é daí que ele parte.
Stefan, um imigrante romeno, trabalha em Bruxelas com construção civil e
convive no complexo urbano, com seus ritmos e problemas. Quando sai de férias, esvazia a geladeira,
aproveita os produtos e faz sopa, para presentear as pessoas próximas e procura
a natureza para relaxar. Não só descobre
a placidez da natureza, como mergulha no que ela tem de menor, mas atraente, ao
conhecer uma jovem oriental que ele encontrará novamente, ao acaso, debruçada,
observando musgos. Descobre, então, que
ela é brióloga, ou seja, estudiosa das briófitas, assunto de sua tese de
doutorado. A busca de beleza e de vida
nas pequenas coisas parece ser o que o filme belga de Bas Devos quer nos
mostrar. Descobertas minúsculas podem
ensejar importantes novidades. Esse é o
fio de um filme para apreciar sem pressa, enquanto o tempo passa, e, quem sabe,
nos abre outras possibilidades que não estamos enxergando porque não nos
debruçamos sobre elas. Se você gosta de
apreciar belas imagens, sobretudo da natureza, e se deleita com enquadramentos
sofisticados, como quem vai apreciar um quadro, esse filme é para você. Se essa não é bem a sua praia, por que não
experimentar? Nunca se sabe.
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