“O
documentário é menos um gênero (subproduto) do cinema, do que algo como uma
megalópole cinematográfica, onde vários gêneros e linguagens do filme convivem
e interagem”.
A
citação acima é do documentarista irlandês Mark Cousins, que tem uma retrospectiva
em exibição no festival É TUDO VERDADE 2024, em que ele atua também como membro
do júri oficial da competição.
O
trabalho dele como documentarista é original, muito criativo, revela um grande
amor ao cinema e tem uma estética admirável, destacando a beleza como elemento
constitutivo essencial da sua obra.
EU SOU BELFAST, de
2015, faz uma representação visual e poética da cidade que ele ama e onde viveu
muitos anos, mas personificada por uma mulher idosa, que viveu e experimentou a
história daquela bela cidade irlandesa, papel vivido por Helena Bereen. Um filme para curtir uma beleza incrível,
encantadora. 84 minutos.
Em
seus documentários, Mark Cousins explora as várias facetas da história do
cinema e de seus realizadores. Em dois
filmes dessa retrospectiva estão OS
OLHOS DE ORSON WELLES (2018) e MEU
NOME É ALFRED HITCHCOCK (2022). A
obra cinematográfica de Orson Welles (1915-1985) é esmiuçada e tecida ao mesmo
tempo em que se destaca o trabalho de desenhista do cineasta. Seu pincel e seu traço mostram um retrato do
universo visual do realizador em perfeita sintonia com seu cinema. 115 minutos.
A obra de Alfred Hitchcock (1899-1980) também é esmiuçada em seus temas
e técnicas de forma bem ampla, em avaliação crítica aprofundada. Mas isso tudo é feito na primeira pessoa,
pela voz de Hitchcock, que procura refletir sobre o seu legado, relacionando-o
com os dias de hoje (sic). 120 minutos.
Em A HISTÓRIA DO OLHAR (2021), ele faz uma
exploração visual do olhar, que vai nos envolvendo, nos convencendo do que o
olhar pode nos dar, dependendo do momento, do ângulo, do sentimento, da
luz. O ponto de partida é o fato de que
o cineasta estava às vésperas de uma cirurgia oftalmológica de catarata e
mostra que, o que nos pode faltar, nos leva a um apelo ainda maior àquilo. 90 minutos.
Em MARCHA SOBRE ROMA, produção italiana de
Mark Cousins de 2022, materiais de arquivo, alguns bem raros, são trabalhados
para mostrar a ascensão de Mussolini e do fascismo, a partir daquela famosa
marcha que completava 100 anos. Foi o
elemento detonador de uma corrente política que até que durou pouco na Itália,
mas jamais deixou de assustar o mundo e gerou uma extrema direita que se
fortalece nos tempos atuais. E o filme
vai além, faz relações da história com outros países e no momento atual. Outro aspecto importante do documentário é
que ele mostra como a marcha sobre Roma foi manipulada e editada para poder
alcançar o resultado que produziu. 98
minutos.
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