UM DIA
NOSSOS SEGREDOS SERÃO REVELADOS (Ingendwann
werden wir uns alles erzeblen).
Alemanha, 2023. Direção: Emily
Atef. Elenco: Marlene Burow, Felix
Kramer, Cedric Eich. 130 min.
Adaptação
cinematográfica do romance da escritora alemã Daniela Krien, corroteirista do
filme da cineasta germânica Emily Atef, “Um Dia Nossos Segredos Serão
Revelados”, se situa no ano de 1990, último verão antes da reunificação da
Alemanha, logo após a queda do muro de Berlim.
O ambiente onde se dá a ação faz parte da região rural da Alemanha,
então, Oriental. Esse, no entanto, é somente
o pano de fundo de uma história que se centra na paixão desmedida da jovem
Maria (Marlene Burow), de 19 anos, por um cidadão muito mais velho, Henner
(Felix Kramer), de 40 anos, um homem que vive isolado em uma casa antiga e
rústica, desconsiderado pela comunidade.
Maria
vive numa fazenda (coletiva?) com a família de seu jovem namorado Johannes
(Cedric Eich). Ele nutre evidente paixão
por ela, enquanto busca sua realização pessoal e profissional por meio da
fotografia. A agora assegurada liberdade
de ir e vir entre as até então duas Alemanhas permite que ele adquira uma ótima
máquina fotográfica, comprada no Ocidente.
E essa máquina terá um papel importante na história de amor, lembrando
“Blow Up”, de Michelangelo Antonioni.
Maria
é uma bela e atraente mulher jovem, desejada pelos dois homens, mas que não
decide o seu rumo, ou o faz pelo impulso do momento. O filme enfatiza fortemente a nudez, o
erotismo e as cenas de sexo com Henner, que vão da agressividade e violência à
ternura e ao desamparo. Ela aceita e
reforça o sentimento por ele, mantendo-se aparentemente controlada, sem
expressar o turbilhão que viveria internamente.
A interpretação de Marlene Burow é sutil, mostra em pequenas expressões
a satisfação ou o tormento que a invadem.
A
própria literatura se insinua na trama pelos livros que Maria lê e cita, como Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, e
essa citação está no filme: “Algum dia todos nós ressuscitaremos, nos
reencontraremos e nos contaremos tudo um ao outro”. Recados poéticos são trocados entre os
amantes sempre em busca do reencontro, improvável, complicado, mas sempre
possível. Essa literatura se revela
muito mais importante do que a educação formal.
Maria lê muito, mas falta às aulas, não se interessa pela escola.
Quando
falta decisão, ou ela se dá tardiamente, o destino ou o acaso resolverão a
questão, inevitavelmente.
O
filme de Emily Atef, centrado no desejo feminino e explorando a sexualidade
carnal desse desejo, coloca em segundo plano a masculinidade, seja ela tóxica,
brutal, ou afetiva e respeitadora. É a mulher
que comanda o jogo, mesmo que, por vezes, pareça não se dar conta disso.
FIQUE ATENTO
Também
está em cartaz o recém-lançado documentário brasileiro “Veríssimo”, dirigido
por Angelo Defanti. 90 min. Luís Fernando Veríssimo é acompanhado no
período que marca a comemoração dos 80 anos de idade daquele que é um dos mais
brilhantes cronistas do nosso tempo. Mas
que também é discreto, pacato e de poucas palavras.
A
sessão Vitrine Petrobras, a preços reduzidos, está exibindo o clássico
brasileiro restaurado “A Hora da Estrela”, de 1985, dirigido por Suzana Amaral,
com base na obra de Clarice Lispector, que destacou Marcela Cartaxo no papel de
Macabéa. É uma ótima oportunidade de ver
esse belo filme na telona.
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