Antonio Carlos Egypto
ZONA
DE EXCLUSÃO (Zielona Granica). Polônia, 2023. Direção: Agnieszka Holland. Elenco: Jalal Altawil, Maja Ostaszewska, Behi
Djanati Atai, Tomasz Wlosok. 147 min.
O
título em português do filme de Agnieszka Holland, “Zona de Exclusão”, parece
abrangente o suficiente para tratar de uma questão que se torna cada vez mais
grave na Europa e em todo o mundo: a imigração dos refugiados de guerra, da fome
e de perseguições políticas e religiosas.
As fronteiras são verdadeiras zonas de exclusão, como é o caso da que
fica entre Belarus e a Polônia, em que uma família de refugiados sírios, uma
senhora e um professor do Afeganistão são jogados de um lado para o outro da
fronteira porque ninguém os quer. Isso
após terem chegado de avião a Belarus, com um esquema aparentemente montado
para passar a viver na Polônia. Foram
vítimas de uma fraude.
Ativistas
trabalham para ajudar os refugiados que ficam acampados nas florestas, expostos
a tudo, sem saber como agir. Há
efetivamente uma zona de exclusão máxima, por onde eles teriam de passar para
alcançar seus destinos. Lá eles não podem
receber qualquer tipo de ajuda e estão sujeitos à morte, com grandes possibilidades
de isso ocorrer. Quem se arrisca nessa
zona joga no tudo ou nada. E os
ativistas que se aventurarem também arriscam sua liberdade e a própria vida.
Esse
grupo de refugiados que veio da Síria encontra apoio de uma psicóloga ativista,
que mora perto da fronteira, e de seus colegas. Enfrenta a polícia de fronteira
em que até um jovem guarda começa a perceber o absurdo daquela perseguição
toda.
A
situação alcança uma dramaticidade visceral na narrativa em preto e branco
adotada pelo filme. Ela parece nos dizer
que um tenebroso passado continua intacto por aí. E que alguns valem mais do que outros na
escala da humanidade. Enquanto a Polônia
repele as vítimas da guerra na Síria, acolhe os ucranianos que fogem da guerra
com a Rússia. Não há racionalidade
possível diante da violência dos Estados e diante do absurdo maior que é a
própria guerra, qualquer guerra.
Assistir
à longa duração de “Zona de Exclusão” é se dispor a viver a tragédia da imigração
“ilegal” nos nossos dias, passo por passo.
Sofrimento administrado em doses homeopáticas, a maior parte do
tempo. Em momentos ultradramáticos, não,
a câmera se agita loucamente e nos arrasta para a tragédia.
Um
filme tenso, bem construído, com um bom roteiro e um elenco empenhado, tratando
de uma questão muito importante e muito grave da atualidade.
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Gostaria,
ainda, de lembrar dois outros filmes que estão em cartaz, que merecem atenção.
20000 ESPÉCIES DE ABELHAS, o
filme espanhol de 2023 da diretora Estibaliz Urresola Solaguren, pode parecer,
mas não é documentário. É um drama sobre
uma criança trans, mostrado com bastante sutileza, delicadeza e respeito aos
sentimentos humanos, em meio a abelhas, colmeias, rainhas e uma feminilidade
que esse expressa de diferentes formas e estilos. Destaque para a atriz mirim Sofia Otero. 125
min.
O
filme francês, de 2023, TUDO OU NADA,
da diretora Delphine Deloget, no original Rien
à Perdre (Nada a Perder), aborda uma questão bem relevante, a atuação do
Estado em relação à vida privada. Quando o Serviço Social Público atua para
proteger uma criança de acidentes domésticos, acaba agindo de forma
autoritária, impositiva, burocrática e insensível em relação aos afetos. Provoca uma reação visceral e justa de uma
mãe determinada a vencer uma dura batalha judicial, apesar de suas
limitações. Destaque para a atuação de
Virginie Efira. 112 min.
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